quarta-feira, 27 de maio de 2009



Farinelli é um filme carregado de emoções que provoca em nós uma certa sensação de estar próximos de algo divino. Tem tanto de doce, trágico, extravagante, como de assustador, e revolve, quase faz saltar o coração do peito.
É também um interessante retrato social de uma época, de um determinado circulo onde a musica e as artes em geral tinham um papel importante e no qual os dias eram vividos num ambiente de excentricidade e de exuberância.
Farinelli, ou Carlo Broschi, foi um dos grandes, senão o maior cantor castrati de que há memória, que viveu na primeira metade do século XVIII, e que conseguia produzir cerca de 250 notas com uma só respiração e sustentar uma nota durante mais de um minuto.



Farinelli tem uma voz de soprano ligeiro, completa, rica, luminosa e bem trabalhada, com uma extensão que abrange desde o Lá debaixo do Dó central a Ré três oitavas acima do Dó médio... Sua entonação era pura, seus vibratos maravilhosos, seu controle sobre sua respiração era extraordinário e sua garganta muito ágil, porque cantou os intervalos mais amplos rapidamente e com a maior facilidade e firmeza. As passagens das obras e todo tipo de melismas não representaram dificuldades para ele. Na invenção das ornamentações livres nos adágios foi muito fértil.
Johann Joachim Quantz
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Um filme a não perder!



Farinelli: Il Castrato (1995).

domingo, 24 de maio de 2009

Václav Cigler
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Não tenho nada a dizer.
Custam-me as palavras de tanto que elas embatem contra. Um vidro transparente.
Tanto quanto eu embato e me magoo.
Magoa-me este vidro transparente que não sei se deturpa, se espelha, se me deixa ver, além. Que me separa do outro lado onde quero chegar, onde teimosamente, involuntariamente continuo a querer chegar.
Às vezes não tenho palavras, tanto quanto não tenho braços. Enterro-os.
Tanto quanto cavo o buraco fundo onde em vão enterro esta matéria do peito que revolve e se diminui a não ser.
Às vezes é difícil caminhar.
Sem ar.
Cega.
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terça-feira, 19 de maio de 2009

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sobre a água estarei solto de caminhos
dos que vierem nenhum barco é para ti
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não deixes a candeia acesa
dorme: basta-me essa luz
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Daniel Faria

Paul McCarthy - Complex Shit
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Recebi por e-mail. Desconheço o autor mas parece-me muito oportuno e pergunto-me como se sentirá esta geração de "rebeldes" daqui a uns 15/20 anos... Parece-me que vamos ter de aturar muitos putos birrentos de frustração com 30 e 40 anos.


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Geração rasca para geração merda (vale a pena ler....)

"A SIC montou uma gigantesca campanha de promoção para a sua nova série/novela/monte de merda, que dá pelo nome de Rebelde Way. Depois de anos a apanhar bonés, percebeu que a melhor maneira de combater a morangada da TVI era...imitar. É lógico. Era inevitável. Depois de 20 minutos a ver a nova série (o que me provocou uma crise de cólicas da qual só um dia depois começo a recuperar) sinto-me preparado para uma análise. Bora lá. A fórmula é a mesma nos dois canais. Aqui fica a receita:

1 - Pitas boas. Muitas, quanto mais descascadas melhor (as séries de verão são, naturalmente, as melhores, porque eles vão todos juntos para a praia).
2 - Gajos "estilosos". A coisa divide-se em dois: há aqueles que têm quase 30 anos mas fazem de adolescentes, e depois há os que são mesmo adolescentes. Estes últimos são aqueles que se levam a sério enquanto "actores". O requisito essencial para qualquer gajo que entre nestas séries é ter um penteado ridículo.
3 - O Rebelde Way tem gajas do norte. Fazem de gajas daqui, mas aquele sotaque é fodido de perder. Fica ridículo, mas as gajas são boas.
4 - Nos Morangos, a palavra "pessoal" é dita 53 vezes por minuto, normalmente inserida nas frases "Eh pá, pessoal!", no início de cada conversa, ou então "Bora lá, pessoal", antes do início de qualquer actividade.

