Ando um pouco acima do chão
Nesse lugar onde costumam ser atingidos
Os pássaros
Um pouco acima dos pássaros
No lugar onde costumam inclinar-se
Para o voo
Tenho medo do peso morto
Porque é um ninho desfeito
Estou ligeiramente acima do que morre
Nessa encosta onde a palavra é como o pão
Um pouco na palma da mão que divide
E não separo como o silêncio em meio do que escrevo
Ando ligeiramente acima do que digo
E verto o sangue para dentro das palavras
Ando um pouco acima da transfusão do poema
Ando humildemente nos arredores do verbo
Passageiros num degrau invisível sobre a terra
Nesse lugar das árvores com fruto e das árvores
No meio dos incêndios
Estou um pouco no interior do que arde
Apagando-me devagar e tendo sede
Porque ando acima da força a saciar quem vive
E esmago o coração para o que desce sobre o mar
E bebe
Daniel Faria – Poesia - Das Manhãs - Explicação das árvores e de outros animais, Edições Quasi, 1.ª edição, Lisboa, Novembro 2003, p.39
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2 comentários:
que escelente leitura acompanhada deste piano e outros sons...
boa noite :)
duas coisas mt boas: texto e música... (qualquer dia ainda me cobram direitos de autor, especialmente por causa dos textos...)
bom dia (apesar do anticiclone dos Açores continuar desaparecido).
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