domingo, 29 de junho de 2008
há-de flutuar uma cidade no crepúscolo da vida
pensava eu... como seriam felizes as mulheres
à beira mar debruçadas para a luz caiada
remendando o pano das velas espiando o mar
e a longitude do amor embarcado
por vezes
uma gaivota pousava nas águas
outras era o sol que cegava
e um dardo de sangue alastrava pelo linho da noite
os dias lentíssimos... sem ninguém
e nunca me disseram o nome daquele oceano
esperei sentada à porta... dantes escrevia cartas
punha-me a olhar a risca de mar ao fundo da rua
assim envelheci... acreditando que algum homem ao passar
se espantasse com a minha solidão
(anos mais tarde, recordo agora, cresceu-me uma pérola no coração. mas estou só, muito só, não tenho a quem a deixar.)
um dia houve
que nunca mais avistei cidades crepusculares
e os barcos deixaram de fazer escala à minha porta
inclino-me de novo para o pano deste século
recomeço a bordar ou a dormir
tanto faz
sempre tive dúvidas que alguma vez me visite a felicidade
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Al Berto
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domingo, 22 de junho de 2008
quinta-feira, 19 de junho de 2008
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Amanhã Portugal mergulhará de novo na cruel realidade dos dias, agora que acabou o circo do futebol:
o aumento dos combustíveis, o aumento da electricidade, o aumento das tarifas de telemóvel, o aumento dos juros, o aumento dos impostos, os projectos megalómanos do governo que nos hão-de comer a carne e os ossos… enfim… o aumento generalizado do custo de vida e a degradação das condições de vida não só da classe média (porque se as da classe média se estão a deteriorar a níveis que não vi antes, agora imagine-se as das classes mais baixas…).
Enfim, acabou-se o balão de ar do qual viviam os Portugueses ultimamente, distraídos com o colorido da festa.
Mas Portugal terá de aprender assim, porque Portugal é uma criança mimada e embirrenta, pouco esforçada, pouco perspicaz, filha de uns pais anarcas ou pseudo-socialistas, pseudo-intelectuais, que desde há 34 anos viraram novos-ricos à custa da finta pública, do oportunismo e em bom nome e interesse pessoal, com todas as manias e vícios que os novos-ricos ganham e que geralmente estragam a linhagem… A educação... de facto, tão importante…!!!
Agora, esta criança mimada e embirrenta terá de voltar ao inferno, encara-lo de frente e perceber como é que vai sair do buraco. Se chegar a perceber, já que o país fala de alhos, o governo de bugalhos e a criança embirrenta só pensa nos doces que há-de receber, dados, de preferência a cair do céu e sem se ter de esforçar muito a pensar ou sequer a encontrar soluções para ganhar a vida, honestamente, construtivamente, em nome de um colectivo que se chama comunidade/sociedade civilizada…
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domingo, 15 de junho de 2008
Interlocutores – Lereno e Umbro
Numa noite sem lua,
por negras horas mortas, enquanto na cabana solitária
Umbro ouvia os segredos do silêncio
e o murmúrio tão próximo do Lísio
que corria na sombra,
ao pastor esquecido e desterrado
de súbito aparece
a sombra do zagal
Ilustre e melodioso
entre os de Portugal,
que a Vilante branquista cantara
na cantiga imortal.
Lereno
Voltas enfim aos nossos campos belos,
ao doce vale do Lísio,
Umbro, que há tanto tempo
tu por outros trocaras
para aos nossos formosos esquece-los;
voltas à terra verde, outeiro e vale,
que teus avós amaram,
onde fortes, cantando, trabalharam,
e que este caro rio
de cristalino fio
rega tão fino e claro.
Porém triste te vejo
matando os tristes dias,
que para ti começam à tardinha,
apenas co’o desejo
de matá-los depressa,
e pálido estendendo as mãos geladas
para lume perpétuo de fogueira
que mais que o sol aqueça.
Zagal porque te calas e te encerras
num silêncio de morte
e foges ao convívio dos pastores?
Não amas a beleza destas terras?
Ou não tens olhos para ver zagalas?
Já não há prados, musica e amores?
