terça-feira, 27 de janeiro de 2009


Cindy Sherman


A verdade, por vezes, magoa.
Mas mais nada magoa mais que o não saber a verdade.


Enquanto não sabemos, e imaginamos, sentimos toda a dor comprimida num ponto, que se alastra ao peito até nos apertar o músculo do centro, aos membros superiores, paralisando-os, para além de qualquer explicação, espremendo-nos, até que o corpo descomprima ao soltar uma lágrima, salgada.

...o sabor na língua.


segunda-feira, 26 de janeiro de 2009




Os sete blefes mortais da homofobia
Por Paulo Pinto





Barnett Newman

É assustador o que vem aí…
Ouço, atónita, as notícias. Ninguém quer saber, mas é a mais dura realidade: num dia, meia dúzia de empresas anunciam cerca de 70.500 despedimentos.
É assim, numa frase, num dia apenas, e é assim que tudo o que o Homem construiu se desmorona com a rapidez de um cigarro que queima e se apaga, tudo, por um punhado de ganância, um punhado de nada.


Enquanto isso eu descubro que tenho um deficit enorme de palavras, num minuto apenas.
O meu pragmatismo leva-me em seguida a pensar que...

- Antes as palavras minha cara, antes as palavras…

Não fico mais feliz. Pelo contrário.
Acho que cada um de nós lá terá as suas razões de queixa para os deficits nas suas vidas…


domingo, 25 de janeiro de 2009

Luciano Fabro


As noites de insónia são dilacerantes.

Chove, o céu a ferro e fogo, rugidos incomensuráveis como bombas implodidas dentro do peito. Anseio por um primeiro raio de sol, um que nos há-de resgatar às horas vazias e à noite.
Nesta espera, transição, metamorfose, as palavras fazem-me companhia. Não me embalam, mas também não me despertam ainda mais.
Estão, como por vezes precisamos, que estejam, apenas, até ao dia seguinte.



Há um comboio iluminado no meu cérebro cheio de túneis e noites
Uma ideia que passa cheia de janelas intermitentes como pirilampos transformados
Borboletas rápidas – há esta paisagem respirando

Pensativamente entro na viagem visível de uma intuição premeditada:
Que diferença faz à posição do meu corpo a rotação da terra? Vivo
Num único lugar

Às vezes ando descalço por uma linha encerrada
No corpo
Encostado ao ferro arrefecido pelas estações que passam. Pouca terra
Lhe é dada para poder germinar. Dentro da terra

Ou de uma veia cortada.
Faço às vezes o trajecto inverso do sangue
Medito encostado às pulsações mais amadas. Pouca terra me foi dada
Para calar sempre. E amo
Anónimo a luz transitória. O pulso interno de uma luz intermitente.

Daniel Faria – Do Sangue - Poesia, Lisboa, Quasi, 2003.



Agora, que o dia veio, abafando a escuridão, vou ver se encontro os meus passos marcados na areia, ver se vejo um caminho qualquer, um que a chuva não apague, ou as ondas a mergulhar na praia, um ponto de referência, ou o norte.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Antony Gormley


Vinte e um. Segunda-feira. É noite.
No escuro uns contornos de cidade.
Algum vagabundo escreveu
Que na terra pode haver amor.

E por tédio ou preguiça,
Todos acreditaram e assim vivem:
Esperam encontros, temem adeus
E cantam canções de amor.

Mas a outros revela-se o enigma,
E o silêncio repousará sobre eles…
Descobri isto por acaso
E desde esse momento sinto-me mal.

Anna Akhmátova



Antony Gormley


quinta-feira, 15 de janeiro de 2009



Procuro o lento cimo da transformação
Um som intenso. O vento na árvore fechada
A árvore parada que não vem ao meu encontro.
Chamo-a com assobios, convoco os pássaros
E amo a lenta floração dos bandos.
Procuro o cimo de um voo, um planalto
Muito extenso. E amo tanto
A árvore que abre a flor em silêncio.


