quarta-feira, 30 de abril de 2008

Mário Cezariny, sem título (Linha de água).


Quando penso que vou ter agora quatro dias para fazer absolutamente nada fico com a sensação de que tenho umas grandes férias à minha frente, tempo largo.
Sinto-me uma esbanjadora de tempo, de ócio, como se estes pequenos quatro dias fossem durar uma pequena eternidade.
Estou com aquela sensação de ter pela frente muito tempo livre, assim como quem tem realmente muito e a sensação de poder dar e vender sem nunca se acabar, e não saber muito bem o que lhe fazer… e é uma sensação boa, muito boa mesmo. Bom feriado.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Artur Bual, 94.

Bom, agora que já falei pelos cotovelos, por longos dias, deixo-vos apenas e só com poesia…

Uma certa quantidade de gente à procura

de gente à procura duma certa quantidade

Soma:
uma paisagem extremamente à procura
o problema da luz (adrede ligado ao problema da vergonha)
e o problema do quarto-atelier-avião

Entretanto
e justamente quando
já não eram precisos
apareceram os poetas à procura
e a querer multiplicar tudo por dez
má raça que eles têm
ou muito inteligentes ou muito estúpidos
pois uma e outra coisa eles são
Jesus Aristóteles Platão
abrem o mapa:
dói aqui
dói acolá

E resulta que também estes andavam à procura
duma certa quantidade de gente
que saía à procura mas por outras bandas
bandas que por seu turno também procuravam imenso
um jeito certo de andar à procura deles
visto todos buscarem quem andasse
incautamente por ali a procurar

Que susto se de repente alguém a sério encontrasse
que certo se esse alguém fosse um adolescente
como se é uma nuvem um atelier um astro

Mário Cesariny

Robert e Shana ParkeHarrison, the crossing, 2005.

A minha vida é de inclusão, de metamorfose pela incorporação de todas as partes, de todos e tudo o que amo. Tenho-me preocupado tanto com os outros que me esqueci de mim, que me apago e consumo a tentar correr para todo o lado e para toda a gente. Como um equilibrista, que faz rodar sobre o tronco e a cabeça várias bolas, preocupado em manter cada uma delas a rodar, no ar, e em não deixar cair uma que seja.
Mas parece parecer nada disso.
Uma vez no ar as rodas não podem cair, até à saída, porque até uma saída estarão sempre dependentes de nós e há actos que não podemos executar sob pena de deixar cair tudo no chão.

Sempre tive a sensação, talvez falsa, de poder controlar tudo e poupar todos aos momentos maus, às angústias, ao sofrimento miudinho.
Para agradar e fazer os outros felizes vamo-nos muitas vezes apagando, cada vez mais. Para serenarmos os outros vamo-nos enterrando numa cortina de angustia e de apatia, de esquecimento de nós e da dor que sentimos, que a tudo mata e transforma em melancolia, que a tudo esgota e cansa, amargura.

Não há espaço para a partilha quando as nossas pequenas mágoas e dores, aos olhos dos outros, são patéticas, quando os nossos problemas não são problemas, quando precisávamos apenas e só que nos ouvissem, compreendessem, abraçassem e dissessem que tudo iria correr bem, ou não dissessem nada e nos olhassem apenas, com um olhar doce, ao invés de satirizarem.
Não há espaço para a partilha quando os outros duvidam da intensidade e grandeza do nosso amor e julgam o que sentimos pela frequência, pelo comprimento, pela medida visível. Não há espaço para a partilha quando o que dizemos e sentimos é desvalorizado, ridicularizado como se fossemos anormais, egocêntricos, egoístas, como se o nosso amor valesse sempre menos.