[…]
Porque vives sozinho e sempre absorto?
se muito bem fizeste
em deixar os amigos mentirosos
aos amigos fieis descoroçoas?
Ah! que os deuses propícios
te mandem um sorriso
e ali se há-de então ver que não és morto.
[…]
Ergue, pois, em voz clara,
que já viste um dia,
o louvor destes campos, destas águas;
se tens mágoas, com elas tece um canto,
se te alivia o pranto
desata-o corajoso;
e aprende sobretudo a amar a terra,
e bem que nunca passa,
que nos dá pão – a graça,
e vinho – essa alegria!
Umbro
Ó Loreno, pastor que tanto admiro
e este prados ilustras com teu nome,
em cujas mãos, tangendo
a melodia azul das pastorais
ficou a frauta rústica de Almeno,
e pastor mais famoso entre os pastores!
Não me fales de amores!
Um dia vi o amor – era medonho:
tinha olhos convulsos de anjo bêbedo
e a mascara do ódio.
Não me fales da terra – é fome e ruína,
o pão bendito? Dá-se aos animais!...
A alegria do vinho?
Ele é luto e pobreza!
E a própria abastança
da portuguesa terra
faz morrer dia a dia,
em pálida agonia
que lhes apaga os olhos,
as crianças de fome que as consome
Juntamente co’o o ranho e co’os piolhos!...
Loreno, despe o trajo
da tua pastoral
e vai, sem arrabil,
como homem apenas,
ver a miséria negra desses campos
onde já não há danças nem cantares
e onde pesa a morrinha melancólica
dos apagadores lares.
- Olha a nossa Bucólica!...
Põe os olhos no chão dessas ribeiras
- por onde os lindos pés
alvíssimos e nus
de Vilante passaram –
e lembra-te que o próprio
chão que sempre foi nosso
e não é desde agora,
pertence ao novo deus que nos devora;
já não é de ninguém, o deus o come,
as cruíssimas coimas
do maioral dos gados lastimosos
o fez perder aos poucos
aos pobres que choravam,
- em vez de irem em cata
dos cajados nodosos!...
Onde estão os cajados portugueses
que algum dia se ergueram
em defesa da honra e da justiça?
Marmeleiros lustrosos
e castanhos robustos,
onde estais, onde jaz adormentada
vossa força elegante
em justiceiros giros,
que não sais de novo
contra quem – o verso é de Os Lusíadas –
A despir e roubar o pobre povo?
Ó doce chão da Pátria
vê-lo-ás empenhado em mãos de usura;
já todo o Portugal,
do extremo norte ao sul
(menos a parte inchada de fartura),
pendurado se vê do Prego imenso
e do Prego pendendo se balança
do Minho verde ao Algarve azul!...
Ó casais de Família
que dos avós se herdaram
e que seus netos mais que a vida adoram!
Mimos claros de pobre,
seu orgulho e sustento,
seu gosto e mantimento
e seus lindos amores,
cousa a que tanto quere
que não inveja campos de senhores
nem por eles trocara
a leira que lhe torna
a alma ditosa e avara.
- Vê-los agora à venda e desdenhados,
por vil preço ofertados,
leira amada e perdida!
e às portas dos casais
o lavrador arranca fundos ais
por essas terras cheias
do seu profundo amor,
e sente que lhe chupam sangue e suor
pelas sagradas veias!...
[…]
Olha os rebanhos trágicos que emigram
para campos longínquos,
abandonando os lares
e metendo-se aos mares.
Deixando silenciosas e desertas
sem lar com lume ou boca com cantiga
as aldeias natais
até que o desamparo e a fome nova
os torne a remeter à fome antiga!
Vai ver por essas terras
as mil hospedarias
onde aposentam, para que mais goze,
a grã Ceifeira nossa
que nos ceifa de quarto em quarto de hora,
de sorte que uma guerra
perpétua que devora.
- Senhora (assim lhe dizem)
não façais cerimónia, a casa é vossa
e a fome que aí vai dá festa grossa
ao famoso apetite que nos tendes! –
e olha como definha
à mingua de ar, de luz, de pão e de água,
de comer, de lavar-se, de estimar-se,
de poder respirar alegre fundo
e se torna medrosa ou engelhada
esta gente de Luso
já de forças tão belas
que deu mundo ao mundo
e ao céu novas estrelas.
