quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Claire Hervey, Easily removable-people, 2007

Hoje compreendo que certos percursos também esgotam e desgastam, que certos caminhos não correspondem às expectativas, não levam onde queremos ir.
Compreendo que quando não conseguimos ou não sabemos que outro caminho tomar, inventamos conflitos que hão-de ser o derradeiro motivo para provocarmos uma ruptura e a partida para fora do trilho, para finalmente enveredar pelo meio do mato.

Como se não fosse possível partir sem quebrar todos os laços, sem sentir culpa… como se houvesse que sentir culpa ou remorso…

Assim inventamos uma série de queixumes e insatisfações para provocarmos a derradeira ruptura e partir sem culpa. Ou deixar partir. Ou provocar partidas…
Que outro motivo poderá haver para tantas amputações denunciadas, para tantas queixas e insatisfações, para tantos conflitos…?

Claro que pelo meio de silvados e tojos muita pele se rasga e sangra, muita dor… mas o caminho faz-se caminhando, faz-se abrindo veredas e procurando por clareiras e trilhos, renascendo.

Os dias são quase como viver numa selva na qual o mais pequeno insecto pode matar, mas uma fonte inesgotável de vida e possibilidades para além da sobrevivência, uma fonte inesgotável de caminhos e de lugares onde chegar.

Sempre vivi com o que me era dado, na plena consciência das possibilidades, e sempre me ofereci, tudo o que eu sou e tenho, sempre me dividi com todos os que me rodeiam. É nisto que acredito e é isto que me trás alguma felicidade pura: repartir-me e o pouco que tenho, qualquer caminho que tome, e a cada gota de sangue que os tojos e as silvas me roubam, eu deixo, não cobro, não me queixo e não peço de volta.
Temos a mesma capacidade que o corpo, o sangue e a pele: a de nos renovarmos e ganharmos mais para dar, para quem quiser receber, na justa medida e proporção que tivermos que repartir para dar…

… “quem semeia ventos colhe tempestades”… lamentavelmente.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Apenas vestígios, das carícias, das ondas que vieram e voltaram ao leito.
Vestígios inanimados que o vento há-de apagar.
E amanhã, a maré.
Efémero.

domingo, 27 de janeiro de 2008

Numa das minhas pesquisas na net encontrei este artigo que, vindo de um católico, apostólico, romano do "aparelho", não deixa de ser surpreendente.

A homossexualidade não pode ser discutida apenas em termos políticos e jurídicos, sustentou o teólogo dominicano Mário Botas esta terça-feira, 20, à noite, no Palácio de Fronteira em Lisboa, numa pregação integrada no ciclo "Sermão e Sermões da Oratória Lisboeta", promovido pela Fundação das Casas de Fronteira e Alorna. "Os discursos mais aprovadores e justificadores", disse, criticando as posições do Bloco de Esquerda , "tendem a anular sistematicamente a diferença.

Não basta a tolerância. É preciso aceitar os homossexuais tal qual são. Com o drama de não serem como os outros". Porque, concluiu, "nunca ninguém conseguiu viver em paz com esta condição".

Vestido de negro mas sem qualquer sinal exterior indicando a ordem em que professa, Mário Botas, 32 anos, apresentou-se à assistência (não mais de duas dezenas de pessoas, maioritariamente do sexo feminino) disposto a não alimentar quaisquer equívocos. O seu sermão seria uma "meditação pessoal, em voz alta", marcada pelo drama de muitos amigos e de outros que o procuram e se sentem excluídos da Igreja. Mas queria que ficasse claro que a sua Igreja ("que é a Católica, Apostólica, Romana"), no essencial "não foi infiel à verdade". Na leitura que faz da Bíblia, a verdade doutrinária assenta no princípio de que a realização do amor se funda na diferença sexual e se realiza no casal. "Não vejo como poderia a Igreja dizer algo diferente, hoje ou amanhã".

O sermão deste frade alentejano que se converteu aos 17 anos e se prepara para ensinar Teologia na Universidade Católica em Lisboa, situar-se-á algures entre o extremo repressivo dos tempos em que "qualquer coisa que dava prazer ou era pecado ou fazia mal à saúde" e a dominante hodierna em que "faz tudo parte da paisagem".

Verbo a soltar-se amiúde do texto base do sermão, cigarro atrás de cigarro quando o debate começou, o teólogo dominicano sublinha o "sentimento de injustiça" que invade aquele que um dia se descobre "a viver com um certo destino". A família, a escola, o emprego encarregar-se-ão de lhe tornar presente esta "anormalidade". Ninguém, contudo, pode ser condenado "pelo facto de ser aquilo que é".