Quando tomei coragem para dizer o que realmente sentia, já que admito que escondi e não fui justa, ainda assim uma coragem dolorosa, receosa, quando tomava balanço para um passo maior que as minhas pernas, desligam-se-me os laços, passam-me uma borracha por cima e tudo se esfumou.
E assim sucumbi, à angustia, à solidão que foram estes caminhos tão próximos, paralelos, que não se encontraram.

segunda-feira, 28 de abril de 2008


Caminho vazio, vento nos pinheiros, ao longe, e a brisa sonora do mar.
Saudades do oiro da tua pele e do sorriso largo dos lábios até ao olhar…

domingo, 27 de abril de 2008

O Grafis e a Grafis receberam desta amiga este galardão de Amizade:



Agora é suposto nomear alguns blogs amigos, melhor... os blogers amigos...

Nomeio-vos a todos, desde que venham por bem, pode ser?

(confesso que o selo em si é muito… ai, ai… naife… é pouco, não é bem isso, mas pronto. O que conta é a intenção. Será que não há por aí um ou uma designer gráfico ou Web que faça uma coisa mais “bonitinha”… creio que agradeceríamos…)
Acordei com uma música estranha no ouvido, dentro da cabeça a ecoar e a ressoar, lentamente… o calor e o refrão repetido dezenas de vezes quase me derretiam a massa cinzenta meio “chocalhada” da noite de ontem

Ontem foi um dia especial, o dia em que revelámos, apresentámos, culminámos um projecto com quase um ano de preparação, algo que metodicamente e insistentemente trabalhei e lutei, contra todo o tipo de resistências, estrategicamente, na sombra, contra os interesses individuais e particulares de alguns chicos espertos “poderosos”, até conseguir o que queria, o que é e foi pensado para beneficio de todos, desde há cerca de 6 anos atrás… ou mais.

Ontem o dia deveria ter sido “um dia especial”… um dia para sentir uma enorme satisfação, para sentir adrenalina e euforia, para sentir aquela sensação boa de se ter feito algo importante e realmente “bom”, mas a verdade é que senti… nada. Quer dizer, nada, nada… senti alguma coisa. Satisfação, sentimento de dever cumprido, senti, mas pouco mais.

Acho que me estou a tornar insensível, demasiado dura, demasiado pedra, demasiado séria, demasiado vazia ou cheia de nada.
Ultimamente só falo no vazio. Até parece que a minha vida é um buraco escuro e balofo. Não é. Mas de certa forma é uma vida de faz de conta, de equilíbrios, de conciliação de forças opostas. Se eu fosse cientista e percebesse mais de física do que percebo talvez me pudesse demonstrar que os exercícios que vou fazendo são impossíveis. Como não sou, não sei muito bem o que faço, conto apenas com um instinto trabalhado, deturpado, treinado… reajo e espero.

Diz assim “you cant always get want you want…” e não é a dos Rolling Stones. Fui procurar e descobri que existe um disparate de versões desta música. Não encontro aquela que eu continuo a ouvir aqui dentro, mesmo depois de ter passado pelo duche (onde e durante o qual gosto de pensar, concentradamente), mesmo depois de ter ido às compras e ter ouvido outras no carro e no hipermercado, mesmo depois de ter feito o almoço a ver atentamente o canal história e os noticiários, depois de me ter atirado ao trabalho, durante a elaboração deste texto…

Penso: estarei a ficar esquizofrénica? (tb era só o que me faltava).
Parece uma resposta vinda de um além longínquo a querer convencer-me de algo que já suspeitava.
Muito bem meu Pai. Já percebi a mensagem. Resta agora saber onde é que Tu queres chegar…
Ou eu.

sábado, 26 de abril de 2008



Quero dormir o sono das maçãs,
afastar-me do tumultuar dos cemitérios.
Quero dormir o sono do menino
que queria cortar o coração no alto mar.

Não quero que me repitam que os mortos não perdem o sangue,
que a boca podre continua a pedir água.
Não quero conhecer os martírios que a erva dá,
nem a lua com boca de serpente
que trabalha antes do amanhecer.

Quero dormir um pouco,
um pouco, um minuto, um século,
mas todos saibam que não morri ainda,
que há um estábulo de oiro nos meus lábios,
que sou o pequeno amigo vento do Oeste,
que sou a imensa sombra de minhas lágrimas.

