sábado, 10 de janeiro de 2009

Edward Hopper, Morning Sun, 1952.


A pouco e pouco os meus dias começam a entrar numa certa normalidade que me aconchega e me trás paz.

A vida mudou-se-me.
Espaços, afectos, família, trabalho, e as mudanças vão-se sucedendo umas atrás das outras.
2008 foi o ano das mudanças, daquelas que esperamos há muito tempo, daquelas que lutámos e penámos para alcançar, para chegar ao fim de processos por vezes dolorosos, angustiantes, outros trabalhosos, outros verdadeiras surpresas, oásis no deserto.
Nestas mudanças houve uma coisa que foi fundamental. A minha descoberta e o fortalecimento da minha Fé em Jesus Cristo e em Deus.
É verdade!
Esta foi a primeira mudança dentro de mim há cerca de 3 anos, e a partir daí até aqui não mais o Pai me abandonou, e não abandonará, mesmo que tenha de passar por algo semelhante. Não mais eu abandonarei os meus princípios, os de um bom Cristão, e os meus. Não mais renunciarei a fazer a minha parte para aqueles que me vão aparecendo no caminho.

Não era bem esta a reflexão que estava para fazer, mas as palavras desfilaram assim no pensamento.
Porém, pensando bem, faz parte do processo.
Um dos mandamentos mais importantes na vida de um Cristão: a confissão.
E não. Não se trata da confissão dos pecados ao Padre que nos dará a Absolvição (se fosse assim tão simples…). Trata-se da confissão da nossa Fé, da propagação da Fé e da Palavra de Deus, como fizeram os Apóstolos. A confissão, que é precedida do Arrependimento.
E não. Não se trata de arrependimento dos pecados ou maus actos que cometemos, que nos levam à confissão ao Padre para ele nos perdoar em nome de Jesus Cristo e de Deus.
Trata-se do momento em que, confrontados com os dois mundos possíveis – o bem e o mal – numa altura em que temos consciência do lado mais sombrio do mundo e de nós, e da possibilidade de ambos, nos arrependemos de muitas vezes termos enveredado pelo lado mais escuro, e escolhemos, conscientemente, e daí em diante a Luz, o Bem, uma conduta para o Bem, custe o que custar, e aceitamos Cristo (Baptismo).
Bom… hoje deu-me para exposições destas...

Mas a mudança de que eu queria falar aqui, que tem a ver com bem-estar e com luz, mas com aquela que me entra todos os dias casa adentro, é aquela que estou a experienciar agora, no meu espaço, há um mês, aquele que no inicio era sempre novo, feito de momentos e processos novos e que agora começam a entrar na normalidade e me vai trazendo paz.
Levantar de manhã com o sol a entrar quarto adentro, tomar um banho quente bom, o pequeno-almoço na cozinha onde o sol entra todos os dias, de manhã à noite, e se espelha no chão enquanto faço a torrada, a luz espelhada que me fere a vista mas me aquece o corpo. Falar da sala onde o sol entra todos os dias, de manhã à noite, e faz vibrar todas as cores dos quadros, dos livros, das minhas peças mais queridas, as tonalidades claras das paredes avivando os contrastes castanhos… este é um dos milagres da vida: o Sol que me aquece todos os dias a casa, a alma, o corpo e o coração.
Daqui a pouco vou comprar o jornal, almoçar, dar um passeio na praia, a pé, junto à rebentação do mar e voltar à tardinha, pelo pinhal…
Que vida tão boa!




















16 comentários:

Anônimo disse...

Brindemos então, desta vez com Licor de Maracujá, que é o que procuro ter sempre por perto :)
Beijinhos

GRAFIS disse...

eu cá não prescindo do Favaios ou do de Setúbal...
Cheers.

Anônimo disse...

Está muito bem então. Brindas com Moscatel e eu brindo com o Maracujá.
À nossa!

S-Kelly disse...