Daniel Faria - Do Inesgotável, Poesia, Quasi, 2003.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009



O puto tinha olho azul e cabelos loiros, jeito tímido e sorriso luminoso.
Era a tranquilidade em pessoa, eficiente, reservado.
Trabalhamos várias vezes desde o verão deste ano, várias madrugadas em claro. Alguns imprevistos pelo caminho que diligentemente resolvia. Ofereceu-nos uma “festa” no Natal…

- Puto…?! Então…?!
Olhava-me então com a cabeça inclinada de lado, meio baixa, com os olhos azuis e luminosos rente à sobrancelha enquanto continuava a trabalhar, com um sorriso carinhoso como quem diz:
- Sim! Já sei! Está tudo controlado…
No final, cabeça mais erguida, mais um sorriso como quem diz:
- Então? Eu não disse que ia correr bem?! Está tudo controlado…

Na quinta-feira estivemos a trabalhar todo o dia, na sexta-feira toda a manhã.
Sábado, já noite longa, pôs termo à vida, na mata, junto ao rio… deixou uma nota à mãe a dizer onde o encontraria, morto.

Não há palavras…

-Puto?!

- Então?!

- Então puto?!

- Puto…?!



À tua memória.
Que Deus Pai Misericordioso, que tudo pode, te acolha e te dê uma segunda oportunidade, desta vez, uma mais feliz.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Respondendo ao desafio lançado pela Orquídea do blog Nascidos do mar, cabe-me:
Escrever uma lista com 8 coisas que sonho fazer ou com as quais sonhe; Convidar 8 bloguistas a responder ao mesmo; Comentar no blog de quem partiu o desafio; Comentar no blog de quem desafiamos; Mencionar as regras.

Para começar, quebro já as regras.
Não vou convidar oito bloguistas. Vou simplesmente convidar aqueles que por aqui passam a aceita-lo e a darem a conhecer, da forma que entenderem (desenho, fotografia, vídeo, poema, texto corrido, ao telefone… qq coisa original) oito sonhos que queiram ver concretizados.
Não vou comentar em lado nenhum e convido-vos a alterar as regras, da forma como bem entenderem:

Sonhos…

1. Ver todas as pessoas que eu amo crescer e viver, vivendo o resto dos seus dias (que espero que sejam mesmo muitos) tranquilamente, com saúde e muitos momentos de felicidade, e saibam sempre ultrapassar as dificuldades com integridade e perseverança.
2. Que me aceitem como naturalmente sou e me reconheçam o direito natural e civil de ser feliz ao lado de quem amo.
3. Encontrar o verdadeiro significado e objectivo da minha vida (pois acho que ainda está por encontrar).
4. Que a minha vida seja longa, útil e cheia de momentos verdadeiros e intensos, repleta de vitórias colectivas, sabendo lidar com as derrotas com serenidade, aproveitando-as para catapultar a vontade de vencer.
5. Ser mãe, se possível mais que uma vez.
6. Ser avó, se possível mais que uma vez.
7. Contribuir para a construção, consolidação e vivencia de um verdadeiro e duradouro projecto cultural.
8. Viver entre a praia - se possível uma daquelas pequeninas, quase virgem, rodeada dos outros lados de uma grande mancha de verde, num local solarengo e sossegado - e a serra - no meio de nada, onde só chegam os pastores e as cabras, onde a luz é mais vibrante e o ar mais fresco e puro.

Simples não são?!
Voilá!
E agora, quem é que aceita o meu desafio?
Edward Hopper, Morning Sun, 1952.


A pouco e pouco os meus dias começam a entrar numa certa normalidade que me aconchega e me trás paz.