De madrugada, cobre-me com um véu,
porque me lançará punhados de formigas,
e molha com água dura meus sapatos
para que resvale a pinça de seu lacrau.


porque quero dormir o sono das maçãs
para aprender um pranto que me limpe de terra,
porque quero viver com o menino escuro
que queria cortar o coração no alto mar.

Frederico Garcia Lorca

quinta-feira, 24 de abril de 2008

.
.
22 horas e 55 minutos de 24 de Abril de 1974...
.
.
...a Revolução de Abril estava na rua.



[...]
E depois do amor
E depois de nós
O dizer adeus
O ficarmos sós
Teu lugar a mais
Tua ausência em mim
Tua paz
Que perdi
[...]




terça-feira, 22 de abril de 2008

Richard e Shana ParkeHarrison - Udergrowth

Por este dias insisto num caminho novo, teimosamente, a ver se me consigo levar a algum lado. É verdade que me sinto só, mas penso que deve ser normal. Faço-me vaguear por caminhos que já percorri com outro encanto, outra vida, difícil de descobrir. Sinto falta.
Na verdade, sinto-me morrer todos os dias.

Não é assim tão mau, penso eu, porque toda a gente vai morrendo todos os dias, mesmo que não sintam. O que é importante é resistir e sobreviver.
Passo o tempo a desvalorizar a pobreza que me rodeia e faz parte de mim, a tornar lógico algo para o qual não consigo encontrar explicação palpável, solução ou remédio. Vivo com objectos velhos e gastos. Já não lhes sinto o sentido.
Sinto-me só neste caminho para um fim incerto.

Penso que tenho de passar por isso. Penso que me basta o que tenho, e que tenho muito mais que muita gente alguma vez terá.
Sinto que o que tenho não me preenche, e pouco ou nada tenho dentro, construo e faço crescer. Que destrui, que reduzi a cinzas, como se tivesse deitado fogo a uma floresta e hoje não restasse mais nada que uma paisagem lunar.
Os dias são cinzentos, ou então, embrulhados em tantas coisas fúteis que nem tempo tenho para lhes ver a cor, lhes respirar o ar, lhes sorver a luz, e sorrir, fazer sorrir.

Inverti todos os valores, sem perceber que certas coisas não se conseguem levar contra a maré, contra vontade, contrariando as fundações e os alicerces, os pulmões e o sentido do sangue nas veias.

Não consegui inverter o sentido do sangue nas veias...
Choro.
Provoquei demasiada dor.
...e o sangue ainda segue o seu sentido.

Não penso nada. Não consigo pensar com esta dor fina no estômago e o gasganete a sufocar-me.
Espero que venha a noite para dormir, afogar-me no vazio, na escuridão, no analgésico para a dor que é o sono.
Amanhã levantar-me-ei, vestirei a personagem do dia-a-dia, todos os acessórios que me fazem parecer colorida e voltarei aos dias cinzentos.
No final, terá perecido mais um dia. Terei feito nada. Minuto a minuto conquistarei o dia, matarei todas as horas até ao fim.
Sou tão um instrumento…

Tento contrariar.
Talvez nem tudo se contrarie, não seja possível contrariar a tudo.
Hoje penso: por quanto mais tempo me manterei sóbria. Quanto tempo mais resistirei à loucura…

Apenas porque o mundo anda às avessas e eu perdi-me o rasto.
Só isso.
Não é grave. Pelo menos achei a ponta do fio.


Robert e Shana ParkeHarrison - Low Tide

segunda-feira, 21 de abril de 2008



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Tenho aflição por tudo o que morre
Como tenho pavor por cada noite que cai.
Como fui esquecer o caminho para fora?

Infeliz que escrevi as sendas da caça.
Comerei erva? Sol? Comerei estepes e estepes
A arder?

Vou-me pôr à mesa e esperar.

Tenho aflição por toda a ausência não anunciada
Acendi a luz por toda a casa e electrifiquei a voz
Agora posso ampliar o clarão dos gritos.

