terça-feira, 27 de maio de 2008


...uma coisa eu tenho de confessar…


Se o sol não vem depressa eu sou bem capaz de entrar em depressão. É que já estou farta de tanta água, e vento, e frio, e céu cinzento, e de andar de camisola e casaco, chapéu de chuva e cabelo virado do avesso. Isto, aliado a um sintomático aumento de trabalho, a que é, normalmente, essencial, um aumento significativo de boa disposição, energia e adrenalina, não com nada….

É que eu estou para o sol como os carros estão para os combustíveis, ou seja, sou dependente dele e ele está a “entrar em deficit” (que é uma palavra que há muito entrou no nosso vocabulário) com uma diferença, felizmente, no meio desta coisa toda: eu sou mais ecológica.

O que me leva a pensar, quando se fala em combustíveis, ao que nós associamos logo impostos dos combustíveis, e logo de seguida impostos no geral sem olhar a quê… se quando no meu orçamento as despesas aumentam fruto de uma conjuntura económica a que sou alheia… será que posso ir exigindo à minha entidade empregadora que me aumente o salário? Ou tenho de reduzir as minhas despesas correntes e alguns investimentos acessórios (optando obviamente por não diminui no capital para investimentos estruturais) para fazer face a este tipo de situações? Como é que é? Ou será que posso escravizar alguém para lá ir buscar mais algum rendimento?
É que no meio destas questões só me ocorre dizer que me parece que, em muitos aspectos, estamos a voltar ao Antigo Regime…

E bom… voltando ao sol, já percebi que este ano se quiser passar férias a aquecer o corpinho ao sol tenho de pagar para ir para uma ilha tropical qualquer, que nem a Costa Alentejana ou o Algarve me valem.
Enquanto isso desespero por uns dias de sol e calor de rachar.
(National Memorial for the Homosexual Victims of the Nazi Regime)

É inaugurado hoje, em frente do Memorial ao Holocausto em Berlim. Este último está implantado numa grande área localizada junto às Portas de Brandenburgo, e é composto por 2711 lajes rectangulares de betão, de diferentes alturas, assimétricas, onde, ao caminhar por entre a quadricomia das lajes, por entre as pequenas passagens apertadas, paralelas e perpendiculares, nos afundamos por entre blocos de cimento enegrecido, no silêncio claustrofóbico e frio, descendo até às profundezas da terra e do terror… é indescritível a sensação (tal como é a de caminhar no Jardim do Exílio, na Torre do Holocausto ou através da Shalekhet de Menashe Kadishman no Museu Judeu de Berlim). Trata-se de um dos mais impressionante e perturbadores monumentos que nos remetem para as mais crueis atrocidades cometidas contra a Humanidade.
Já este novo memorial será inspirado no do Holocausto. Será constituído por uma laje idêntica às do memorial do outro lado da rua, feita no mesmo material e com a mesma cor, oca e maior, sem portas. Terá apenas uma pequena janela quadrada onde, através dela, se poderá observar um filme de um beijo interminável entre dois homens, realizado por Robby Müller e Thomas Vinterberg. O filme tem a particularidade de mostrar como pano de fundo a paisagem que está para lá da parede da laje, alterando-se apenas a paisagem, pois esta vai também mostrando a mudança das estações através do tempo, remetendo-nos para aquela noção de existência e de amor interminável e intemporal...

'We are the same, but we are also different.'

segunda-feira, 26 de maio de 2008



a partir de certa altura, a vida pode sair-nos da mão, ficar fora de controle. perseguimos sonhos. construímos alicerces, paredes e tectos. casas. sem darmos por isso tecemos ciladas. amarras. numa fracção de segundos, todos, menos nós, passam a controlar-nos.
deixamos de ter vontade própria. tornamo-nos escravos dos monstros que criámos. passamos a corresponder às expectativas do monstro… o corpo é frágil e prega-nos uma partida. sentimo-nos indefesos. sentimos medo e estamos sós.
um filme bem mais profundo, a explorar, através das entranhas do mais sórdido que temos dentro de nós, e simultaneamente, do que temos de mais inocente...

música... excelente!


