quarta-feira, 29 de abril de 2009







...é ou não é um amor?!
Um ouriço pequenino, que me chega via e-mail. Com esta imagem de pura ternura, o coração abre-se e deixa sair todas as sombras. Que criatura tão bonita e tão dócil!

terça-feira, 28 de abril de 2009

Jim Lambie, Body Talk.


Um dia saímos do trabalho, entramos no carro, ligamos o motor, e de repente estancamos.

Parece não haver lugar algum para onde ir. Porque um dia a Fé também nos falha, e nesse instante questionamos tudo, o sítio e o que floresce, o universo e o sentido de todas as coisas, dentro e fora.
Aquilo que acreditamos e queremos construir – e construímos sós, como só um louco faria.
Um dia sentimos necessidade de não ser ali, nem sentir, arrancar todas as entranhas de dentro do corpo, atirar fora o lugar onde guardamos, e adormecer.
Um dia somos pessoas fortes e outro pessoas frágeis, e a fragilidade vem não sei de onde, porque nos falta tanto.
E um dia os caminhos, que já são de si confusos, adensam-se, e num segundo conseguimos ver claro: que o caminho não nos deixa ver mais além, que a Fé assim nos há-de condenar e levar a cometer suicídio, e que a razão, sobrevivente, nos obriga a repensar o rumo.

…saí pelo mesmo portão, virando na mesma direcção, rumo ao mesmo lugar.
O dia acaba cinzento, chuvoso, e eu vou ver se me restabeleço desta momentânea falta de chão nos pés.

domingo, 26 de abril de 2009




Surdo, Subterrâneo Rio

Surdo, subterrâneo rio de palavras
me corre lento pelo corpo todo;
amor sem margens onde a lua rompe
e nimba de luar o próprio lodo.

Correr do tempo ou só rumor do frio
onde o amor se perde e a razão de amar
... surdo, subterrâneo, impiedoso rio,
para onde vais, sem eu poder ficar?

Eugénio de Andrade

sábado, 25 de abril de 2009



Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo

Onde emergimos da noite e do silêncio

E livres habitamos a substância do tempo


Sophia de Mello Breyner Andersen


quinta-feira, 23 de abril de 2009

Joana Vasconcelos, Contaminação.


À Musa


Quando, à noite, espero a tua chegada, a vida parece-me suspensa por um fio.
Que importam juventude, glória, liberdade,
quando enfim aparece a hóspede querida
trazendo nas mãos a sua rústica flauta?
Ei-la que vem. Soergue o seu véu,
olha para mim atentamente.
E lhe pergunto: ‘Foste tu quem a Dante
ditou as páginas do Inferno?’. E ela: ‘Sim, fui eu’.”

Anna Akhmátova

domingo, 19 de abril de 2009

León Ferrari, sem titulo, 2006.



Não fui margem sem outra margem onde ligar os braços

Mas fui o tempo solto para entrançar os meus cabelos
E o movimento dos teus pés descalços

Não fui a solidão inteira nem reclusa
Para o único repouso entre o silêncio
Nem fui a flor exausta defendendo-se
De toda a mão que a quis despetalar

Não fui a casa que a si mesma se abrigou
Nem a morada que nunca se acolheu
Mas o tempo a pedir que me deixasse

Naquilo que não fui vim encontrar-me
E sempre que te vi recomecei.


Daniel Faria

segunda-feira, 13 de abril de 2009


Cultura: do latim cultura, cultivar o solo, cuidar.

Boa! Faltava-me esta definição...


Depois, podemos analisar o conceito à luz da sociologia, e à luz da filosofia, e ainda da antropologia e da etnologia, e no final, isto tudo bem espremido, quer dizer que cultura pode ser quase tudo... desde que resulte, de alguma forma em/de manifestação humana.

...às vezes mais valia mesmo dedicar-me a esta forma tão ancestral de fazer cultura: plantar batatas e semear feijão-verde... ou será semear batatas?
É que no fim era tudo muito mais objectivo: ou elas cresciam ou não cresciam, e se no decurso do processo da programação cultural elas não crescessem, punha-se mais foskamonio.

domingo, 12 de abril de 2009

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Ecce Homo (Português) - meados de 1490.



João 16
Dentro em pouco já não me vereis, e pouco depois voltareis a ver-me. Eu vou para o Pai.
Diziam, pois: Que quer dizer isto:
Dentro em pouco já não me vereis, e pouco depois voltareis a ver-me. Eu vou para o Pai. Não sabemos o que diz.