Agora vamos à bosta que a SIC acabou de parir, com pompa, circunstância, varejeiras e mau cheiro. Chama-se Rebelde Way. Cool, man! O slogan dos Morangos era "Geração Rebelde", mas a inspiração deve ter vindo de outro lado, de certeza. O que me irrita na poia da SIC é que os gajos são todos betinhos (até os mânfios são todos giros e cool e com uma caracterização ridícula, como se fossem a um baile de máscaras vestidos de agarrados ou arrumadores de carros). Mas depois são bué rebeldes. São bué mauzões, man! A brincar com os seus iPhone, com as suas roupinhas fashion, grandes vidas, mas muita mauzões.

Se há algo que esta geração de morangada não pode ser, não tem direito a ser, é ser rebelde. Rebelde porquê, contra quê? Nunca houve em Portugal geração mais privilegiada do que a actual, à qual esses putos pertencem. Nunca qualquer puto teve tanta liberdade e tanta guita no bolso como esta malta. Nunca as pitas foram tão boas e tão disponíveis para foder com a turma inteira como agora. Nunca houve tamanha liberdade de mandar os pais à merda e exigir uma melhor mesada porque é altura dos saldos. Rebelde porquê? Em nome de quê?

É claro que isto são pormenores com os quais as novelas não se deparam, nem têm de o fazer. O objectivo é simples: para uma geração tão privilegiada como aquela que é retratada, há que criar uma rebeldia fictícia, porque não é cool ser dondoca aos 16 anos. Mas é o que todos eles são.

Há uns tempos vi, no Largo do Carmo, um bando de uns 15 putos e pitas, vestidos à "dread" com roupinha acabada de comprar na "Pepe Jeans".Um dos putos que ia à frente, não devia ter mais de 16 anos, vem a falar à idiota como se fosse dono da rua, saca duma lata de tinta e escrevinha qualquer coisa de merda na parede. Todos se riram, todos adoraram, e ele foi, durante cinco minutos, o maior do bairro. Não fiz nada, mas devia ter-lhe partido a boca toda.

Todas as últimas gerações antes desta (incluindo a minha, a Geração Rasca, que se transformou na Geração Crise - bem nos foderam com esta merda) tiveram de furar, de lutar, de fazer algo. Havia uma alienação mais ou menos real, que depois se podia traduzir nalguma forma de rebeldia. Não era o 25 de Abril como os nossos pais. A nossa revolução é a dos recibos verdes e da consolidação orçamental. Mas esta morangada sente-se, devido à merda que a televisão lhes serve e aos paizinhos idiotas que (não) a educaram, que é dona do mundo. Quando já és dono do mundo, vais revoltar-te contra quem? E por que raio haverias de o fazer?!

E assim vamos nós. Com novelas de putos "rebeldes", feitas por "actores" cujo momento de glória é entrar numa boys band ou aparecer de cú ao léu na capa da FHM, ensinando a todos os outros putos que temos que ter cuidado com as drogas (mas todos os agarrados são limpinhos, assépticos, com os mesmos penteados ridículos), que a gravidez adolescente é má (mas todas as pitas querem foder à grande, porque são donas da sua própria vida e os pais não sabem nada, etc) e que, sobretudo, este mundo lhes deve alguma coisa.

Os tomates. A mim e aos meus, o mundo deve alguma coisa. Aos que foram atrás da merda do canudo para trabalhar num call center, aos que se matam a trabalhar e são forçados a ser adultos antes do tempo. Não a esta cambada de mentecaptos. E depois estas séries vão retratando "problemas sociais da juventude", afagando a consciência de quem "escreve" aquela merda, enquanto ao mesmo tempo incentivam esta visão egocêntrica, egoísta e vácua desta geração acabadinha de sair do forno.

Talvez eu esteja a ficar velho e a soar como o meu pai. Lamento se não é cool. Mas esta merda enoja-me.
Vão ser rebeldes pó caralhete.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Robert e Shana ParkeHarrison

Há muito tempo que não começava a trabalhar tão cedo, na tranquilidade e silêncio de inicio de dia, a uma hora da azafama característica do inicio dos dias. Quase me esqueci de como era levantar cedo, ainda o prédio dorme, e sair aos primeiros raios de sol, ainda fresco, mas com o ar já a aquecer.
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Temos dias em que o que precisamos é de reorganização, reorientação, encontro interior, estabilidade. Dias para parar e repensar. A partir daí, um dia havemos de chegar a este ponto, em que tudo está pronto e à nossa espera para ser algo de novo, porque cada dia que começa é um universo de possibilidades que por vezes não são o que pensávamos ser, e quando assim é, é essencial arrumar a bússola, caminhar. Um dia, quando a retirarmos do bolso, ela marcará um novo rumo.
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Um dia arrumei o verão. Hoje parece que o tirei do bolso. Será que permanecerá?