A vida mudou-se-me.
Espaços, afectos, família, trabalho, e as mudanças vão-se sucedendo umas atrás das outras.
2008 foi o ano das mudanças, daquelas que esperamos há muito tempo, daquelas que lutámos e penámos para alcançar, para chegar ao fim de processos por vezes dolorosos, angustiantes, outros trabalhosos, outros verdadeiras surpresas, oásis no deserto.
Nestas mudanças houve uma coisa que foi fundamental. A minha descoberta e o fortalecimento da minha Fé em Jesus Cristo e em Deus.
É verdade!
Esta foi a primeira mudança dentro de mim há cerca de 3 anos, e a partir daí até aqui não mais o Pai me abandonou, e não abandonará, mesmo que tenha de passar por algo semelhante. Não mais eu abandonarei os meus princípios, os de um bom Cristão, e os meus. Não mais renunciarei a fazer a minha parte para aqueles que me vão aparecendo no caminho.

Não era bem esta a reflexão que estava para fazer, mas as palavras desfilaram assim no pensamento.
Porém, pensando bem, faz parte do processo.
Um dos mandamentos mais importantes na vida de um Cristão: a confissão.
E não. Não se trata da confissão dos pecados ao Padre que nos dará a Absolvição (se fosse assim tão simples…). Trata-se da confissão da nossa Fé, da propagação da Fé e da Palavra de Deus, como fizeram os Apóstolos. A confissão, que é precedida do Arrependimento.
E não. Não se trata de arrependimento dos pecados ou maus actos que cometemos, que nos levam à confissão ao Padre para ele nos perdoar em nome de Jesus Cristo e de Deus.
Trata-se do momento em que, confrontados com os dois mundos possíveis – o bem e o mal – numa altura em que temos consciência do lado mais sombrio do mundo e de nós, e da possibilidade de ambos, nos arrependemos de muitas vezes termos enveredado pelo lado mais escuro, e escolhemos, conscientemente, e daí em diante a Luz, o Bem, uma conduta para o Bem, custe o que custar, e aceitamos Cristo (Baptismo).
Bom… hoje deu-me para exposições destas...

Mas a mudança de que eu queria falar aqui, que tem a ver com bem-estar e com luz, mas com aquela que me entra todos os dias casa adentro, é aquela que estou a experienciar agora, no meu espaço, há um mês, aquele que no inicio era sempre novo, feito de momentos e processos novos e que agora começam a entrar na normalidade e me vai trazendo paz.
Levantar de manhã com o sol a entrar quarto adentro, tomar um banho quente bom, o pequeno-almoço na cozinha onde o sol entra todos os dias, de manhã à noite, e se espelha no chão enquanto faço a torrada, a luz espelhada que me fere a vista mas me aquece o corpo. Falar da sala onde o sol entra todos os dias, de manhã à noite, e faz vibrar todas as cores dos quadros, dos livros, das minhas peças mais queridas, as tonalidades claras das paredes avivando os contrastes castanhos… este é um dos milagres da vida: o Sol que me aquece todos os dias a casa, a alma, o corpo e o coração.
Daqui a pouco vou comprar o jornal, almoçar, dar um passeio na praia, a pé, junto à rebentação do mar e voltar à tardinha, pelo pinhal…
Que vida tão boa!




















sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Moscatel, de Favaios, e cristal.


Num copo vive por vezes o liquido que corre ligeiro nas veias ao centro, e daí até à cabeça.

Gelam-me os pés. Devia ter acendido a lareira e não ter deixado a janela aberta. Devia ter fumado um cigarro e deixa-lo arranhar a garganta toda.
Hoje arrasto-me disfarçando o cansaço (ou querendo). A
manhã o sol voltará a entrar pelas janelas e a preencher a sala, o quarto, e a aquecer a casa.
A casa é mágica e vive debaixo de sol de nascente a poente.
Nós é que escancaramos as janelas e deixamos entrar o frio.


quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Vlastula


Hoje, durante um raro momento de inspiração em que me propus fazer o jantar em casa dos meus pais, correndo de tacho para tacho, comecei a ouvir uma reportagem na TV acerca de um novo modelo económico, no minimo interessante.
O Consultor de Empresas Paulo Vieria de Casto partiu da análise ao tipo de gestão económica realizada pelos sem-abrigo para nos propor, e aos gestores portugueses, dez lições de economia para uma nova forma de gerir, mais consciente e responsável, mais humana.


