Mostrando postagens com marcador Amadeo Modigliani. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Amadeo Modigliani. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Amadeo Modigliani - Seated Nude

Esta semana, numa das minhas deambulações e intermezzos à espera de um determinado tempo, então a fazer tempo e não querendo perder gota dele, entrei numa livraria.
É em locais como este que ultimamente, quando posso, me perco e invisto o meu tempo, que de outra forma sairia desperdiçado.
Agora pareço até ter tempo para me perder assim, porque o encontro com a literatura (como com a música – não tanto as artes plásticas, embora, por vezes, também aconteça) é mais intenso e verdadeiro quando só, com tempo, porque é preciso fazer um intervalo com um princípio e um fim para entrar numa livraria e pegar em livros, sem necessidade de dar atenção a mais nada senão às palavras e lá no subconsciente às horas que ainda hão-de vir, lá ao longe. Ou então não é preciso nada disto, mas apenas estar, inteira, e receptiva.

Encontrei num escaparate uma pequena antologia de poesia russa, editada pela Relógio d’Água.
Há já algum tempo que andava encantada com as obras de alguns poetas russos, nomeadamente o Maiakovski (a razão da minha procura por mais), o Pasternak e a Anna Akhmátova, razão pela qual trouxe o livro para casa.
No fim-de-semana calhou, por entreposta pessoa, conhecer alguém que também partilha do gosto pela poesia russa e que tem várias obras traduzidas para o Inglês e Francês. Foi assim que me vi com as obras completas de Anna Akhmátova nas mãos, numa edição em inglês, à qual me rendi e me entrego sem reserva.
Na verdade, tenho de confessar que não gostei da antologia que comprei, muito menos da tradução, razão pela qual vou partilhar alguns dos poemas que vou gostando, numa língua que não é a minha, mas que tomo de empréstimo sempre que necessário (não me atrevo a traduzir porque não sei. É preciso saber-se.).

I live like a cuckoo in a clock,
I’m not jealous of the forest birds.
They wind me up – and I cuckoo.
You know – such a fate
I could only wish
For someone I hate.

March 7, 1911
Tsarskoye Selo



I wept and repented.
If only thunder would burst from the skies!
My heavy heart was exhausted
In your inhospitable house.
I know the unendurable pain,
The shame of the road back…
Terrible, terrible, to return
To the unloved one, the silent one.
If I bend over him, beautifully dressed,
Necklaces ringing –
He’ll only ask: “My incomparable beauty!
Where were you praying for me?”

1911

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Amadeo Modigliani, Anna Akhmatova.


N.P.
And that heart no longer responds
To my voice, exulting and grieving.
Everything is over… And my song drifts
Into the empty night, where you no longer exist.

1953
Anna Akhmatova

.

So many stones have been thrown at me
That I’m not frightened of them anymore,
And the pit has become a solid tower,
Tall among tall towers.
I thank the builders,
May care and sadness pass them by.
From here I’ll see the sunrise earlier,
Here the sun’s last ray rejoices.
And into the windows of my room
The northern breezes often fly.
And form my hand a dove eats grains of wheat…
As for my unfinished page,
The Muse’s tawny hand, divinely calm
And delicate, will finish it.

June 6, 1914
Slkepnyovo

Anna Akhmatova