Há 74 anos atrás, na madrugada do dia 18 de Janeiro de 1934, iniciavam-se os preparativos daquele que foi o único movimento de revolta contra a Ditadura Nacional realizada exclusivamente pela massa operária, sem qualquer apoio da frente militar ou politica de então.
A jovem república, ao fim de 16 anos de vários governos e parlamentos, que mais não souberam senão esgotar-se e digladiar-se em ataques políticos e pura retórica, cedo foi esmagada por uma novo regime, matreiro e pragmático, que criaria condições à instauração do famigerado Estado Novo.
Portugal estava mergulhado numa crise económica grave motivada quer pelas várias crises europeias da última década, quer por um défice público muito acentuado. A indústria não ia bem, e os operários, que até aí tinha conseguido uma magra diminuição das horas de trabalho, alguns direitos sociais (providência) bem como o direito à greve e à livre associação, começavam a pagar a factura por todos os erros de governação do Estado, da crise Europeia e da diminuição do lucro dos seus patrões, entre outros.
É neste clima de instabilidade e de grande mau agoiro que surge o “salvador”: Oliveira Salazar, que milagrosamente e à custa de “muitos sacrifícios” e artimanhas orçamentais, legislativas e constitucionais, engendra um “pacote de medidas” para salvar o país do défice e da miséria.
Na altura valiam-lhe as colónias (hoje parece que nos vale a Europa).
Uma dessas medidas foi a corporativização dos sindicatos, a proibição do livre associativismo, promovendo uma outra forma de associação de classe que congregasse os interesses dos operários com os dos patrões sob a vigilância e orientação do Estado.
Houve outras: a censura, a policia politica, a nova constituição, o novo Estatuto Nacional do Trabalho, a Mocidade Portuguesa, as colónias penais (campos de concentração para presos políticos), etc, etc, etc.
Ora, os operários, que assistiam à degradação das suas condições sociais e à diminuição da sua liberdade individual, verificaram logo que juntar patrões e operários no mesmo saco não era bom, e muito menos era não poderem associar-se e elegerem livremente os seus representantes, entre outras coisas.
Resolveram então levar a cabo a maior Greve-Geral que o pais já vira.
Para isso, de norte a sul deveriam organizar-se para tomar de assalto e controlar tudo quanto eram vias e meios de comunicação, assim como neutralizar policias e militares, para que no dia seguinte os operários tivessem condições para virem para a rua fazer a greve.
Em muitos locais chegaram a faze-lo, de forma mais ou menos pacifica, do Algarve até Braga, destacando-se alguns locais onde a revolta foi mais significativa: Silves, Barreiro, Almada, Lisboa e Marinha Grande.
Porém, sem o apoio das forças militares (que era para ter acontecido e não aconteceu) e feridos de morte devido à captura, dias antes e na véspera, de alguns sindicalistas cabecilhas do movimento, a revolta fracassou.
Salazar foi implacável na repressão desta revolta e a provar isso mesmo foram as penas pesadíssimas aplicadas aos revoltosos: vários anos de prisão, com degredo ou desterro, nos Açores, no Tarrafal (onde muitos perderam a vida mercê de condições de vida degradantes), e em Peniche, perda de direitos políticos, famílias na miséria, etc.
A grande maioria destes homens tinha entre 20 e 30 e poucos anos, e deixaram para trás pais, mães, mulheres e filhos...
74 anos depois há que fazer uma grande e justa homenagem aos milhares de operários que tiveram a audácia de se insurgirem contra a perda de direitos, contra a degradação das condições de vida e direitos laborais, contra a degradação do sistema social, contra a perda de liberdade, contra uma constituição autocrática que não servia a liberdade e a democracia, contra a censura, contra as assimetrias sociais, etc., etc., etc.
Muitos dstes operários eram analfabetos. Mesmo que soubessem ler, não tinham dinheiro para comprar o jornal. Estes operários tinham famílias numerosas que dependiam do seu trabalho e sabiam que uma insurreição desta natureza iria significar represálias, fossem ligeiras ou graves, dos patrões e do Estado. Estes operários, ainda “toldados” pelo medo e superstição, viviam debaixo da Igreja Católica Apostólica Romana que sempre jogou a favor destes regimes...
74 anos depois a história volta quase a repetir-se: O défice, o apertar o cinto, o fecho dos centros de saúde, maternidades e hospitais, e a privatização destes serviços fundamentais do estado; as perseguições aos professores e ao ensino público em particular, aos funcionários públicos e aos seus salários, a ascensão e grande influência do capital especulativo sobre o poder executivo e legislativo, e agora a tão falada (que hoje não se ouvia outra coisa) nova lei para eleição e representação politica local, a tão falada revisão constitucional para tornar a constituição mais permeável ao interesses económicos e políticos, o novo projecto europeu que agora não se chama constituição mas que na prática é a mesmíssima coisa, tirando um ponto ou outro…
Dá vontade de dizer (que pensar já eu penso) que 74 anos depois precisávamos cá dos homens do 18 de Janeiro de 1934 para nos dar um xuto no cú e nos porem a tratar de um novo rumo para o país, mais justo e mais social.
