segunda-feira, 19 de maio de 2008

Martinha Maia, No Drawing, no Espaço Avenida, Maio 2008.



Ando um pouco acima do chão
Nesse lugar onde costumam ser atingidos
Os pássaros
Um pouco acima dos pássaros
No lugar onde costumam inclinar-se
Para o voo

Tenho medo do peso morto
Porque é um ninho desfeito

Estou ligeiramente acima do que morre
Nessa encosta onde a palavra é como o pão
Um pouco na palma da mão que divide
E não separo como o silêncio em meio do que escrevo

Ando ligeiramente acima do que digo
E verto o sangue para dentro das palavras
Ando um pouco acima da transfusão do poema

Ando humildemente nos arredores do verbo
Passageiros num degrau invisível sobre a terra
Nesse lugar das árvores com fruto e das árvores
No meio dos incêndios
Estou um pouco no interior do que arde
Apagando-me devagar e tendo sede
Porque ando acima da força a saciar quem vive
E esmago o coração para o que desce sobre o mar

E bebe


Daniel Faria – Poesia - Das Manhãs - Explicação das árvores e de outros animais, Edições Quasi, 1.ª edição, Lisboa, Novembro 2003, p.39


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2 comentários:

Gisela FFale disse...

que escelente leitura acompanhada deste piano e outros sons...
boa noite :)

GRAFIS disse...

duas coisas mt boas: texto e música... (qualquer dia ainda me cobram direitos de autor, especialmente por causa dos textos...)
bom dia (apesar do anticiclone dos Açores continuar desaparecido).