Genial!

Retenho apenas algumas ideias. Clicar AQUI para ver o texto integral.


Primeira lição: o dinheiro é uma não realidade

Ninguém é vítima do mundo, mas sim da forma como o percebe. Nas organizações passa-se exactamente o mesmo. Se eu tiver vinte e cinco milhões de Euros, o modo como os uso determina o seu verdadeiro valor. Assim, ao contrário do que diz o povo dinheiro não faz dinheiro, na verdade o valor do dinheiro depende directamente da capacidade que cada um tem de o aplicar de forma útil.

[…]


Segunda lição: você vive do que recebe, mas constrói a vida com o que dá

[…]

Aceitar a dádiva como forma de participar na construção de um mundo onde todos tenham lugar é um sentimento que está em qualquer de nós, independentemente do credo que escolhemos. Para os judeus a caridade é uma responsabilidade da comunidade. Para os católicos toda a humanidade tem direito ao usufruto dos bens. O mundo islâmico dá o exemplo através do zakah, entregando 2,5% do lucro aos mais pobres, ainda para os muçulmanos só a caridade purifica o lucro obtido. Para os hindus o Homem veio ao mundo de mãos vazias, regressando sempre de mãos vazias, dar é para estes a única forma de purificação, pelo que só as acções filantrópicas darão bom karma. Igualmente, o desapego aos bens materiais da filosofia budista faz com que qualquer acção tenha como intenção gerar felicidade aos outros e a si próprio.

Será previsível um crescimento de mercado no que à solidariedade diz respeito. Para além de assegurar a sobrevivência básica dos mais necessitados, surgirão novas responsabilidades. Desde logo dar a si mesmo, ou à sua fonte de inspiração, abrindo caminho a um maior compromisso com a espiritualidade, na senda de modelos de aplicação não periférica à responsabilidade de se ser humano, passando a cumprir compromissos estratégicos baseados em valores essenciais à solidariedade, à responsabilidade inclusiva, à compaixão, à espiritualidade, ao estar grato, à paz interior. Esta será a oportunidade que faltava para o surgimento de uma nova economia.

[…]


São valores como a bondade, a compaixão, a intuição, a dimensão espiritual, a auto-realização, o desapego, isto de entre outros activos intangíveis, que futuramente motivarão as relações de proximidade entre agentes organizacionais.



Terceira lição: no futuro a economia será interdependente


Na rua a economia de parceria parece não resultar, isto ao contrário do conceito de interdependência. Acredito que no futuro o sucesso das grandes corporações dependerá desse entendimento. Aliás, a internet é já um bom exemplo disso, nos casos em que prova ser possível divergir dos princípios meramente capitalistas, onde existe exclusivamente uma partilha de meios, mas raramente de fins. Assim como na rua, nos negócios esta ideia implica que todos são, contemporaneamente, a um mesmo momento provedores e tomadores, clientes e fornecedores. Isto é já o que acontece com alguns negócios na internet.


[…]


Para entender de forma completa a ideia da interdependência nos negócios o ser humano terá de voltar à fonte, ao sopro vital, indo além do auto-conhecimento, ou seja à auto-realização.



Quarta lição: o centro vital do Homem estará na auto-realização


Fernando Pessoa dizia que conhecer é como nunca ter visto pela primeira vez; e isso é certo. Ao contrário da ideia avançada pela sociedade do conhecimento, onde se mostrava central conhecer, a proposta agora será a de auto-realizar. Uma outra mudança que parece irreversível é a que concerne à medida da satisfação, passando esta a ser calculada na economia interdependente, fundamentalmente, com base em níveis de auto-realização de todas as partes da relação; e não mais vendo a individuo como a medida de todas as coisas.