Querida Annik,
Eu sei que me imponho na tua vida, não tu na minha.
Há dias pensei que as coisas estavam a tronar-se mais claras, mas vejo agora tudo desmoronar-se à minha frente.
Pago um preço caro pelos erros passados.
Nunca me dei conta como um erro cometido há quatro ou cinco anos me faria sentir assim.
Luto entre o que a minha mente me diz ser correcto e uma verdade deformada tal como é vista por outros, que não só são sem coração, como não percebem as diferenças.
A luta entre a consciência do Homem e o seu coração, até as coisas irem longe demais e não mais poderem ser corrigidas. No fim será tudo tão desprezível?
Não haverá mais nada?
Que haverá para além? Que resta para continuarmos?

Ian Curtis - Control

domingo, 25 de maio de 2008


Ontem, enquanto almoçava, ouvia na televisão uma notícia que dava conta da realização de um congresso anual de igrejas do reino de Deus, que entre outras coisas, são cristãos e evangélicos. Não são muito diferentes de outras igrejas, excepto em pequenos pormenores técnicos.
No decurso de uma entrevista que faziam a um pastor, este falava, entre outras coisas, sobre as questões do casamento e da homossexualidade, e lá ia dizendo que este tipo de orientação era contra o plano de Deus, porque o plano de Deus, o maior desígnio de Deus, assenta na família, alicerçada noutro tipo de relação (e aqui eu já estou a acrescentar, pois eles nem consideram que possa haver uma família numa relação homossexual), pois o fim último das relações/famílias (entendi eu) era a procriação… eu até percebo que a questão da continuação da espécie seja importante, mas deixemos de ser hipócritas.
Ora, eu enquanto cristã, filha de Deus, sempre senti que o grande plano de Deus, o maior e o mais importante, é o amor ao próximo, que os homens vivam em comunhão com eles próprios, fazendo a paz, vivendo em amor, e amor sente-se independentemente de ser por um homem ou por uma mulher, por um americano ou por um iraquiano, por um negro ou por um branco, por um heterossexual ou por um transexual. O desejo é um fruto e uma das múltiplas expressões do amor, seja ele por quem for, desde que seja consentido e compartilhado por duas pessoas.
Quanto às relações homossexuais, elas estão tão no plano de Deus quanto as heterossexuais, pois em nada são atentatórias a este. Eu não sinto que Deus me veja como uma pessoa diferente, pois Ele vê-me como uma pessoa que ama e respeita e contribui para a felicidade dos outros, e eu sei disso. E que em vez de ter os meus filhos, poderei amar os filhos de outros, igual ou mais que qualquer pai biológico, e cria-los igual ou melhor, faze-los bons homens e mulheres, dentro do plano de Deus, como o meu Pai me viu e ajudou a crescer, como o meu Pai ama a mim.
O que eu lamento é que hoje em dia certos homens, aqueles que assumiram perante os outros o papel de discípulos de Deus, ainda não tenham aprendido a olhar para a Sua palavra, escrita, e separar o que é espelho de uma cultura de há 2000 mil anos atrás e os verdadeiros fundamentos, os verdadeiros princípios do plano de Deus.
Em resposta à corrente de desafios, especificamente ao agora proposto pela Lover numa segunda versão, que ainda assim é mais fácil de responder que a primeira, aqui vai.
É suposto definirmo-nos nos aspectos abaixo descritos, através de palavras, imagens, música, tudo junto ou apenas através de um ou de outro…

Onde nascemos
Onde, quando, como… fomos criados e crescemos
Por onde andámos
Por onde andamos
Quem somos
Quem seremos

Quanto a desafiar… tenho poucas alternativas, mas deixo aqui o convite à Serotonina e à RV.



sábado, 24 de maio de 2008



Eu sou vertical

mas não que não quisesse ser horizontal.
não sou árvore com minha raiz no solo
sugando minerais e amor materno
para a cada março refulgir em folha,
nem sou a beleza de um canteiro
colhendo meu quinhão de Ohs e me exibindo em cor,
desconhecendo que me despetalo em breve.
comparados a mim, uma árvore é imortal
e um pendão nada alto, embora mais assombroso,
o que eu quero é a longevidade de uma e a audácia do outro.