"O Deus vivo que criou toda a gente, só criou o mundo para alguns?", pergunta-se Mário Botas. Sendo cada corpo humano um templo habitado por Deus, "são em vão, esses corpos [diferentes]?".

O dominicano repete uma das ideias chave do seu sermão: "Como cristão, não me sinto capaz de culpabilizar pessoas por aquilo que elas vivem". E recorda, a propósito, que quando em França - país onde ensinou durante cinco anos Teologia Moral Fundamental - ainda os homossexuais eram internados em hospitais psiquiátricos, já a Igreja dizia que "a homossexualidade não é doença, mas condição".

Ao contrário da regra clássica, o pregador deste "sermão do presente" não polvilha as frases de citações latinas. Prefere-lhes a indicação de bibliografia que vai da própria Bíblia a autores "malditos" como Céline, e apresenta vários exemplos de escritores cuja homossexualidade coexistiu com intervenções públicas de feroz homofobia.

Antes do final do sermão - terminado com o "Amen" da tradição e as palmas de uma assistência que ainda ficará longos minutos a fazer-lhe perguntas e a pedir-lhe esclarecimentos - repete a pergunta: "Se o Deus vivo não dá ao amor uma residência vigiada, quem de nós poderá dizer que o amor de Deus não vai eclodir diante do amor de um homem por um homem ou de uma mulher por uma mulher?".

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Felizmente, há na Igreja quem entenda a palavra de Deus.

Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados (Lucas 6,37)

Um cego pode guiar outro cego? Não cairão os dois nalguma cova? (Lucas 6,39)

terça-feira, 22 de janeiro de 2008


Turismo social e água benta...
Alguém dizia hoje durante o almoço que este ano iria dedicar 100% do tempo das suas férias à solidariedade.
Então era assim: viajar para um país africano para trabalhar gratuitamente a construir escolas, bairros sociais, hospitais, etc..
Para isso pagaria entre 1500 e 2000 euros para viajar, ficar instalado num hotel qualquer em regime de meia pensão e trabalhar no duro, todo o dia durante 15 dias, na construção de escolas para as criancinhas pretas pobrezinhas…

Não querendo roçar a indelicadeza, isto faz-me lembrar qualquer coisa: os profundos beatos e beatas que vão fervorosamente à missa de Domingo, passando primeiro pelo Sr. Padre para fazer a confissão dos pecados semanais, mostrar arrependimento, receber a penitência e alcançar a absolvição. Hora e meia depois voltam leves e descansados a casa, e na segunda-feira voltam à labuta dos pecados na que se hão-de acumular até ao Domingo seguinte.

Ora, eu não acho que não se deva ajudar os países africanos. Acho que toda a ajuda é pouca. Mas também acho que devemos ajudar da melhor forma que soubermos e formos úteis, com seriedade.
Tenho a certeza que, por metade desse dinheiro (ou menos, se considerarmos a diferença do valor do trabalho em Portugal/África) os pedreiros africanos fariam bem melhor e ainda estaríamos a contribuir para a melhoria das condições sociais e económicas naquele continente, gerando emprego e potenciando o desenvolvimento sustentado.
Acho ainda maior a hipocrisia quando se sabe que a uma boa metade destas pessoas bastava-lhes esticar o braço e dedicarem 3 horas da vida delas, semanalmente ou de quinze em quinze dias, a ajudar outras pessoas, nas suas áreas profissionais ou simplesmente com trabalho indiferenciado, para mudarem significativamente a vida de muitos portugueses.
Sim, porque Portugal também precisa de solidariedade, muitas vezes bastam duas ou três horas do nosso tempo, e de pequeno gesto em pequeno gesto vamos conseguindo mudar a cores da paisagem que nos rodeia.
Muitas vezes a necessidade mora ali ao nosso lado, mas nós vamos para África... Ora muito bem! que é como quem diz, "chica esperteza saloia"! (para não dizer outra coisa).