Quinta lição: a economia não terá de ser sustentável, mas sim inclusiva


A realidade que se vive na rua fez-me perspectivar, ainda, o próximo passo, uma nova doutrina económica aparentada a um entrepreneurial capitalism elevado ao seu expoente máximo de responsabilidade inclusiva, onde assim como na natureza, também na economia assistiremos ao retorno à natural evolução criativa, em que encontraremos “todos” que são maiores do que a soma das suas partes. Para além de jogarmos com ideia de interdependencia, passaremos a reconhecer no factor impermanencia uma variável estratégica de oportunidade, cabendo à gestão de topo potenciá-la, ao invés de a tentar isolar, como se de uma bactéria nociva se tratasse. A mudança é – afinal - o maior bem de todos os homens e mulheres.


Sexta lição: a nova lógica de se ser humano


Não será suficiente conhecer a responsabilidade como caminho para um mundo mais justo. Lembre-se que conhecer o caminho não é a mesma coisa que trilhá-lo até ao seu termo. Garanto-lhe que há alguém muito especial que o espera no final do caminho: você!

Na dimensão dos valores humanos não existe a verdade dos outros. Tratando-se de uma terra sem caminho, viver nesta certeza será assumir a maior responsabilidade das nossas vidas. Aceitar a importância de tais valores nas relações de mercado, obriga a que cada um de nós seja um cientista interior, cuja sua maior valência será a de experimentar a verdade e, consequentemente, estar disponível a aceitar a mudança como a única certeza. A verdade, desde a sua origem, revela-nos o ponto onde nada está escondido, onde só a profundidade do essencial será revelado. Então, seja você mesmo!


Sétima lição: ser o exemplo que queremos ver nos outros


Apesar de se tratar de uma visão meramente pessoal, acredito que todos teremos a agradecer o facto de poder dar o melhor de nós próprios. Mas, quantos de nós estamos dispostos a isso?! Uma nova consciência para o mundo dos negócios terá, necessariamente, que passar pela responsabilidade de, como diria Ghandi, sermos o exemplo que queremos ver nos outros. Mais uma vez dar, neste caso dar o exemplo.

[…]


Oitava lição: só aquele que vê o invisível poderá realizar o impossível


Does more money buy you more happiness? Esta é a principal questão a que pretendeu dar resposta a análise publicada pela Universidade de Navarra, Espanha. Uma das conclusões deste estudo vai no sentido de declarar uma notória impotência do dinheiro quando o colocamos em contraponto com a felicidade.

[…]


Nona lição: a inspiração transformadora é o único recurso infinito da Terra


[…]

O que falta então para romper com algumas das nossas rotinas? Acreditar que, para além de desejável, é possível. Seguindo a máxima de São Francisco de Assis, deveremos começar por fazer o que é necessário; depois fazer o possível; e, sem dar por isso, estaremos a fazer o impossível. Parece simples!



Décima lição: aprender mais com a natureza, e menos com a civilização

Entre aqueles que vivem na rua, e da rua, muitos foram os que já se aperceberam que os limites da sua actividade obedecem, agora, a um novo paradigma e a novos públicos. Da necessidade que um crescente número de pessoas tem em ser solidária/ interdependente/ responsável, simplesmente dando. Como resposta a esta oportunidade encontramos, agora, formas mais criativas de enfrentar o mercado, resultando desta constatação o atendimento a novas propostas de valor. Esta nova vaga valoriza essencialmente o dar responsável, com sentido, relegando para um segundo plano a solidariedade meramente material.
Uma moeda ou um sorriso...

[…]


Está pois lançado o mais nobre desafio de sempre aos gestores de empresas: a gratuitidade.
Santo Agostinho acreditava que os milagres não acontecem em contradição com a natureza, mas apenas em contradição com o que conhecemos desta.
Em conclusão, gostaria de afirmar a minha crença que no futuro da economia terá mais a aprender com a natureza, ela própria interdependente, e menos com a civilização.

