terça-feira, 3 de fevereiro de 2009




As casas habitadas são belas
se parecem ainda uma casa vazia
sem a pretensão de ocupá-las
tornam-se ténues disposições
os sinais da nossa presença:
um livro
a roupa que chegou da lavandaria
por arrumar em cima da cama
o modo como toda a tarde a luz foi
entregue ao seu silêncio

Em certos dias, nem sabemos porquê
sentimo-nos estranhamente perto
daquelas coisas que buscamos muito
e continuam, no entanto, perdidas
dentro da nossa casa


José Tolentino Mendonça

2 comentários:

S-Kelly disse...

É sempre bom reler Tolentino Mendonça. Tem um jeito muito especial, um correr de palavras em que bebe muito de Ruy Belo.
Lê-lo é aproximar os nossos sentidos da realidade que nos rodeia, mas ouvi-lo é atingir uma dimensão sensorial e emotiva únicas. Um prazer que desabrocha em paixão e em vício.
Um abraço forte

GRAFIS disse...

Imagino que sim. Nunca tive esse prazer, o de o ouvir, mas pela escrita, dir-se-ia, entre outras coisas, que está entre o terreno e o celestial.
AB GR