Posso abrir trilhos no fogo: sei o ritmo da mão exacta
Que fez o povo atravessar enxuto o interior da água.

Vou-me sentar à mesa. Vou deixar arrefecer a comida.
Fazer de conta que estou a esperar.


Daniel FariaPoesia, Edições Quasi, 1.ª edição, Lisboa, Novembro 2003, p.40


sexta-feira, 18 de abril de 2008



hoje deixo, apenas e só, uma imagem, vulgar

faltam-me as palavras
há muito tempo que me abandonaram as palavras
secaram-se
os interstícios onde noutros tempos fluía uma torrente

quinta-feira, 17 de abril de 2008


Las 13 Rosas conta a história verídica de treze jovens raparigas, socialistas, que no final da Guerra Civil Espanhola, e depois da vitória dos nacionalistas franquistas, são apanhadas na teia do novo regime, presas e inocentemente acusadas de terem participado num atentado contra Franco.
Por fim, depois de passarem pelo cárcere e pela tortura, são fuziladas a tiro por uma bateria de jovens soldados.
Uma das linhas condutoras do filme, subtil, implacável, é a presença e o trato da inocência. A inocência em decrescente, quase profética. A inocência das personagens, na ignorância das consequências dos actos, no desconhecimento do que estava para a vir, na impetuosidade dos gestos e dos ideais, no companheirismo e no desespero. Uma inocência que se adivinha trágica a cada minuto que passa, acutilante.
É um filme de época, bem trabalhado do ponto de vista histórico, mas por ventura até de forma atenuada, e ainda assim, muito credível.
Um documento artístico e histórico, para inscrever certos acontecimentos na memória, assimilar, sem floreados ou explicações inocentáveis.
Trata-se de uma das tantas histórias da Espanha, e também do Portugal - porque não dizê-lo - desta época, de certa forma até uma das menores, perante certos outros episódios aterradores da mesma História perpetrados pelo regime franquista, como foi o da matança de Badajoz em 1936, na qual, em apenas dois dias, foram fuzilados cerca de dez mil espanhóis na Praça de Touros de Badajoz, alguns entregues pelo Regime de Salazar a Franco, apanhados pela policia portuguesa ao tentarem fugir para Portugal.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Parece que o enguiço do Sporting se quebrou.
Resta saber por quanto tempo.
Mas há que ter fé!
Afinal, o que distingue um sportinguista de outro qq adepto de outro clube de futebol qualquer, é esta fé, este... “je ne sais quoi" verde...

terça-feira, 15 de abril de 2008


Eu queria, ó Deus, poder cada manhã, ao elevar para ti o meu olhar, oferecer-te as minhas mãos vazias.
Eu queria, sem usar de nenhum esforço, não ser mais que o receptor da vaga de infinito, e avançar nos caminhos do acaso, apenas levada pelo sopro das vozes interiores.
Eu queria esquecer o que sei e penso, não mais pedir nada, deixar de querer, e acolher com um sorriso as rosas que a tua mão fez cair no meu regaço.

Citação de Jeanne de Vietinghoff em O Tempo, esse grande escultor de Marguerite Yourcenar

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Cruzeiro Seixas - 2005


Ao ver escoar-se a vida humanamente
Em suas águas certas, eu hesito,
E detenho-me às vezes na torrente
Das coisas geniais em que medito.


Afronta-me um desejo de fugir
Ao mistério que é meu e me seduz
Mas logo me triunfo. A sua luz
Não há muitos que a saibam reflectir.


[…]


Porque eu reajo. A vida, a natureza.
Que são para o artista? Coisa alguma.
O que devemos é saltar na bruma,
Correr no azul à busca de beleza.