Paulo Vieira de Castro
Consultor de empresas, Director do Centro de Estudos Aplicados em Marketing, Instituto Superior de Administração e Gestão-Porto. Aprender noções de economia e gestão foi o objectivo de um trabalho junto dos sem-abrigo, em Junho passado, no Porto. Este tema foi primeriramente publicado na HSM Management (Brasil) e na revista Marketeer (Portugal). O relatório surge agora, em Ciência Hoje, na forma de «Dez lições para uma nova economia»

PS:
OK! Talvez não sejam apenas umas breves ideias ou paragrafos transcritos do texto original... mas um quase "testamento". Porém, o texto integral tem muito mais.
Recomenda-se!


domingo, 4 de janeiro de 2009

Passeio matinal, Dezembro 2008.


Sou feliz
, parecia dizer quando passou por mim no passadiço junto ao mar, na sua "pasteleira", com os dois garrafões de água ainda vazios na geleira atada ao suporte da bicicleta, e o rádio na aba do chapéu a tocar.
Sou feliz, dizia-me o sorriso estampado nos lábios e no olhar.
E nesse momento desejei ser como ele, por uns minutos apenas, para sentir.

sábado, 3 de janeiro de 2009


Paul Graham, Coins on Shelf


Agora, estou verdadeiramente só. Pensei.

E respirei fundo ao mesmo tempo que enfrentava a sinuosa auto-estrada e a tempestade que me acompanhou até casa.
É assustador estar só. É inevitável, mas é como escolhi estar. É como estarei.

O peso da noite abate-se sobre o carro. A chuva pesa toneladas de gelo. A viagem demoníaca.
Pesam-me as palavras, a raiva, o ódio apontados ao peito.

Poderia ser uma de duas pessoas:
Uma que mais uma vez se entrega, acreditando que tudo será diferente, mas igual, e daí não vem mal nenhum ao mundo, pois eu sou objecto de desejo, e enquanto ele for alimentado não vem mal nenhum ao mundo. Defeitos disfarçados por debaixo da pele. Objecto de arremesso, de quase auto-alienação só para agradar.
Uma com algum amor-próprio e amor ao outro, que por fim encara o inevitável, abrindo caminho a novas possibilidades e compatibilidades.

Escolhi-me.
E agora?
Agora repouso. Maturarei a espera necessária, até porque a carne está tão aturdida que precisa de descanso, de tempo, e um dia pode ser que surja uma grande paixão, uma cuidadosamente construída, uma que me conheça por dentro e por fora, e me compreenda, uma que eu consiga compreender e corresponder sempre com o necessário, pelo menos o necessário, e poderá ser que ela faça abalar as estruturas do meu corpo, até ao meu mais íntimo e curar-me deste amorfismo recorrente.
Este é então o tempo da reconciliação de todas as coisas que me restam, para tentar reinventar um novo mundo, o meu mundo, esquecendo as palavras que me magoaram mais que tudo o resto nestes últimos anos.

Consta porém, que não passo de uma covarde, e de tudo o que há de mau, pois pouco me apetece repetir aqui as palavras que tenho ouvido vezes e vezes sem conta em todos os momentos em que eu não faço o que deveria fazer…
Num esgar negam-me até a possibilidade temporal da amizade… E eu a pensar que tínhamos construído algo sólido e bonito…
Essa não vai passar, nem com a minha boa vontade cristã que tudo perdoa… mas também, de nada vale para quem não percebe nada disto, nem de amor, quanto mais de Fé e de Deus.

E quando penso nas palavras… recordo-me que deveria afinal ter completado a frase de Nietzsche:

E que nostalgia é essa que desperta a visão de beleza? A de seres belos: julgamos que a eles deverá estar ligada muita felicidade. Mas aí é que está o erro.

E assim, como Kundera, eu prefiro os momentos de rara e genuína beleza que encontramos de quando em vez por aí, aquela que nos surpreende onde menos se espera, e a imperfeição de todos os seres genuínos, por pior que ela seja, desde que verdadeira (já esta não sei se seria a ideia de Kundera).

E é isto, em jeito de conclusão, que eu não escrevo mais uma linha sobre o assunto.