quarta-feira, 30 de maio de 2007

...

Agora, apodrecer.
Nas ruas, no suor das mãos amigas dos amigos, na pele dos espelhos...
desespero sorrido, carne de sonho público, montras enfeitadas de olhos...

...mas apodrecer.

Bolor a fingir de lua, árvores esquecidas do princípio do mundo...
"como estás, estás bem?", o telefone não toca! devorador de astros...

... mas apodrecer.

Sim, apodrecer
de pé e mecânico,
a rolar pelo mundo
nesta bola de vidro,
já sem olhos para aguçar peitos
e o sol a nascer todos os dias
no emprego burocrático de dar razão aos relògios,
cada vez mais necessários para as certidões da morte exata,

Sim, apodrecer ...

"...as mãos, a còlera, o frio, as pálpebras, o cabelo
a morte, as bandeiras, as lágrimas, a república, o sexo...

... mas apodrecer!

Sujar estrelas.

José Gomes Ferreira

5 comentários:

Teresa Durães disse...

gosto bastante de JGF, não conhecia este

(penso como ele....)

boa noite

GRAFIS disse...

É o limbo e um caminhar para um fim...

Teresa Durães disse...

eu sei, conheço a sensação...

mas de repente tudo pode mudar, sabias? noutras alturas nem por isso e às vezes fazem-se asneiras

GRAFIS disse...

É verdade, eu sei que pode, sei que é preciso querer, não sei se quero, em suma, é/sou como o vento. Defeito de concepção no processo da constituição do embrião, de aprendizagem ou de casmurrice latente e crónica… não sei. Ainda tenho de averiguar :)

Teresa Durães disse...

nem sempre é uma questão de só querer.. por vezes, infelizmente, é preciso ajuda. fala a experiência