Este (re)encontro com Deus que falas é uma coisa que me atormenta faz muito tempo. Confesso-me em processo de divórcio há sensivelmente 7 anos. Nasci e cresci no seio de uma família cuja relação com a Igreja é baseada na maior devoção e no maior respeito. Cresci julgando que Deus me tinha escolhido para ser uma pequena estrela brilhante e especial, tudo porque tinha também, em mim, um modo de amar muito especial (julgava). Depois, por questões de pura discordância (felizmente crescemos e o poder crítico entranha-se em nós) fui-me afastando lentamente, até ao momento actual em que considero ser um sentimento de bem-querer, mal-me-querer.

Adorava poder afirmar o que consegues neste teu post: "A minha descoberta e o fortalecimento da minha Fé em Jesus Cristo e em Deus.", confesso que adorava, mas isso exige imenso de nós, exige sobretudo reflexao e teimosia no querer e entender. Depois, creio que me faltam os "nortes espirituais", ou seja, encontrar aquele padre, aquela igreja, que me permitam procurar, entrar e permanecer para então me encontrar interiormente.

De alguma forma, e sempre que vou a Lisboa, procuro isso. Procuro o espaço onde me sinta bem, e o homem que tem o dom de me reter ali com ele e com Deus.
Tolentino Mendonça consegue ser esse homem, e a igreja de Stª Isabel esse espaço. Por raros, mas longos momentos, sempre que dali saio, penso sempre, meu Deus, se todos os padres fossem como este, não estaria a viver tantas encruzilhadas na minha vida!! Acredito que só saboreando isto no dia-a-dia, é que atingimos o teu ponto de gratidão e de devoção.

E a luz, essa luz que te escancara o teu lar e que te aquece a alma, o corpo e o coração, sem dúvida que deve ser bem mais intensa e bem viva, porque te permite chegar à tarde do tal passeio pelo pinhal e exclamar "que vida boa!"
Muitos parabéns, porque és sem dúvda, uma privilegiada...

GRAFIS disse...

Por vezes tb penso que sim, que sou uma privilegiada, em muitos aspectos, e sinto-o…
A minha descoberta de Deus aconteceu por acaso (embora eu saiba que não foi tão por acaso assim) pela mão de duas pessoas maravilhosas que se cruzaram comigo numa noite de Terça-feira numa feira... imagine-se. Pessoas que não conhecia de lado algum, com quem tinha uma relação meramente institucional e momentânea, apenas por causa do evento. Mais nada. Mas aquelas pessoas apareceram no momento crucial.
Durante muito tempo, antes desse dia, durante muitos anos andei à procura de algo, ou havia sempre algo que me faltava. Um dia, estava mesmo ali, onde sempre esteve.
A Igreja Católica simplesmente metia-me medo, e em certos aspectos era a contradição em si mesma, a antítese do que entendia ser um Cristão ou uma Igreja de Cristo (nessa altura tb não tinha grande noção do que era ser Cristão, mas havia certas coisas que para mim eram valores universais e que a Igreja Católica e outras, fazem, simplesmente, tábua rasa).
Acabei por perceber que estava certa e a História comprova-o (qd falo assim falo de, provavelmente, 90/95% da Igreja, porque os hipócritas que compactuam com a “politica” da instituição também vão para o mesmo saco).

A minha Igreja são as pessoas, os Cristãos, aqueles que crêem e SÃO Cristãos (não fazem de conta, ao Domingo e nos Feriados religiosos e despejam “pecados” ao Padre) embora seja verdade que por vezes preciso de me juntar a outros Cristãos, aos que me ajudaram, em comunhão, em assembleia, para renovar alguns laços, esclarecer alguns pontos.
Não sou Católica, nem Baptista, nem pertenço a qualquer instituição/Igreja. Já deu para perceber. Sou simplesmente Cristã e tenho uma relação individual e pessoal com Deus, sem intermediários, mas que partilho, pois acredito que tenho dentro de mim o Espírito Santo que Jesus nos deixou para não mais nos deixar.
Assim, talvez tenhas de chamar por ele, pegar na Bíblia, ler, por exemplo os Evangelhos. Saboreá-los:
João, Mateus, Lucas, Marcos. Cada um tem um tipo de escrita, desde a mais simples e apaixonada à mais erudita. Olha para além das palavras, sente o que está por trás. Separa dentro do teu peito aquilo que é a verdadeira Palavra de Deus do contexto social e cultural. Coloca-a em prática, todos os dias, nas mais pequenas coisas. Procura sem melhor.
Somos pescadores. Pescadores de almas...