...e não nos esqueçamos, p.f., das raposas matreiras, paternalistas, patrióticas, de voz fininha e bem falantes, que nos tentam "atirar areia para os olhos".
A jovem república, ao fim de 16 anos de vários governos e parlamentos, que mais não souberam senão esgotar-se e digladiar-se em ataques políticos e pura retórica, cedo foi esmagada por uma novo regime, matreiro e pragmático, que criaria condições à instauração do famigerado Estado Novo.
Portugal estava mergulhado numa crise económica grave motivada quer pelas várias crises europeias da última década, quer por um défice público muito acentuado. A indústria não ia bem, e os operários, que até aí tinha conseguido uma magra diminuição das horas de trabalho, alguns direitos sociais (providência) bem como o direito à greve e à livre associação, começavam a pagar a factura por todos os erros de governação do Estado, da crise Europeia e da diminuição do lucro dos seus patrões, entre outros.
É neste clima de instabilidade e de grande mau agoiro que surge o “salvador”: Oliveira Salazar, que milagrosamente e à custa de “muitos sacrifícios” e artimanhas orçamentais, legislativas e constitucionais, engendra um “pacote de medidas” para salvar o país do défice e da miséria.
Na altura valiam-lhe as colónias (hoje parece que nos vale a Europa).
Uma dessas medidas foi a corporativização dos sindicatos, a proibição do livre associativismo, promovendo uma outra forma de associação de classe que congregasse os interesses dos operários com os dos patrões sob a vigilância e orientação do Estado.
Houve outras: a censura, a policia politica, a nova constituição, o novo Estatuto Nacional do Trabalho, a Mocidade Portuguesa, as colónias penais (campos de concentração para presos políticos), etc, etc, etc.
Ora, os operários, que assistiam à degradação das suas condições sociais e à diminuição da sua liberdade individual, verificaram logo que juntar patrões e operários no mesmo saco não era bom, e muito menos era não poderem associar-se e elegerem livremente os seus representantes, entre outras coisas.
Resolveram então levar a cabo a maior Greve-Geral que o pais já vira.
Para isso, de norte a sul deveriam organizar-se para tomar de assalto e controlar tudo quanto eram vias e meios de comunicação, assim como neutralizar policias e militares, para que no dia seguinte os operários tivessem condições para virem para a rua fazer a greve.
Em muitos locais chegaram a faze-lo, de forma mais ou menos pacifica, do Algarve até Braga, destacando-se alguns locais onde a revolta foi mais significativa: Silves, Barreiro, Almada, Lisboa e Marinha Grande.
Porém, sem o apoio das forças militares (que era para ter acontecido e não aconteceu) e feridos de morte devido à captura, dias antes e na véspera, de alguns sindicalistas cabecilhas do movimento, a revolta fracassou.
Salazar foi implacável na repressão desta revolta e a provar isso mesmo foram as penas pesadíssimas aplicadas aos revoltosos: vários anos de prisão, com degredo ou desterro, nos Açores, no Tarrafal (onde muitos perderam a vida mercê de condições de vida degradantes), e em Peniche, perda de direitos políticos, famílias na miséria, etc.
A grande maioria destes homens tinha entre 20 e 30 e poucos anos, e deixaram para trás pais, mães, mulheres e filhos...
74 anos depois há que fazer uma grande e justa homenagem aos milhares de operários que tiveram a audácia de se insurgirem contra a perda de direitos, contra a degradação das condições de vida e direitos laborais, contra a degradação do sistema social, contra a perda de liberdade, contra uma constituição autocrática que não servia a liberdade e a democracia, contra a censura, contra as assimetrias sociais, etc., etc., etc.
Muitos dstes operários eram analfabetos. Mesmo que soubessem ler, não tinham dinheiro para comprar o jornal. Estes operários tinham famílias numerosas que dependiam do seu trabalho e sabiam que uma insurreição desta natureza iria significar represálias, fossem ligeiras ou graves, dos patrões e do Estado. Estes operários, ainda “toldados” pelo medo e superstição, viviam debaixo da Igreja Católica Apostólica Romana que sempre jogou a favor destes regimes...
74 anos depois a história volta quase a repetir-se: O défice, o apertar o cinto, o fecho dos centros de saúde, maternidades e hospitais, e a privatização destes serviços fundamentais do estado; as perseguições aos professores e ao ensino público em particular, aos funcionários públicos e aos seus salários, a ascensão e grande influência do capital especulativo sobre o poder executivo e legislativo, e agora a tão falada (que hoje não se ouvia outra coisa) nova lei para eleição e representação politica local, a tão falada revisão constitucional para tornar a constituição mais permeável ao interesses económicos e políticos, o novo projecto europeu que agora não se chama constituição mas que na prática é a mesmíssima coisa, tirando um ponto ou outro…
Dá vontade de dizer (que pensar já eu penso) que 74 anos depois precisávamos cá dos homens do 18 de Janeiro de 1934 para nos dar um xuto no cú e nos porem a tratar de um novo rumo para o país, mais justo e mais social.
...e não nos esqueçamos, p.f., das raposas matreiras, paternalistas, patrióticas, de voz fininha e bem falantes, que nos tentam "atirar areia para os olhos".
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