à luz infinitesimal das estrelas,
flores e árvores trescalam seus frios perfumes.
eu me movo entre elas, mas nenhuma me nota.
chego a pensar que pareço o mais perfeitamente
com elas quando estou dormindo -
os pensamentos esmaecem.
é mais natural para mim deitar.
céu e eu então animamos a prosa,
hei-de servir no dia em que deitar afinal:
e as árvores aí talvez em mim tocassem e as flores comigo se ocupassem.

a imagem, de um caminho, já é de hoje, do fim do dia

boa noite

Hoje o dia nasceu assim... lindo!
Caloroso, aberto, fresco/ameno, sonoro, cheiroso...
A foto já não é de hoje. Saí com uma tal sede de me evadir, abrir os pulmões e o peito, que acabei por me esquecer do equipamento em casa.
De qualquer modo o mar estava igual, o céu igual, o tom de luz igual...
fechar os olhos...
... :)
Autor desconhecido

Às vezes seria melhor se nos confrontássemos, se nos batêssemos, sentir nas costelas e no rosto as pancadas dos punhos serrados, o sabor do sangue na boca, o ácido da saliva nas feridas, dor nos dias seguintes.
Ao invés disso a dormência, os silêncios, os espaços vazios, a ausência de gravidade.
Andamos à procura de algo com que encher os dias, com que completar os espaços vazios, com que sentir alguma coisa. Qualquer coisa.

Depois de tanto tempo sem fumar precisava agora de um cigarro bem forte, para sentir o fumo a macerar os pulmões e a inundar o sangue de prazer.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Pai – Olha lá?! Emprestas-me o teu ecoponto?
Eu – Empresto o quê?
- Qual ecoponto?
Pai – Aquele que tem quatro rodas e está estacionado lá fora…

Recanto em Serralves - Maio 2008

Acordo às 10h da manhã. Preciso de um café.
Enquanto deambulo até à cozinha revejo mentalmente as coisas que tenho de fazer.
Apetece-me sair. Olho pela janela. O céu está cinzento e está a chover. Tudo está calmo. Silencioso. Café.
Tenho umas ideias para alinhavar e um documento para preparar para uma reunião amanhã.
Sim. Estou de férias, mas só dos meus trabalhos regulares. Agora arranjei mais um projecto para estruturar e concretizar, numa área a que regresso dez anos depois.
Tenho de vender a ideia amanhã. Estou entusiasmada, mas tenho de ir buscar imensa papelada. Desfiz-me em telefonemas ontem para trocar ideias e encontrar bibliografia actual. Descubro que há algo de novo a acontecer, novas ideias, novas correntes, novas linhas de investigação e agrada-me. Muita coisa já mudou, embora não se perceba nada em Portugal. Percebo que terei de me atirar ao assunto com ainda maior atenção.
Estou feliz com a possibilidade de vir a trabalhar com antigos colegas da faculdade com percursos paralelos ao meu, e perco-me naquela ideia de que as linhas paralelas, afinal, se acabam por cruzar no infinito. Talvez tenha chegado o momento do infinito, penso eu. Se tiver chegado, então, talvez tudo seja possível.
Deambulo com a chávena na mão. Ligo o computador, visito meia dúzia de páginas na internet. Nada de novo.
Olho em volta. Tenho a secretária cheia de livros, catálogos, papeis, CD's, até um colete reflector cor de laranja que me fere os olhos, uma peça que fiz há pouco tempo, as máquinas fotográficas. Tenho de descarregar os cartões. Estão cheios.
Se o tempo estivesse melhor, esta manhã iria fotografar para a praia, o mar. Sou uma gaja vulgar, como as outras, e gosto de fotografar o mar e a praia.
Apesar de aqui ao lado, de por lá passar tantas e tantas vezes, não me tenho demorado na praia. Nunca se aprecia e conhece, verdadeiramente, aquilo com que não nos demoramos, no que quer que seja. Como uma relação de amor, que exige tempo e dedicação.
Já tenho saudades da praia. De caminhar pela vastidão da linha de mar, ouvir a água a conquistar a areia, o estremecer da violência e do furor das ondas. Saudades de sentir o cheiro característico de uma das que mais gosto, do cheiro dos seus arbustos aromáticos e camarinheiras misturados com o ar marinho.
Acabo o café. Ao descarregar as fotos encontro uma. Aquela. Há sempre uma "aquela" no meio de tantas outras. Porquê? Porquê esta e não outra?
Não sei. Há coisas que não se explicam. Há coisas que nos tocam, outras a que tocamos, algumas que se inundam mutuamente, mas o mistério dos laços ficará por desvendar, acho.
Preto e branco. Esta foi fotografada para passar a claro escuro. Desde o inicio esta ideia.
Um caminho.
Deixo-a aqui.
Penso: e a música...
Hoje não me tocou qualquer música. Não me lembro de outra.
Nem todos os dias são bons dias para nos invadirmos de música. Nem todos os dias a música vem ter connosco.
Manter-se-á o Leonard.