Procura por alguém a quem falar, como esse Padre. Se não for essa a pessoa certa acredito que alguém vai surgir no teu caminho. Depois partilha a tua Fé com aqueles a quem esta já abandonou, bastando para isso que a confesses...
A Carta aos Colossenses dá uma ideia de como viver o dia a dia com Deus. Para rematar e não me alongar muito, lê a Carta aos Filipenses... :)

Eu não tive uma vida boa, e mesmo quando não tive uma vida boa, havia sempre muita coisa boa que me acontecia. Não temos sempre uma vida completamente boa, mas podemos ter a melhor vida que nos proporcionarmos.
Mas há uma coisa que é fundamental acreditar.
Deus é o nosso Pai, e como qualquer pai, não está ali para nos amparar as quedas, especialmente quando, como qualquer pai, ele nos dá coordenadas para sabermos caminhar em equilíbrio e fazer as escolhas certas. Mas nem sempre nós vamos pelo caminho certo, e quando caímos, ele está lá SEMPRE para nos ajudar a levantar.
Para isso basta olhar para Ele, reconhece-lo, chamar por Ele, pedir...

Um abraço.

GRAFIS disse...

e fala com Ele: conversa, pergunta, confessa, pede, agradeçe, contesta, todos os dias, em oração... as respostas hão-de vir/acontecer.

S-Kelly disse...

Obrigada Grafis por todos estes conselhos e "aconchegos". Tenho uma grande amiga que tem um percurso semelhante ao teu e com quem vou conversando sempre que tenho necessidade, pena é que não consigamos estar mais vezes juntas, porque as nossas conversas tornam-se sempre muito proveitosas e venho de lá bem mais rica e plena.

Há muitos anos, ainda tentei aprender a ler a Biblia (da forma como falas) com um amigo que vassilava quanto ao facto de entrar ou não no Seminário, mas foi há muitos anos e não estava preparada para a interpretar e alimentar, de forma que abandonei algumas "tertúlias" que fazíamos e cada um seguiu o seu caminho (e ele não foi para padre). A única leitura que algum dia fiz acerca da Biblia, foi através de um livro apaixonante de Werner Keller: " A Biblia tinha razão", mas confesso que o fiz porque me interessavam as questões que ele abordava, nomeadamente acerca dos factos históricos que se passaram no Oriente Próximo, na Mesopotâmia, na Palestina e no Egipto. A essência deste livro é provar factos que a Biblia descreve como tendo sido verdadeiros, nomeadamente lugares, cidades e povos mencionados na Biblia e que a Arqueologia acabaria por provar essa mesma existência, existência referenciada no Velho e no Novo Testamento, como é o caso da fisionomia dos hititas, os filisteus, os elegantes principes cananeus, os sorridentes reis de Mari, contemporâneos de Abraão, etc, etc... é um livro com alguns anos, um best seller, mas se nunca o leste e te interessam estas questões históricas, no fundo da origem das civilizações, aconselho-te vivamente a lê-lo.