[…]

Mário de Sá Carneiro - Dispersão

quinta-feira, 10 de abril de 2008

André Carrilho

Já era tardíssimo para pensar objectivamente no que lhe dizer. Tinham combinado passar uns dias juntos e conversar muito seriamente sobre se valeria a pena continuarem com aquela relação. Ela vinha no comboio das nove: meia hora antes já ele estava na estação, com um raminho de miosótis meio amassados e com um medo terrível de não a conseguir fazer sorrir. Ele julgava-se um dos homens mais confusos do mundo, mais vacilantes. Um desencanto com pernas. E ela parecia afastar-se mais um pouco em cada lua nova, cada vez mais exigente e menos satisfeita: os violinos da separação timbravam-lhe os gestos, cada vez mais ásperos. Houve dias em que a ternura era uma maravilhosa praga de gafanhotos, aos pulos por todo o corpo, a devastar todas as dúvidas que bloqueavam o tango.
[…]
Noutras alturas maior era a queda. Ela não imaginava um futuro para os dois, ele imaginava futuros muito improváveis e impingia-lhe uma data de sonhos em segunda mão. Ele era quase crédulo e de vontade fraca, ela fingia-se forte e capaz de raciocinar sobre os factos, o que é próprio das pessoas fortes.
[…]

JP Simões (contos) e André Carrilho (ilustrações), em O Vírus da Vida - Applefeiçoador Integral em embalagens de duas doses diárias, da editora Sextante.

quarta-feira, 9 de abril de 2008


Andy Kehoe - Humanity Bleeds

Em resposta a um desafio, os livros que mais me marcaram, marcam e acompanham…
Tal como à Lover, também o Principezinho me marcou e acompanha, muitas vezes de memória (pelo menos na ideia/conceito), assim como os de Khalil Gibran (emprestei os “meus” há já alguns anos e nunca mais os vi… já me tinham sido oferecidos e foram-me importantes. Gosto de pensar que acompanham a pessoa a quem já os dei, e que lhe são importantes.
Li Pedro Paixão quando estava na moda, assim como li Saramago mesmo não gostando. Em certas alturas tentei ler mais, mas por uma razão ou outra, que para aqui não interessa, o tempo foi gasto de outras formas e a ler outras coisas.
Também li os pequenos livros de Derek Prince ou os de Brain Wess, entre outros, numa busca incessante de um certo quê de essência, humanidade e identidade. Acabei no livro dos livros, que leio há muito tempo, por vezes, repetidamente e que faz todo o sentido.
Aqui vão então os que me lembro terem sido mais marcantes:

Admirável Mundo Novo – Aldous Huxley (há uns… 17 anos atrás)

O Preço do Sal – Patricia Highsmith (há uns… 14 anos atrás)

(neste hiato de tempo, cada vez menos tempo para ler, a sério, tão descontinuadamente, que não me ocorre nenhum livro verdadeiramente marcante, pelo menos não com a mesma intensidade que os outros. Apenas umas coisas, mas tb outras tantas outras, mais técnicas, talvez muito enfadonhas, mas que me marcaram muito, se bem que, não no sentido que aqui se fala)

Poesia (completa) – Daniel Faria (de há três anos atrás até hoje)

Bíblia (principalmente os Evangelhos assim como alguns capítulos do Antigo Testamento) (desde há… três anos atrás até hoje, continuadamente)

Passar o desafio... a quem queira simplesmente partilhar, aqui ou noutro local qualquer, pois é isso que importa: a partilha.
.
ADENDA: Há um outro, neste "hiato de tempo", que me marcou, verdadeiramente: Portugal Hoje. O Medo de existir, de José Gil, que não consigo agora localizar - devo ter emprestado... (certamente que agora vão começar a surgir outros, mas prometo fugir à tentação de fazer disto uma lista exaustiva e enfadonha)

Maria Serebriakova, sem titulo, 1990.

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O homem lança a rede e não divide a água
O pobre estende a mão e não divide o reino

É tempo de colheitas e não tenho uma seara
Nem um pequeno rebento de oliveira.
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Daniel Faria

sábado, 5 de abril de 2008

Bert Holvast,sem título, Óleo sobre tela.