domingo, 20 de janeiro de 2008


Há pouca coisa que chegue a estes momentos de encontro, manhã dentro, ao longo da linha do mar. Há muito tempo que não o fazia.
Às vezes temos quase tudo dentro de nós. Só não passamos tempo suficiente connosco para o descobrir, até porque o processo é angustiante e penoso, e o sofrimento afasta-nos das questões cruciais.
Depois de nos reconciliarmos estamos prontos. Prontos para os dias, prontos para os outros. De resto, sempre foi aquilo que realmente senti que valia a pena. Os outros.
E a simplicidade dos dias de sol.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Há 74 anos atrás, na madrugada do dia 18 de Janeiro de 1934, iniciavam-se os preparativos daquele que foi o único movimento de revolta contra a Ditadura Nacional realizada exclusivamente pela massa operária, sem qualquer apoio da frente militar ou politica de então.
A jovem república, ao fim de 16 anos de vários governos e parlamentos, que mais não souberam senão esgotar-se e digladiar-se em ataques políticos e pura retórica, cedo foi esmagada por uma novo regime, matreiro e pragmático, que criaria condições à instauração do famigerado Estado Novo.

Portugal estava mergulhado numa crise económica grave motivada quer pelas várias crises europeias da última década, quer por um défice público muito acentuado. A indústria não ia bem, e os operários, que até aí tinha conseguido uma magra diminuição das horas de trabalho, alguns direitos sociais (providência) bem como o direito à greve e à livre associação, começavam a pagar a factura por todos os erros de governação do Estado, da crise Europeia e da diminuição do lucro dos seus patrões, entre outros.
É neste clima de instabilidade e de grande mau agoiro que surge o “salvador”: Oliveira Salazar, que milagrosamente e à custa de “muitos sacrifícios” e artimanhas orçamentais, legislativas e constitucionais, engendra um “pacote de medidas” para salvar o país do défice e da miséria.
Na altura valiam-lhe as colónias (hoje parece que nos vale a Europa).
Uma dessas medidas foi a corporativização dos sindicatos, a proibição do livre associativismo, promovendo uma outra forma de associação de classe que congregasse os interesses dos operários com os dos patrões sob a vigilância e orientação do Estado.
Houve outras: a censura, a policia politica, a nova constituição, o novo Estatuto Nacional do Trabalho, a Mocidade Portuguesa, as colónias penais (campos de concentração para presos políticos), etc, etc, etc.

Ora, os operários, que assistiam à degradação das suas condições sociais e à diminuição da sua liberdade individual, verificaram logo que juntar patrões e operários no mesmo saco não era bom, e muito menos era não poderem associar-se e elegerem livremente os seus representantes, entre outras coisas.
Resolveram então levar a cabo a maior Greve-Geral que o pais já vira.

Para isso, de norte a sul deveriam organizar-se para tomar de assalto e controlar tudo quanto eram vias e meios de comunicação, assim como neutralizar policias e militares, para que no dia seguinte os operários tivessem condições para virem para a rua fazer a greve.
Em muitos locais chegaram a faze-lo, de forma mais ou menos pacifica, do Algarve até Braga, destacando-se alguns locais onde a revolta foi mais significativa: Silves, Barreiro, Almada, Lisboa e Marinha Grande.
Porém, sem o apoio das forças militares (que era para ter acontecido e não aconteceu) e feridos de morte devido à captura, dias antes e na véspera, de alguns sindicalistas cabecilhas do movimento, a revolta fracassou.
Salazar foi implacável na repressão desta revolta e a provar isso mesmo foram as penas pesadíssimas aplicadas aos revoltosos: vários anos de prisão, com degredo ou desterro, nos Açores, no Tarrafal (onde muitos perderam a vida mercê de condições de vida degradantes), e em Peniche, perda de direitos políticos, famílias na miséria, etc.
A grande maioria destes homens tinha entre 20 e 30 e poucos anos, e deixaram para trás pais, mães, mulheres e filhos...

74 anos depois há que fazer uma grande e justa homenagem aos milhares de operários que tiveram a audácia de se insurgirem contra a perda de direitos, contra a degradação das condições de vida e direitos laborais, contra a degradação do sistema social, contra a perda de liberdade, contra uma constituição autocrática que não servia a liberdade e a democracia, contra a censura, contra as assimetrias sociais, etc., etc., etc.

Muitos dstes operários eram analfabetos. Mesmo que soubessem ler, não tinham dinheiro para comprar o jornal. Estes operários tinham famílias numerosas que dependiam do seu trabalho e sabiam que uma insurreição desta natureza iria significar represálias, fossem ligeiras ou graves, dos patrões e do Estado. Estes operários, ainda “toldados” pelo medo e superstição, viviam debaixo da Igreja Católica Apostólica Romana que sempre jogou a favor destes regimes...