Tudo está programado, excepto o pensamento e o peito…
…e enfim, mais um dia que se avizinha longo e lento, silencioso, de horas imensas e amenas.

Post Scriptum - Jã não é Leonard com a Take This Waltz.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Annie Leibovitz - fotografada por Susan Sontag.

Há certas coisas que invejo, demasiado, porque anseio viver, porque desejo. Já me disseram que eu e o desejo não existimos, não coabitamos, não nos damos.
E talvez não.
Por vezes não sei o que existe, coabita ou dá, de facto, se eu se o desejo, mas mesmo que sim, sem mim, de pouco vale. Ou isso ou talvez sofra de um síndrome de indiferença crónica, de desprendimento, insensibilidade ou ainda de distracção.
Às vezes consigo convencer-me mesmo que sim.
Aquele rosto espelha felicidade, não espelha?

não tenho sono.
hoje terei de me levantar cedo e, certamente, custar-me-á levantar. embora agora não tenha sono nem me apeteça dormir.
entrarei em lisboa em hora de ponta. pára. arranca. pára. arranca. 4 ou 5 km de fila. rostos inertes atrás dos volantes, olhos cansados. paramentos de prédios despidos, velhos e sujos. janelas fechadas. trânsito. caos.
até lá uma viagem através de vales e planícies verdejantes, quilómetros de asfalto e terra verde, o vento e o silêncio, o pensamento a deambular pelo crepúsculo da manhã.
gosto destas viagens. geralmente ordeno ideias, faço balanços, reorganizo-me. na volta um pensamento apenas: quatro dias de férias. nessa altura durmo tudo...
...
aborrece-me não ter sono.
insónia.
enfim…

vou ali então contar cordeirinhos…
boa noite e até mais logo.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Martinha Maia, No Drawing, no Espaço Avenida, Maio 2008.



Ando um pouco acima do chão
Nesse lugar onde costumam ser atingidos
Os pássaros
Um pouco acima dos pássaros
No lugar onde costumam inclinar-se
Para o voo

Tenho medo do peso morto
Porque é um ninho desfeito

Estou ligeiramente acima do que morre
Nessa encosta onde a palavra é como o pão
Um pouco na palma da mão que divide
E não separo como o silêncio em meio do que escrevo

Ando ligeiramente acima do que digo
E verto o sangue para dentro das palavras
Ando um pouco acima da transfusão do poema

Ando humildemente nos arredores do verbo
Passageiros num degrau invisível sobre a terra
Nesse lugar das árvores com fruto e das árvores
No meio dos incêndios
Estou um pouco no interior do que arde
Apagando-me devagar e tendo sede
Porque ando acima da força a saciar quem vive
E esmago o coração para o que desce sobre o mar

E bebe


Daniel Faria – Poesia - Das Manhãs - Explicação das árvores e de outros animais, Edições Quasi, 1.ª edição, Lisboa, Novembro 2003, p.39


:

Harry Callahan, Chicago, 1949


Mais uns dias desvairados de coisas para lá, coisas para cá, imensas coisas, pouco tempo para tudo o resto, muito tempo preenchido de coisas que vão acontecendo e preenchendo todos os segundos. Dias que excedem todas as expectativas, até as minhas mais optimistas expectativas, e ainda assim, afinal, dias como todos os outros, quando supostamente seriam dias melhores e mais completos, mais felizes.
Por fim o cansaço, apenas e só, e amanhã um novo dia, uma nova semana de agenda completa, repleta de horas cheias de coisas.
Durante muito tempo esta agenda resgatou-me ao tempo vazio, pois quanto mais vazio é o tempo, mais vazios são os dias, de paredes informes, padronizadas, duas ou três ilusões (ou uma dúzia).
Ali imagino um jardim que talvez possa um dia ser maior. Uma alucinação. Semeio o tempo com coisas e nascem inertes, pedras.
Hoje, particularmente, colhi uma constipação.

quarta-feira, 14 de maio de 2008






a fé ou a incapacidade de sentir
ou simplesmente não sentir
os hiatos de tempo e espaço
a dureza
a abstracção


8 1/2, de Frederico Fellini, com Marcello Mastroianni, Claudia Cardinale, Anouk Aimée, Sandra Milo, Rossella Falk - 1963.

domingo, 11 de maio de 2008





O ideal era viver para além das paixões e dos sentimentos, na harmonia que existe na obra de arte acabada, na sua ordem encantada.
O ideal seria conseguir amar-nos intensamente, para conseguir viver fora do tempo, imperturbáveis… imperturbáveis.