Conheceu, pois, Jesus que o queriam interrogar, e disse-lhes: Indagais entre vós acerca disto que disse: Dentro em pouco já não me vereis, e pouco depois voltareis a ver-me?
Na verdade, na verdade vos digo que vós chorareis e vos lamentareis, e o mundo se alegrará, e vós estareis tristes, mas a vossa tristeza se converterá em alegria.
A mulher, quando está para dar à luz, sente tristeza, porque é chegada a sua hora; mas, depois de ter dado à luz a criança, já não se lembra da aflição, pelo prazer de haver nascido um homem no mundo.
Assim também vós agora, na verdade, tendes tristeza; mas outra vez vos verei, e o vosso coração se alegrará, e a vossa alegria ninguém vo-la tirará.
E naquele dia nada me perguntareis. Na verdade, na verdade vos digo que tudo quanto pedirdes a meu Pai, em meu nome, ele vo-lo há de dar.
Até agora nada pedistes em meu nome; pedi, e recebereis, para que o vosso gozo se cumpra.
Disse-vos isto por parábolas; chega, porém, a hora em que não vos falarei mais por parábolas, mas abertamente vos falarei acerca do Pai.
Naquele dia pedireis em meu nome, e não vos digo que eu rogarei por vós ao Pai;
Pois o mesmo Pai vos ama, visto como vós me amastes, e crestes que saí de Deus.
Saí do Pai, e vim ao mundo; outra vez deixo o mundo, e vou para o Pai.
Disseram-lhe os seus discípulos: Eis que agora falas abertamente, e não dizes parábola alguma.
Agora conhecemos que sabes tudo, e não precisas de que alguém te interrogue. Por isso cremos que saíste de Deus.
Respondeu-lhes Jesus: Credes agora?
Eis que chega a hora, e já se aproxima, em que vós sereis dispersos cada um para sua parte, e me deixareis só; mas não estou só, porque o Pai está comigo.
Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.


João 17
Jesus falou assim e, levantando seus olhos ao céu, disse: Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que também o teu Filho te glorifique a ti;
Assim como lhe deste poder sobre toda a carne, para que dê a vida eterna a todos quantos lhe deste.
E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste.
Eu glorifiquei-te na terra, tendo consumado a obra que me deste a fazer.
E agora glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse.
Manifestei o teu nome aos homens que do mundo me deste; eram teus, e tu mos deste, e guardaram a tua palavra.
Agora já têm conhecido que tudo quanto me deste provém de ti;
Porque lhes dei as palavras que tu me deste; e eles as receberam, e têm verdadeiramente conhecido que saí de ti, e creram que me enviaste.
Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus.
E todas as minhas coisas são tuas, e as tuas coisas são minhas; e nisso sou glorificado.
E eu já não estou mais no mundo, mas eles estão no mundo, e eu vou para ti. Pai santo, guarda em teu nome aqueles que me deste, para que sejam um, assim como nós.
Estando eu com eles no mundo, guardava-os em teu nome. Tenho guardado aqueles que tu me deste, e nenhum deles se perdeu, senão o filho da perdição, para que a Escritura se cumprisse.
Mas agora vou para ti, e digo isto no mundo, para que tenham a minha alegria completa em si mesmos.
Dei-lhes a tua palavra, e o mundo os odiou, porque não são do mundo, assim como eu não sou do mundo.
Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal.
Não são do mundo, como eu do mundo não sou.
Santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a verdade.
Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo.
E por eles me santifico a mim mesmo, para que também eles sejam santificados na verdade.
E não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela sua palavra hão de crer em mim;
Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste.
E eu dei-lhes a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um.
Eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, e para que o mundo conheça que tu me enviaste a mim, e que os tens amado a eles como me tens amado a mim.
Pai, aqueles que me deste quero que, onde eu estiver, também eles estejam comigo, para que vejam a minha glória que me deste; porque tu me amaste antes da fundação do mundo.
Pai justo, o mundo não te conheceu; mas eu te conheci, e estes conheceram que tu me enviaste a mim.
E eu lhes fiz conhecer o teu nome, e lho farei conhecer mais, para que o amor com que me tens amado esteja neles, e eu neles esteja.