74 anos depois a história volta quase a repetir-se: O défice, o apertar o cinto, o fecho dos centros de saúde, maternidades e hospitais, e a privatização destes serviços fundamentais do estado; as perseguições aos professores e ao ensino público em particular, aos funcionários públicos e aos seus salários, a ascensão e grande influência do capital especulativo sobre o poder executivo e legislativo, e agora a tão falada (que hoje não se ouvia outra coisa) nova lei para eleição e representação politica local, a tão falada revisão constitucional para tornar a constituição mais permeável ao interesses económicos e políticos, o novo projecto europeu que agora não se chama constituição mas que na prática é a mesmíssima coisa, tirando um ponto ou outro…
Dá vontade de dizer (que pensar já eu penso) que 74 anos depois precisávamos cá dos homens do 18 de Janeiro de 1934 para nos dar um xuto no cú e nos porem a tratar de um novo rumo para o país, mais justo e mais social.
...e não nos esqueçamos, p.f., das raposas matreiras, paternalistas, patrióticas, de voz fininha e bem falantes, que nos tentam "atirar areia para os olhos".

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008


Jorge Welsh - Arte Namban
Lisboa
A partir de 18 de Janeiro de 2008
.
Inicialmente não mencionei mas parece-me relevante dizer que se trata de uma das mais importes colecções de Arte Namban da Europa, senão do mundo inteiro, e uma rara oportunidade de ver esta colecção particular.
A não perder!

O termo Namban-Jin (em Japonês, "Os Bárbaros vindos do Sul"), aplicado à Arte, caracteriza os objectos que foram encomendados por europeus no Japão ou os que aí foram produzidos com influências europeias nos sécs XVI e XVII, particularmente a portuguesa. Alguns exemplos são as peças em laca (verniz duro e impermeável, originário do Oriente) com motivos ocidentais e símbolos cristãos (sob particular influência dos missionários Jesuítas), para além da caracterização peculiar dos europeus com olhos e narizes grandes e com calças em balão.
Entre os principais destaques desta exposição encontram-se: um par de biombos de seis folhas de cerca de 1620, com "A Rota Marítima de Osaka para Nagasaki" com informação cartográfica da chegada das embarcações comerciais europeias e asiáticas; um Ventó em madeira lacada e decorada com pele de raia e madrepérola; um Conjunto de Arreios Ornamentados, incluindo Sela, par de Estribos e Acessórios; uma rara caixa com formato de uma Carta Dobrada (ao que se sabe, o único exemplar Namban registado deste tipo); e uma Píxide ou Caixa para Hóstias, que é a única que se conhece sem o monograma "IHS", pois calcula-se que tenha sido retirado por volta de 1613, época em que as peças decoradas com este desenho, de significado especial para a comunidade cristã, se tornaram alvo de destruição durante as perseguições religiosas que se seguiram.
Fonte: e-expresso
Paulo Capelo Cardoso - Sapatos Pretos


O amor devia curar-se como se cura uma bebedeira.
Com uma Aspirina pela manhã, goela abaixo, efervescendo, limpando o canal e o sangue.
Mas como não se cura assim, fazemos como para a Gripe: bebemos chá de limão com mel e esperamos que passe.

domingo, 13 de janeiro de 2008



Ainda te falta
dizer isto: que nem tudo
o que veio
chegou por acaso. Que há
flores que de ti
dependem, que foste
tu que deixaste
algumas lâmpadas
acesas. Que há
na brancura
do papel alguns
sinais de tinta
indecifráveis. E
que esse
é apenas
um dos capítulos do livro
em que tudo
se lê e nada
está escrito.

Albano Martins in Escrito a Vermelho


sábado, 12 de janeiro de 2008

Brassai - Le Pont Neuf

Nenhum homem é uma ilha, sozinho em si mesmo; cada homem é parte do continente, parte do todo; se um seixo for levado pelo mar, a Europa fica menor, como se fosse um promontório, assim como se fosse uma parte de seus amigos ou mesmo sua; a morte de qualquer homem diminui-me, porque eu sou parte da humanidade; e por isso, nunca procure saber por quem os sinos dobram, eles dobram por ti.
Ernest Hemingway in Por Quem os Sinos Dobram.


Hoje sou mais istmo.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008



Inês Pedrosa, em entrevista à revista Única (publicada na edição de 5 de Janeiro) afirma a determinada altura que: “Com o 25 de Abril, libertámo-nos por um momento de uma série de medos. Mas, apesar de ter muita admiração pela data [?!?!?!?!], pergunto-me: o 25 de Abril, o que foi? Foram os Portugueses que se revoltaram? Não. Foram alguns militares corajosos que se irritaram, porque se sentiam maltratados em relação aos do quadro, e que, por uma questão cooperativa, lançaram o 25 de Abril; as pessoas foram atrás. Mas porque é que aguentaram 40 anos a ditadura? Porque a mereceram.”