La Dolce Vita, de Frederico Fellini, com Marcello Mastroianni, Anita Ekberg, Nadia Gray, Yvonne Furneaux, Anouk Aimée, Magali Noe, Alain Cluny and Lex Barker - 1960.


.


sábado, 10 de maio de 2008

imagem daqui
P A R A B É N S
Vanessa Fernandes
Penta Campeã Europeia em Triatlo - 2008

terça-feira, 6 de maio de 2008




Surpreendida e surpreendente.
The Mist.
Um filme sobre as veredas do medo, do mais frio e cortante terror, sobre as entranhas das fundações que sustentam a natureza humana e os limites da razão, sobre o limiar da perda do juízo e o passar para o outro lado.
Uma das abordagens que mais gostei foi a realizada à personagem fanática religiosa, acima de tudo a evolução desta personagem, a evolução do seu fanatismo, das suas crenças, das suas relações e da sua influência sobre os outros, as proporções que essas relações vão tomando, todos os seus significados, e a questão do poder, a forma como se alimenta do poder e a forma como o exerce sobre os outros.
Trata-se também de um filme sobre o poder, do sujeito e do objecto do poder, sobre os seus vários rostos face ao terror crescente do desconhecido e à necessidade de sobreviver.
É um filme meio apocalíptico (e violento – ah, e lá estavam as aranhas, que até me torci toda na cadeira), mas surpreendente.
E surpreendente e absolutamente admirável é o final, de génio (ao que parece, segundo me disseram, o final do filme não é o mesmo do livro, nem do Stephen King).
Trágico também, angustiante, especialmente porque envolve uma criança, que ao longo do filme parece ser como que o rei no tabuleiro, se estivéssemos a falar de xadrez.

Bom, mas assustador, assustador… foi a quando a minha amiga que me desafiou para ir ver o filme se engasgou numa pipoca e eu tive de a puxar para fora da sala sem perceber muito bem o que estava a acontecer. Assustador porque realmente ninguém está à espera que aconteça uma coisa destas, que alguém comece a agitar os braços e agarrar-nos o braço com uma força imensa sem conseguir respirar, por causa de uma pipoca atravessada na garganta (percebi depois, já fora da sala).
Mas acima de tudo é mesmo assustador porque não houve ninguém que se importasse sequer, ninguém se mexeu, ninguém ajudou, ninguém parecia muito incomodado, tirando o facto que estarmos a tapar a visão a algumas pessoas que estavam atrás, e eu garanto que devemos ter levado pelo menos um minuto a sair da sala, a moça sem conseguir respirar e eu a puxa-la (como podia) pelo tronco, e embora o ruído e a agitação, népias!
Mas correu tudo bem e não foi preciso chamar os bombeiros nem nada disso. Só uma pipoca atravessada na garganta.
Acho que a moça vai ter mais uma história para contar…
Voltando ao filme, recomenda-se!

domingo, 4 de maio de 2008

João Hogan, Paisagem.

Umas mini-férias também têm as suas desvantagens.
Uma delas, de tanto dormir (só de quarta para quinta foram 12h seguidas) chegamos facilmente a um ponto em que perdemos o cansaço físico todo (para mim bastaram 3 noites com mais de 10h de sono), acordamos tarde e temos tendência para deitar cada vez mais tarde… resultado: o relógio biológico todo descontrolado.
E espante-se: foram só quatro dias de férias mas já estou que nem posso...
Ontem às 3h30 da manhã ainda andava às voltas na cama para dormir e nem mesmo a ler conseguia adormecer.
Acordei às 10h30 cheia de energia.
Hoje já estive de volta de uns assuntos e ainda assim estou aqui completamente alerta.
São 23h, não tenho ponta de sono nem de cansaço, e amanhã às 8h tenho de estar de pé, de volta ao ritmo frenético das 10h normais de trabalho a um ritmo acelerado (que vêem aí tempos de muita coisa a acontecer).
Mas o João Pestana não quer nada comigo, e cheira-me que vai ser outra daquelas noites…

