sábado, 5 de maio de 2007

A matéria das palavras, de Ana Hatherly


Estamos aqui. Interrogamos símbolos persistentes.
É a hora do infinito desacerto-acerto.

O vulto da nossa singularidade viaja por palavras
matéria insensível de um poder esquivo.

Confissões discordantes pavimentam a nossa hesitação.
Há uma embriaguês de luto em nossos actos-chaves.

Aspiramos à alta liberdade
um bem sempre suspenso que nos crucifica.

Cheios de ávidas esperanças sobrevoamos
e depois mergulhamos nessa outra esfera imaginária.

Com arriscada atenção aspiramos à ditosa notícia de uma
perfeição
especialista em fracassos.

Estrangeiros sempre
agudamente colhemos os frutos discordantes.


Ana Hatherly

2 comentários:

serotonina disse...

A dualidade entre o que se deseja, sem saber se se deseja mesmo, e aquilo que se tem.

GRAFIS disse...

É um problema esta vida que se leva...