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Levei com um selo da Orquidea.
Tenho de enumerar 5 blogs que adore ler.
Tenho ainda de enumerar 5 coisas que adore...

Blogs

Dentro do copo vazio
Precious Thing
Rua do Arco Iris
Viagem Les
Meia Volta

Coisas que adoro

Cheiro do mar/maresia
A luz da manhã
A luz de Janeiro ao entardecer
Cheiro a terra molhada
Pessoas e viagens, viagens e pessoas

Agora é suposto que os boggers enumerados façam o mesmo.
Be my gest.

domingo, 10 de maio de 2009

Robert and Shana ParkHarrison, Bloodroot.
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Há uma espécie de massa densa que pesa no peito, como quando nos sentimos interiormente assombrados, ensombrados.
Dentro uma névoa, casulo, e uma espécie de tendência de auto-destruição interior para apagar os passos, partir os fios que se tecem e nos norteiam, e fundeiam num ancoradouro que sabemos não ser, correr, rasgar e sair para o sol.
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Robert and Shana ParkHarrison, Mourning Cloak.


A tua vida é uma história triste.
A minha é igual à tua.
Presas as mãos e preso o coração,
Enchemos de sombra a mesma rua.

A nossa casa é onde a neve aquece.
A nossa festa, onde o luar acaba.
Cada verso em nós próprios apodrece,
Cada jardim nos fecha a sua entrada.


Eugénio de Andrade, em As Mãos e os Frutos.



Robert and Shana ParkHarrison, Summer Arm

quinta-feira, 7 de maio de 2009




Há dias em que nos questionamos sobre os caminhos, sobre as estradas que nos conduzem, sobre o lugar onde nos levam.
Percorremo-los todos os dias, sem que queiramos ou tenhamos grande interesse em prender o olhar. Um desses dias paramos, e olhamos melhor. O olhar, distante e amorfo descobre subitamente a beleza e a fragilidade de uma flor. Nesse instante criamos raízes, ali.
Mas as raízes não germinam na frieza e dureza do cimento, e lentamente obrigamos a que sequem.
Não estamos ali.
Não há lugar para nós.



quarta-feira, 6 de maio de 2009


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this love, doesn't have to feel love, doesn't care to be love, it doesn't mean a thing, this love.

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terça-feira, 5 de maio de 2009



Somos os lugares e interiorizamos as cores.
Porto, na Ribeira, porque há lugares suspensos, momentos eternizáveis e partilhas que são indizíveis tão grandes que crescem.
Um dia hei-de ser um lugar assim, e nesse dia não vou querer ser maior. Apenas poder contar com a eternidade dos momentos, até que a alma me doa e o peito expluda de tanto que já não conseguirá guardar.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Tenho cada vez mais a certeza que somos melhor Pessoas, enquanto indivíduos que nos damos, porque nenhum Homem é uma ilha – isso já sabemos, que alguém já disse, e também já foi repetidas vezes escrito e dito até à exaustão – mas sim!
Não somos melhores isolados, desprovidos da força anímica para os encontros, da partilha de palavras, sorrisos e olhares. Tudo tem um começo, e todo o começo para estender laços é saudável e torna-nos mais fortes, menos sós.
A minha força anímica, neste caso, não partiu bem de mim, confesso, mas foi algo que veio de fora e veio por bem. Encontrar pessoas que só encontrávamos em rios de palavras e poder dar-lhes um contorno, trompe l'oeil, é um passo para construirmos ístmos e por fim chegar, fortalecer.
O que fica? Afinidades mais fortes e Identidade(s).
A vontade de novos (re)encontros.
Quero agradecer aqui (poderia faze-lo por mail, e gostaria, mas não os tenho a todos, e ainda me falta o tempo) a quem tomou a iniciativa de organizar o encontro e o tornou possível, e a quem participou.
Até à próxima, e enquanto isso fiquemos por aqui, no lugar do costume.