Jesus Cristo, na sua pregação, deixou-nos dois mandamentos maiores, nos quais é alicerçada toda a Fé Cristã e ensinamentos de Deus, Pai, que são, talvez (ou deveriam ser) os alicerces de toda a Humanidade: Ama o senhor teu Deus, o Criador de todas as coisas, o Pai, o Bom, o Misericordioso, e ama o próximo como a ti mesmo, com todo o teu corpo e toda a tua alma, sem restrições.
A cada um de nós cabe escolher o melhor de dois caminhos, em consciência, decidir. Existem apenas duas realidades, dois caminhos possíveis: o bem e o mal.
Ser Cristão, ser Homem, ou ser Mulher (porque não?! e abolindo esta coisa irritante do falso neutro masculino), não é apenas e só ir à missa, confessar os “pecados” da semana, receber a absolvição e voltar a fazer o mesmo na semana seguinte. Ou considerar-se o interlocutor maior – a este propósito recordo os momentos em que Jesus Cristo, pouco antes deste dia, no momento da Ceia, não me lembro se antes ou depois, referiu aos seus apóstolos que não há maiores ou menores entre eles, entre os Homens, privilegiados, que eles eram, nós somos todos iguais – e ir por aí distribuindo veneno disfarçado de doce, cânone, apregoando atrocidades contra a Vida, inventando regras e uma moral que nada tem que ver com a verdadeira essência da moral cristã – e mesmo hoje os “Fariseus” de antigamente se disfarçam por baixo da capa da autoridade divina - para voltar a cometer as mesmas atrocidades, ou pior, num círculo viciosos, por muitos anos.
Ser Cristão é colocar em prática, silenciosamente, estes dois grandes mandamentos, nas mais pequenas coisas que fazemos, no que nos for possível, pequenos gestos. Ser Homem é confessar a Fé que se tem no Amor, no Pai, no Filho, no poder criador e regenerador dos laços e dos afectos, e fazê-los acontecer, todos os dias, nas mais pequenas coisas, porque um sorriso é um milagre, uma mão onde segurar o fio que nos agarra à vida, o Amor o segredo de todas as coisas, o grande mistério das nossas vidas.
Assim, esta noite, eu confesso e dou testemunho, Pai, uma vez mais, da minha Fé, do quanto És importante na minha vida, o quanto este dia, da crucificação de Cristo foi e é importante no cumprimento, dia após dia, do que me foi escrito dentro, no centro.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Fernando José Francisco, sem título, 1947.


Faz-se luz pelo processo

de eliminação de sombras
ora as sombras existem
as sombras têm exaustiva vida própria
não dum e doutro lado da luz mas no próprio seio dela
intensamente amantes …. loucamente amadas
e espalham pelo chão braços de luz cinzenta
que se introduzem pelo bico nos olhos do homem

Por outro lado a sombra dita a luz
não ilumina …. realmente …. os objectos
os objectos vivem às escuras
numa perpétua aurora surrealista
com a qual não podemos contactar
senão como os amantes
de olhos fechados
e lâmpadas nos dedos …. e na boca

Mário Ceraniny, Pena Capital, Assirio & Alvim, Lisboa, 2004.

Programa para o fim-de-semana, acabadinho de chegar por e-mail... recomenda-se!


Bunny Weekend

O LAC – Laboratório de Actividades Criativas, pelo 3º ano consecutivo, realiza o Bunny Weekend, nos dias 10 e 11 de Abril de 2009, a partir das 15h, na antiga cadeia de Lagos.

O Bunny Weekend é um evento de promoção da cultura alternativa e urbana, numa parceria com a Chili Com Carne – Associação Cultural e a THISCO. Pretende ser mais um espaço para apresentação de artistas locais e regionais e a exibição de propostas inéditas em Lagos.

Na feira de fanzines serão apresentadas as novidades na área da publicação literária e artística alternativa e independente, pela Chili Com Carne, drmakete e Ghoul Gear. Será ainda criada e elaborada durante o evento o número zero da GULAC – a zine mais a sul de Portugal.

A Rockstar Shop estará presente com o seu estúdio de tatuagem, bem como a loja Mao Mao e Halu com roupa reciclada. O artista Nuno Bettencourt irá representar a Galdéria – Galeria Ambulante, com uma mostra de serigrafia.

A noite de sexta-feira fica a cargo da dupla Dj Miss Baila e Mr. Groove, com Vj do Projecto Visadron.