Apesar desta conversa toda, que só poderia levar a concluir que a minha vida é só trabalho (e é, mais ou menos) a primeira coisa que vou fazer amanhã quando chegar é marcar as férias deste ano: um mês e meio de férias… são tantas que nem sei onde as enfiar, mas vou!
Donna Garde - teia de aranha gigante

A natureza humana tb tem destas coisas. Tal como alguns animais, alguns humanos não resistem ao jogo da sedução, ao deitar da teia, ao tecer delicado das suas malhas ardilosas, ao aspergir calculado de feromonas, ao pavonear de suas penas, ao cercar da presa subtilmente escolhida, ao acercar-se a pouco e pouco, vagarosamente, para no momento derradeiro nos puxar para um leito de morte.
Tal como alguns animais, alguns humanos são, pura e simplesmente predadores. O móbil deste jogo perigoso pode ser qualquer um: avareza, vingança, sobrevivência, instinto… enfim...

Sobre a imagem deste post, tenho de confessar que, desde que a encontrei, tenho estado para aqui com umas impressões sobre a pele... e esta é de uma beleza extraordinária, uma curiosidade, atraente, e quase poderia prender alguém do meu tamanho, mas... pouca sorte... Eu detesto aranhas!

sábado, 3 de maio de 2008

August Rodin - 1887
.
Hoje, durante uma das minhas pesquisas para alinhavar umas coisas para a semana, encontrei a escultura de Rodin "O beijo" e imediatamente me lembrei de outros... o beijo de Klint na pintura, assim como os de Picasso, o beijo na Times Square fotografado por Victor Jorgensen em 1945 no final da Guerra, e haverão outros...
De facto, há uma panóplia de beijos espalhados pelo mundo, ao longo de séculos, eterizados nas mais belas obras de arte, seja na escultura e pintura, seja na literatura, fotografia ou cinema.
Querem ver?
É só pesquisar e ver onde, por exemplo, a net nos pode levar…

sexta-feira, 2 de maio de 2008


Ainda estou a assimilar o filme, e não fosse hoje ter “merendado”, teria juntado a digestão do jantar ao banho de sangue, e isso sim, seria uma tragédia…
Uma coisa é perceptível: com tamanha violência (que se dá, gratuitamente), aquele país não é nem para velhos nem para novos, apenas para gente louca.
Bom argumento, boa realização e a prestação de Javier Bardem é excelente. A de Tommy Lee Jones, ao seu jeito e igual a si próprio, também.
O fim deixa-nos assim, meio a seco e perdidos no deserto…

quinta-feira, 1 de maio de 2008

João Cutileiro, Árvore.

Quinta-feira da Ascensão

Quarenta dias depois da Ressurreição, Jesus apareceu pela última vez aos seus discípulos em Jerusalém, e levou-os ao Monte das Oliveiras.
Depois de lhes ter renovado a promessa do Espírito Santo, ergueu as mãos ao céu e abençoou-os.
Nesse instante começou a elevar-se no ar até que a sua figura desapareceu aos olhos deles.
Como estes continuaram a olhar o céu, apareceram-lhes dois anjos a anunciar que Jesus voltaria do mesmo modo que o viram subir. Então, os discípulos deixaram o Monte das Oliveiras e regressaram a Jerusalém.

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Está escrito que o Messias havia de sofrer e de ressuscitar dos mortos ao terceiro dia e que havia de ser pregado em seu nome o arrependimento e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém. Vós sois testemunhas disso. Eu vos enviarei Aquele que foi prometido por meu Pai. Por isso, permanecei na cidade, até que sejais revestidos com a força do alto». Depois Jesus levou os discípulos até junto de Betânia [numa vertente do Monte das Oliveiras] e, erguendo as mãos, abençoou-os. Enquanto os abençoava, afastou-Se deles e foi elevado ao Céu. Eles prostraram-se diante de Jesus, e depois voltaram para Jerusalém com grande alegria. E estavam continuamente no templo, bendizendo a Deus.
Lucas 24, 46-53

Estamos no penúltimo momento do mistério pascal, antes da dádiva do Espírito Santo ao se completarem os cinquenta dias até ao Pentecostes.

No final do caminho percorrido está a vida definitiva, a comunhão com Deus.
Jesus deixou-nos o testemunho de que somos nós, seus seguidores, que devemos dar continuidade ao projecto de Deus para todos os povos, através do nosso envolvimento pessoal e do nosso testemunho.
Deus não quer que sejamos comerciantes, industriais, proprietários ou pessoas de sucesso, mas pessoas que amam o próximo como a si mesmo...