Quanto à "vida boa" que temos, ou que não temos, já um dia o disse num post, eu sou efectivamente uma afortunada. Julgo que Deus sempre me amparou, sempre me levou pela sua mão, soube sempre deste meu privilégio face a tanta gente desafortunada que me rodeia. Aconteceram-me coisas que, agora, com outra capacidade de interpretação, entendo-as como causas naturais da vida, percursos frágeis, mas necessários, momentos certos, que abalam, é certo, mas que fazem parte desta vida, de um caminho natural. Evidente que custa perder uma avó, mas quantos há que perderam uma mãe? senti a perda e a dor recente de um amigo que partiu, mas e aquela familia de 4 filhos que ficou sem ele? e aqueles pais que viram partir um filho com 35 anos? toda esta sequência de acontecimentos, que me abalam e me incutem, por vezes, sentimentos de revolta, ajudam-me a dar graças pela vida feliz que tenho, sobretudo ensinam-me a valorizar a vida e o que ela tem de mais belo.

Não me vou estender mais, porque também não é o local mais indicado. Mais uma vez obrigada pelas tuas palavras certeiras e incisivas. Sem dúvida que falar com Ele é um passo importante e primário para entender-me e entender os outros, coisa que nem sempre é fácil...
Um abraço

GRAFIS disse...

Obrigada pela sugestão.
Não conheço o livro nem o autor. Tentarei encontra-lo.

De resto... tentarei amanhã.

S-Kelly disse...

Creio que a 1ª edição do livro em causa remonta a 1973, depois disso sairam muitas mais (8 creio), mas eu já só consegui encontrar em inglês, na Amazon.com, a um preço muito razoável (7€) - paguei mais pelos portes que pelo livro - de qualquer forma, e se não encontrares em português, há sempre esta hipotese...

GRAFIS disse...

Obrigada... :)

Procurei e ... acabei de fazer o download gratuito...

A partir daqui: http://baixem.blogspot.com/2008/06/livro-e-bblia-tinha-razo-werner-keller.html

Anônimo disse...

Obrigada :)
Beijo

S-Kelly disse...

Download? ora aí está uma coisa que me faz alguma impressão. Ter um livro impresso, ou não, por intermédio da internet, ainda para mais este que é volumoso. Com a música é igual, quando oiço e gosto, prefiro comprar e ter o original comigo, sempre à mão. Mas eu sou uma tipa assim, exigente e esquisita... :(
Um abraço

GRAFIS disse...

orquídea
...de nada :)
Agradece aí à moça que cedeu a ref. bibliográfica.
BJ

S_Kelly
...e não somos todos?
A verdade é que percebi que era difícil encontrar e como eu não tenho tempo para andar à procura... e se não o tiver à mão agora é possível que acabe por deixar passar...
Para mim é tudo uma questão muito mais pragmática que de "gosto".

E depois, provavelmente, um destes dias vou encontra-lo por aí, à minha espera, e nessa altura eu trago o original para casa.
AB

GRAFIS disse...

...trago o original se entretanto ainda tiver espaço...

S-Kelly disse...

A moça pode emprestar o original, but in english, which is a good exercise (i think)... ;-)

Quanto ao sermos TODOS esquisitos, não sei não, cada vez mais deparo-me com gente que adora piratar música, filmes and so on, o que não acho bem. Para mim a net serve para conhecer e apreciar, depois, caso goste então vou a correr comprar o original.

Ter-se espaço, e ser-se prático...ui, complicado, nos dias de hoje!
Um abraço
ps: gostei do AB (o B envolve o A, certo? = AB)

GRAFIS disse...

ah! a moça empresta um original em inglês... mt bem. é um excelente exercício, é verdade.

eu tenho algumas coisas gravadas. sim, admito, embora existam algumas que compro, especialmente dentro dos géneros que gosto. a verdade é que o dinheiro não dá para tudo, e eu gosto de ouvir musica diferente, coisas novas, e não há carteira que aguente. assim, partilho mta coisa com alguns amigos e ficamos todos contentes.
Já filmes sou uma excelente cliente do clube de vídeo e não tenho cópias.
Os livros já é diferente, embora actualmente e desde há algum tempo eu leia mt pouca literatura pois tenho mil e outras coisas para ler e o tempo escasseia e o cansaço ao fim do dia abunda…
Coisas desta vida moderna meio diabólica e alucinante.
AB