quinta-feira, 24 de maio de 2007
Palavras punhais
1
Todos os dias os ministros dizem ao povo
como é difícil governar. Sem os ministros
O trigo cresceria para baixo em vez de crescer para cima.
Nem um pedaço de carvão sairia das minas
se o chanceler não fosse tão inteligente. Sem o ministro da Propaganda
mais nenhuma mulher poderia ficar grávida. Sem o ministro da Guerra
nunca mais haveria guerra. E atrever-se ia a nascer o sol
sem a autorização do Führer?
Não é nada provável e se o fosse
ele nasceria por certo fora do lugar.
2
E também difícil, ao que nos é dito,
dirigir uma fábrica. Sem o patrão
as paredes cairiam e as máquinas encher-se-iam de ferrugem.
Se algures fizessem um arado
ele nunca chegaria ao campo sem
as palavras avisadas do industrial aos camponeses: quem,
de outro modo, poderia falar-lhes na existência de arados? E que
seria da propriedade rural sem o proprietário rural?
Não há dúvida nenhuma que se semearia centeio onde já havia batatas.
3
Se governar fosse fácil
não havia necessidade de espíritos tão esclarecidos como o do Führer.
Se o operário soubesse usar a sua máquina
e se o camponês soubesse distinguir um campo de uma forma para tortas
não haveria necessidade de patrões nem de proprietários.
E só porque toda a gente é tão estúpida
que há necessidade de alguns tão inteligentes.
4
Ou será que
governar só é assim tão difícil porque a exploração e a mentira
são coisas que custam a aprender?
Bertold Brecht
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6 comentários:
boa escolha, vizinha: presumo que uma ironia bem a propósito dos tempos que correm. brecht remata "E só porque toda a gente é tão estúpida/que há necessidade de alguns tão inteligentes".
nem mais!
Tb me pareceu.
Bom fim-de-semana.
ehehhe
não só gostei da escolha como dos comentários
bom fim-de-semana
sim senhor, belo lugar-comum...
Teresa
Já passou. Para a semana há mais.
.-.-.-.-.-.-.-.-.-.
oh shôr F não sei das quantas!? Agora deu-lhe para comentar como anónimo?
Não há necessidade! Vivemos num país democrático (por enquanto) e o shôr pode assinar os comentários que ninguém lhe faz mal.
Muito irónico, sim senhora!
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