Dia da espiga

Festa pagã de celebração da fertilidade.
Apanha-se o ramo no campo: espigas de trigo, ramos de oliveira, malmequeres e papoilas.
O ramo também pode levar outros cereais (trigo, centeio, aveia, etc.) e toda uma panóplia de flores e arbustos silvestres.

Cada elemento tem um simbolismo muito próprio:

A espiga: o pão (para haja alimento em abundância em cada lar).

O ramo de oliveira: a paz e a luz (divina) (para nos manter no caminho do bem e afastados da escuridão).

Flores: alegria (simbolizada pela cor - o malmequer simboliza ainda o ouro e prata, a papoila o amor e a vida, e o alecrim a saúde e a força).

O ramo era guardado até à quinta-feira da espiga do ano seguinte, pendurado algures dentro de casa.
Lembro-me ainda que era neste dia que o Padre visitava a casa de minha avó, do caminho e entrada da casa enfeitados com abrotegas, flores do trevo e alecrim. Este benzia a casa aspergindo Água Benta e nós beijávamos os pés de Jesus na cruz...
Eram tempos serenos e quentes, dias completos e cheios de vida.
Aqui por estes lados fazem-se grandes romarias ao campo e à mata para o tradicional almoço ao ar-livre e romagens à praia durante a tarde...
Até logo.
Júlio Pomar - O Almoço do Trolha, 1946/50.

Estávamos em 1886 em Chicago.
Milhares de trabalhadores manifestavam-se nas ruas daquela cidade reivindicando a redução da jornada de trabalho para 8 horas diárias, iniciando-se uma greve geral que originou vários conflitos com a polícia, que acabaram com um violento confronto ocorrido a 3 de Maio, do qual resultou a morte de alguns manifestantes.
No dia seguinte ocorreu uma segunda manifestação de protesto pelos acontecimentos dos dias anteriores, que terminou com o rebentamento de uma bomba no meio dos policias que faziam frente aos trabalhadores, matando um e ferindo outros sete, que acabariam por morrer posteriormente.
A polícia abriu imediatamente fogo contra os manifestantes, ferindo dezenas de pessoas e matando um total de onze manifestantes.

Oito dos organizadores da manifestação, militantes anarquistas, foram presos e incriminados, apesar da ausência de provas que os implicassem no lançamento da bomba.
Quatro destes foram executados, um cometeu suicídio antes que fosse consumada a sentença de morte e os outros três receberam sentenças de prisão, revogadas em 1893, altura em que se concluiu que todos os oito acusados eram inocentes.

Estes acontecimentos passaram a ser conhecidos como a Revolta de Haymarket e os oito anarquistas como os Mártires de Chicago.

Três anos mais tarde, a 20 de Junho de 1889, a segunda Internacional Socialista reunida em Paris decidiu convocar uma manifestação anual com o objectivo de lutar pelas 8 horas de trabalho diário. A data escolhida foi o 1º de Maio, em homenagem às lutas sindicais de Chicago.

Em 1 de Maio de 1891 uma manifestação no norte de França é dispersada pela polícia. O balanço: a morte de dez manifestantes.
Este conflito veio reforçar ainda mais a urgência e o simbolismo deste dia - o dia de luta dos trabalhadores.
Meses mais tarde, a Internacional Socialista de Bruxelas proclama o 1.º de Maio como dia Internacional de Reivindicação de Condições Laborais.

Em Portugal o 1.º de Maio é comemorado pela primeira vez em 1974, no seguimento dos acontecimentos de 25 de Abril - durante a ditadura do Estado Novo a comemoração deste dia foi sempre reprimida pela polícia - culminando numa explosão de liberdade e de Humanidade.

Um dia e uma luta que não nos devem envergonhar, amedrontar, curvar perante os interesses económicos e especulativos que tantas vezes utilizam o nosso trabalho, explorando-o, em beneficio do lucro e de um punhado de homens e mulheres que não são mais nem menos do que o mais humilde trabalhador, simplesmente porque têm mais bens materiais.
Nós, trabalhadores, vendemos o único bem (precioso) que temos: o nosso trabalho, as nossas competências e capacidades essenciais ao desenvolvimento e à vida tal como a conhecemos. Não nos deixemos desvalorizar em nome do lucro e dos interesses económicos globais. Há valores bem mias importantes que o dinheiro.