Arrancaram-me o coração de entre as costelas, à mão cheia.
Cirurgicamente arranquei as entranhas, à medida que a tristeza se ia instalando, a desilusão...
a mágoa...
por fim a descoberta de algo que não sabia existir (porque ainda me surpreendo).
Por fim a dor que ecoa e ressoa dentro do peito sangrento e vazio,

rebentado

escuro

negro.


Não tenho nem palavras…
Acho que não merecia este golpe, mas ainda assim, se o merecesse, acabou.
Acho que assim saldei a dívida que poderia ter, seja lá o que for.

Se me querias magoar, magoas-te. Vences-te.

Fica com os louros e a glória. Isso deve trazer uma enorme felicidade.

sexta-feira, 4 de abril de 2008




Ver num grão de areia um mundo
numa flor um céu profundo;
ter na mão infinidade,
num minuto a eternidade…

O morcego que volita
pela noite, esse acredita;
mas a coruja que grita,
porque não crê anda aflita…

Olha a dor: é um tecido
com a alegria: um vestido
para a alma. Sob a dor
sempre a alegria anda à flor…

Cada lágrima chorada
Torna-se em criança alada…

Balir, uivar – que sei eu?
ondas a bater no céu…

Quem duvida do que vê,
Por mais que faça, não crê.
Olha o sol, se duvidava:
Logo, logo se apagava…

Deus é clarão na amargura
das almas da noite escura;
veste o manto de Jesus
para as que vivem à luz.

William Blake

quinta-feira, 3 de abril de 2008


Tenho a sensação que algo comigo está mal e enquanto descubro quem ou o que está mal, sento-me e tento perceber onde é que errei.
Nunca a minha vida foi tão afectada devido aos traços, mais ou menos profundos, da minha personalidade, segundo consta.
No trabalho, parece que a minha competência no que toca a espírito de equipa e coordenação foi classificada de suficiente, apesar do excelente desempenho da minha coordenação e da minha equipa de trabalho, que superou todos os objectivos com um bom (para não dizer muito bom, pois foi assim que foi classificado) desempenho.
Vou a ver porquê…
Porque eu tenho “uma personalidade muito forte, empreendedora, que imprime aos projectos uma dinâmica muito particular” mas “a minha impulsividade e dinamismo” leva-me a criar “atrito” com certas outras pessoas…
É que eu sou daquelas pessoas que anda sempre a inventar trabalho, e isso incomoda muita gente, eu sei, e isso cria "atrito".
Assim, como sou daquelas gajas que não diz que não a propostas de trabalho, desde que interessantes, que na grande maioria das vezes resultam em grandes dores de cabeça e noites mal dormidas, porque só me fazem propostas para coisas que ninguém lhe apetece pegar, ou com prazos complicados, meio intrincadas e que exigem total dedicação (penso que deve ser para eu lhe “imprimir” o meu “cunho pessoal” e para as levar até ao fim, ultrapassando a inércia e a alergia que certas pessoas têm ao trabalho, mas não têm aos louros), e isso também cria "atrito".
Mas também sou daquelas gajas que chama as coisas pelos nomes, que coloca as questões frontalmente em vez de andar a falar pelos cantos e às escondidas, e como muita gente não gosta ou não lhe convem ouvir, cria-se "atrito".
Não se pense que sou super boa e maravilhosa em tudo o que faço. Não sou. Tenho defeitos, também erro, também crio inércia e ganho alergia a certas coisas, podia ser muito melhor.
Porém, não sei o que quer isto dizer, mas sou forçada a tirar elações, porque algo terá de mudar. Ou a favor do sistema ou contra o sistema. É a fase em que estou, daí a cara feia.

Depois disto também já não adianta entrar pela minha vida pessoal, que aí… a minha vida dava uma verdadeira comédia trágica, se é que isso existe.
Sou é de facto tentada a pensar que na volta sou eu que me estou a transformar numa cabra e não sei (perdoem-me a expressão, que agora nem me reconheço, mas esta é a melhor forma de exprimir o que vai cá por dentro).