quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008



Daniel Faria, para mim, é como o mar. É onde gosto regressar quando preciso de me deixar perder, desprender, desnudar…

[...]

Tornei-me peso
Rochedo respirando para dentro nos líquenes interiores
Peso da ceguez nos meus olhos contaminados
Das pupilas inquinadas pelas pedras interiores

Tornei os olhos muito impuros por milhares de imagens
Pedras internas golpeando-me
Tornei-os incapazes das visões
Das visões interiores e por fora
Da aparência
Afoguei os olhos no meio das águas
Um peixe cheio de canais mudando as suas cores
Doendo-me muito nos olhos cobertos
Por escamas

Quis abrir os olhos no meio das águas no meio das imagens
E estava cego, estava coberto de fantasmas
Quis respirar com as mãos na garganta, guelras acesas
Porque as imagens não tinham rostos nas janelas

Elas fecharam-se sobre os meus olhos, em cardume,
Elas apontaram-me aos olhos as antenas interiores
Elas propagaram-me um modo cerrado de não ver

Dinamitei depois tudo o que em mim tinha forma de aquário
Um aquário sem nada dentro dele, dinamitei de vazio
Aquilo que na transparência tinha material explosivo
Uma força concreta, a capacidade de um cenário
Devastado

E dinamitei o vazio e encontrei um peso
Humano que não se afundava:
Era um milagre como Lázaro vindo para fora!
Era um homem que nos levava por um caminho desconhecido para casa
E que partia o pão. E eu vi que era ele
Que partia
O pão.


[...]

Excerto do poema “Mas basta-me um quadrado de sossego”do livro Homens que são como lugares mal situados.
Daniel Faria

3 comentários:

serotonina disse...

Não conhecia, vou pesquisar e ler mais.
Obrigada pela partilha.

Anônimo disse...

belíssimo, grafis :)

GRAFIS disse...

Seretonina
Há uma antologia da poesia dele (acho que completa) da Quasi.

alice
tb acho :)