[…]
Se peregrino fores
também hás-de encontrar
gordíssimos pastores
que te dirão que o prado resplandece
de searas, de vinhas e de flores;
com semblantes risinhos
e ânimos confortados
hão-de mostrar-te altíssimas cabanas
e nas ribeiras os bateis armados
(palácios e batéis
feitos de fome e lágrimas),
mas a esse responde:
- Levanta mil palácios, mil castelos,
se lhe não pões espírito lá dentro
tudo isso é caliça;
arma nas águas mil batéis armados;
se não lhe pões espírito lá dentro tudo isso é sucata!
Vai-te, Loreno ilustre!
vai-te e não me apoquentes,
fora de aqui com a écloga, zagal!
De mentira é que morre Portugal
e tu próprio és mentira:
deixa-me e leva a pastoral e a lira!
[…]
Afonso Lopes Vieria, Éclogas de Agora, Edição do autor, 1935.
sábado, 14 de junho de 2008
quinta-feira, 12 de junho de 2008
No caminho com Maiakovski
Na primeira noite eles aproximam-se
e roubam uma flor do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem,
pisam as flores,
matam o nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo o nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
Vladimir Maiakovski
quarta-feira, 11 de junho de 2008
Daqui a uns anos poderei dizer que ainda fui do tempo em que encher o depósito de gasóleo custava cerca de 70 euros e quase uma hora de espera na fila na estação de serviço (isto, em plena segunda parte do jogo da selecção portuguesa)…
terça-feira, 10 de junho de 2008
Pois para esses eu digo: vão lá dar uma voltinha ao bilhar grande que eu estou farta de julgamentos de gentinha que não sabe olhar para si própria.
começar por aí.
domingo, 8 de junho de 2008
sexta-feira, 6 de junho de 2008
Eis a ideologia criminosa que se instalou definitivamente nas sociedades modernas: a vida não é para ser vivida - mas construída com sucessos pessoais e profissionais, uns atrás dos outros, em progressão geométrica para o infinito. É preciso o emprego de sonho, a casa de sonho, o maridinho de sonho, os amigos de sonho, as férias de sonho, os restaurantes de sonho.
Não admira que, até 2020, um terço da população mundial esteja a mamar forte no Prozac. É a velha história da cenoura e do burro: quanto mais temos, mais queremos. Quanto mais queremos, mais desesperamos. A meritocracia gera uma insatisfação insaciável que acabará por arrasar o mais leve traço de humanidade. O que não deixa de ser uma lástima.
Se as pessoas voltassem a ler os clássicos, sobretudo Montaigne, saberiam que o fim último da vida não é a excelência, mas sim a felicidade!
quinta-feira, 5 de junho de 2008
...é importante dar pequenos passos para mudar o mundo...
O sal da língua
Escuta, escuta: tenho ainda
uma coisa a dizer.
Não é importante, eu sei, não vai
salvar o mundo, não mudará
a vida de ninguém - mas quem
é hoje capaz de salvar o mundo
ou apenas mudar o sentido
da vida de alguém?
Escuta-me, não te demoro.
É coisa pouca, como a chuvinha
que vem vindo devagar.
São três, quatro palavras, pouco
mais. Palavras que te quero confiar,
para que não se extinga o seu lume,
o seu lume breve.
Palavras que muito amei,
que talvez ame ainda.
Elas são a casa, o sal da língua.
Eugénio de Andrade
segunda-feira, 2 de junho de 2008
domingo, 1 de junho de 2008
Here comes the Sun…
M e s m o . q u e . e l e . d e m o r e . . .
Here comes the sun, here comes the sun, and I say its all right
Little darling, its been a long cold lonely winter little darling, it feels like years since you been here here comes the sun, here comes the sun and I say its all right
Little darling, the smiles returning to the faces little darling, it seems like years since you been here here comes the sun, here comes the sun and I say its all right
Sun, sun, sun, here it comes...
Little darling, I feel that ice is slowly melting little darling, it seems like years since you been clear here comes the sun, here comes the sun, and I say its all right
Its all right
Interpretado por Nina Simone.