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Tenho aflição por tudo o que morre
Como tenho pavor por cada noite que cai.
Como fui esquecer o caminho para fora?
Infeliz que escrevi as sendas da caça.
Comerei erva? Sol? Comerei estepes e estepes
A arder?
Vou-me pôr à mesa e esperar.
Tenho aflição por toda a ausência não anunciada
Acendi a luz por toda a casa e electrifiquei a voz
Agora posso ampliar o clarão dos gritos.
Posso abrir trilhos no fogo: sei o ritmo da mão exacta
Que fez o povo atravessar enxuto o interior da água.
Vou-me sentar à mesa. Vou deixar arrefecer a comida.
Fazer de conta que estou a esperar.
Daniel Faria – Poesia, Edições Quasi, 1.ª edição, Lisboa, Novembro 2003, p.40
6 comentários:
Querida Grafis, vir aqui é realmente de ficar com o "gasganete a sufocar"...com todo o respeito, o post posterior não está aberto a comentários, mas não resisto a dizer-lhe que está fabuloso!
bj
Acabamos por encontar sempre algo "fabuloso" na tragédia não é?
Por fim, até acabamos por rir de nós próprios, quem sabe se para evitar que choremos...
Voltamos à terceira pessoa?
Não entendo... Olhe que se formos pela questão da idade, possivelmente, a Sr.ª ganha-me em alguns pontos :)
Bjs
lol, desculpa Grafis...:) ok...eu tenho 35, e sou uma miúda!:) escreves muito bem! Obrigada pelo comment que deixaste, é bom ler-te!
boa noite miúda e volta sempre;)
ah! a diferença não é muita, afinal. Duas miúdas, portanto.
duas miúdas, portanto! ;) de espirito pelo menos :))
e que até parece que até acabam por se rir delas próprias, quem sabe se para evitar que chorar...
fabuloso ;)
De espírito e de idade mesmo, pelo menos por mais uns 15/20 anos.
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