Sábado, daremos continuidade à parceria com a THISCO, no evento bimensal de THISLAC – Circuito de Música Electrónica, com Kronos. Este circuito surge da necessidade de descentralizar o circuito normal de projectos de cariz electrónico para o Sul e irá apresentar alguns dos melhores projectos que a THISCO tem vindo a produzir a nível nacional e internacional.

domingo, 5 de abril de 2009



Lembra-te
que todos os momentos
que nos coroaram
todas as estradas
radiosas que abrimos
irão achando sem fim
seu ancioso lugar
seu botão de florir
o horizonte
e que dessa procura
extenuante e precisa
não teremos sinal
senão o de saber
que irá por onde fomos
um para o outro
vividos.

Mário Ceraniny, Pena Capital, Assirio & Alvim, Lisboa, 2004.

Thomas Patti, Clear Lumina with Azurlite, 1992.


Sereno agora, fim de dia.
Ocorre-me que há uma certa riqueza inquantificável e inalienável que me transborda e me preenche os dias e os bolsos do coração. Uma riqueza que se dá e recebe sem olhar ao quanto damos e recebemos, pois pudera que conseguíssemos dar tanto quanto temos: os amigos.
Os amigos são pessoas grandes que nos escolhem, nos acolhem dentro das casas que eles são, que simplesmente nos abraçam e nos gostam, nos querem felizes. Talvez este seja o mais intenso e puro laço que o Homem pode criar, e ser um pouco deus. O sentimento mais sublime, mais transparente, a forma de amar mais verdadeira, sem compromisso, sem barreiras, sem contextos, sem condição ou pré-condição. Aquele que pudemos dar, receber e sentir tantas vezes quantas quisermos, dependendo do número de pessoas que guardarmos dentro. Algo que não se sabe explicar bem, pois há palavras que ainda não sabem dizer da grandeza de certas coisas, borboletas, da riqueza que cada um de guarda.
Amigos guardam-se no peito, abraçados pelos braços do coração, fortes, seguros e firmes.
E depois de um dia entre amigos eu sei, sinto, mais uma vez, que sou grande e quero continuar a ser tão grande e generosa como aqueles que guardo cá dentro.
Embora certas grandes pessoas não tenham estado comigo durante as últimas 24h, eu estive lá, em pensamento, e sei que elas estiveram aqui para sentir os laços fortalecer.

sábado, 4 de abril de 2009

Shintaro Nakaoka, Maria (pormenor)

da pedra
do sulco
das linhas que não nos levam a lado algum...

tactear
devagar
cavar mais fundo


sair

quarta-feira, 1 de abril de 2009


Chegar às 22h30 junto do carro e perceber que nos fecharam num parque de estacionamento deserto, numa cidade que não é a nossa.

A acrescentar a isso o parque, deserto, é um adro de uma Igreja, aterrador, explorado por uma Paróquia.
A acrescentar a isso não há contactos nenhuns para onde se possa pedir “socorro, preciso sair daqui”, nem nsequer no ticket de pagamento do parque (porque se paga logo à entrada) - há um hiorário afixado num local que não se vê... a menos que nos apontem.
Encontro alguém que me dá o número de telemóvel do padre, a quem ligo, e que me diz, com todas as palavras, numa dicção perfeita, que eu bem que podia passar a noite dentro do carro porque o senhor não ia fazer 20Km para me abrir a corrente;
A acrescentar a estas declarações simpáticas e humanas, que ninguém tinha nada que me dar o número de telemóvel dele – “…e quem é que foi? Hein? Quem é que foi?”;
A acrescentar a isso, e depois de umas trocas amistosas de palavras, o padre manda-nos para uma morada onde não mora ninguém e onde era suposto morar quem nos fosse soltar…
Por fim, ligar à polícia…
Esta foi a única coisa que, surpreendentemente, salvou a noite, ou me livrou de passar a noite dentro do carro até a abertura do parque de manhã. Lá foram os agentes da PSP que, pacientemente e diligentemente, nos localizaram e foram buscar quem nos abrisse a corrente, e segundo os quais este episódio acontece amiúdas vezes…
Este é o exemplo de país que temos:
- Pagamos, e ainda somos achincalhados e desconsiderados;
- Pagamos, e em vez de olharem por nós, fazem-nos o pior;
- Pagamos, e quem, supostamente, deveria sentir um laivo de solidariedade e humanidade, soterra-nos de pedras e engana-nos;
- No fim, felizmente, vêem até nós duas almas caridosas que, cansadas de conhecer a situação e de perceber a injustiça, sem nada poder fazer, nos dão a mão e nos ajudam;
Caso para dizer que, naquela cidade, a PSP é amiga!

…e não. Não é mentira. É a mais pura verdade.