… sr.ª Inês Pedrosa, fale por si!
A sr.ª está a precisar de aprofundar os seus conhecimentos sobre história contemporânea de Portugal, porque a sua afirmação é, no mínimo, naife!

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Carlos Nogueira - casa com esquina a céu aberto - 2005, ferro, madeira, vidro, luz e cheiro - 90x270x180cm

A crítica, tal como existe presentemente nos “media”, não é mais que um mero instrumento ao serviço dos negócios da cultura. Assim sendo, toda a arte verdadeiramente independente que existe à margem desses negócios não é objecto de crítica e, como tal, parece não existir na sociedade de informação, que, afinal, não informa. Mas existe, essa arte existe!
Nuno Rebelo – Revista Actual, edição n.º 1836 de 5 Janeiro 2008, Sul.

Essencial para o constante aperfeiçoamento de qualquer actividade que façamos. Sem esse olhar terceiro sobre o que cada um de nós produz, o sistema funciona de modo incompleto, torna-se demasiado autocentrado e redutor. Mas existem críticas e críticas, claro. Quanto mais assertivo, corajoso, inteligente e imparcial é o critico mais significativo pode ser o seu olhar. Acima de tudo, a crítica relativiza e tem um potencial desestabilizador e desafiante que é altamente estimulante, fundamental, para o processo de criação. Sabe uma coisa? Há falta de verdadeira crítica sobre design em Portugal…
Guta Moura Guedes - Revista Actual, edição n.º 1836 de 5 Janeiro 2008, Sul.

Não poderia estar mais de acordo.
Se bem que me parece que há verdadeira falta de crítica em tudo.
Não é só sobre Design.
E de auto-critica também.


segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Luiz Pacheco
Passou ontem na RTP2 a propósito do desaparecimento no passado Sábado de Luiz Pacheco.
Aqui ficam alguns pedaços.

(para ouvir convenientemente, é favor desligar o rádio lá em baixo. Obrigada.)


O Cachecol do Artista


O Tradutor


Os Amigos


O Crítico - O caso do sonâmbulo

Ás vezes, palavras duras, definitivas, a luta dos indivíduos (a morte ou a vida), e chacotas pelos fracassos de cada um, e arremessos de mau, génio, e vampirismo, pois então. Somos puros.
Comunidade (1964)


domingo, 6 de janeiro de 2008




Eu até era capaz de vomitar o mundo num esgar, sem piedade, mas a verdade é que não me levo a sério, nem posso, e também sei que há três segundos atrás eu não era eu.





Os videos são da exposição de Xana O Falso Diário de A.B., patente na Central Tejo - Museu de Electricidade, de Julho a Setembro de 2007.

sábado, 5 de janeiro de 2008

Rui Chafes - Eu sou os outros


somos, não somos…?
somos um, ou a soma das partes?

somos os laços, as dores, os braços, somos os amores.

ou cães vadios, com cio?

ou somos simplesmente sós?
ou múltiplos novelos de fios em ferro forjado, enferrujado, emaranhados?

somos o que sentimos por fim

e eu nunca parti do principio que sou o limitadíssimo ponto do meu umbigo
simples

...é!
tudo parece certo assim
sente-se

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008


Daniel Senise, "CEM"(884-07)

Iniciar mais um ano, além do ritual de inicio de novo calendário, do recomeço de processos, significa muitas vezes também, sentir desejo de iniciar um tempo novo, uma vida nova, cortando os fios que nos ligam aos dias antes, ignorando, ingenuamente, a linearidade e sequencialidade de tudo.
O desejo não tem de estar sujeito à razão, e não está, creio, e se eu deixar de ser pragmática, apenas que seja por uma hora, talvez me permita sentir o desejo de cortar os fios, reduzi-los a cinzas e avançar, deixando atrás de mim a fogueira consumindo-se, extinguindo-se, espraiando-se em pó.
O pragmatismo também nos permite discernir, analisar, contornar obstáculos, emendar caminhos, permite-nos resgatar de uma vida de imperfeição e impossibilidades.

Poderá ser então que o desejo seja o motor que nos impele à força para caminhar e o fogo um ritual de catarse e de excreção da frustração.

Não é muito mau não ter coisa alguma, não ter para onde se vai, não ter onde chegar.
E é muito bom estar aqui e ter amanhã para viver.