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quarta-feira, 9 de abril de 2008


Andy Kehoe - Humanity Bleeds

Em resposta a um desafio, os livros que mais me marcaram, marcam e acompanham…
Tal como à Lover, também o Principezinho me marcou e acompanha, muitas vezes de memória (pelo menos na ideia/conceito), assim como os de Khalil Gibran (emprestei os “meus” há já alguns anos e nunca mais os vi… já me tinham sido oferecidos e foram-me importantes. Gosto de pensar que acompanham a pessoa a quem já os dei, e que lhe são importantes.
Li Pedro Paixão quando estava na moda, assim como li Saramago mesmo não gostando. Em certas alturas tentei ler mais, mas por uma razão ou outra, que para aqui não interessa, o tempo foi gasto de outras formas e a ler outras coisas.
Também li os pequenos livros de Derek Prince ou os de Brain Wess, entre outros, numa busca incessante de um certo quê de essência, humanidade e identidade. Acabei no livro dos livros, que leio há muito tempo, por vezes, repetidamente e que faz todo o sentido.
Aqui vão então os que me lembro terem sido mais marcantes:

Admirável Mundo Novo – Aldous Huxley (há uns… 17 anos atrás)

O Preço do Sal – Patricia Highsmith (há uns… 14 anos atrás)

(neste hiato de tempo, cada vez menos tempo para ler, a sério, tão descontinuadamente, que não me ocorre nenhum livro verdadeiramente marcante, pelo menos não com a mesma intensidade que os outros. Apenas umas coisas, mas tb outras tantas outras, mais técnicas, talvez muito enfadonhas, mas que me marcaram muito, se bem que, não no sentido que aqui se fala)

Poesia (completa) – Daniel Faria (de há três anos atrás até hoje)

Bíblia (principalmente os Evangelhos assim como alguns capítulos do Antigo Testamento) (desde há… três anos atrás até hoje, continuadamente)

Passar o desafio... a quem queira simplesmente partilhar, aqui ou noutro local qualquer, pois é isso que importa: a partilha.
.
ADENDA: Há um outro, neste "hiato de tempo", que me marcou, verdadeiramente: Portugal Hoje. O Medo de existir, de José Gil, que não consigo agora localizar - devo ter emprestado... (certamente que agora vão começar a surgir outros, mas prometo fugir à tentação de fazer disto uma lista exaustiva e enfadonha)

quinta-feira, 3 de abril de 2008


Tenho a sensação que algo comigo está mal e enquanto descubro quem ou o que está mal, sento-me e tento perceber onde é que errei.
Nunca a minha vida foi tão afectada devido aos traços, mais ou menos profundos, da minha personalidade, segundo consta.
No trabalho, parece que a minha competência no que toca a espírito de equipa e coordenação foi classificada de suficiente, apesar do excelente desempenho da minha coordenação e da minha equipa de trabalho, que superou todos os objectivos com um bom (para não dizer muito bom, pois foi assim que foi classificado) desempenho.
Vou a ver porquê…
Porque eu tenho “uma personalidade muito forte, empreendedora, que imprime aos projectos uma dinâmica muito particular” mas “a minha impulsividade e dinamismo” leva-me a criar “atrito” com certas outras pessoas…
É que eu sou daquelas pessoas que anda sempre a inventar trabalho, e isso incomoda muita gente, eu sei, e isso cria "atrito".
Assim, como sou daquelas gajas que não diz que não a propostas de trabalho, desde que interessantes, que na grande maioria das vezes resultam em grandes dores de cabeça e noites mal dormidas, porque só me fazem propostas para coisas que ninguém lhe apetece pegar, ou com prazos complicados, meio intrincadas e que exigem total dedicação (penso que deve ser para eu lhe “imprimir” o meu “cunho pessoal” e para as levar até ao fim, ultrapassando a inércia e a alergia que certas pessoas têm ao trabalho, mas não têm aos louros), e isso também cria "atrito".
Mas também sou daquelas gajas que chama as coisas pelos nomes, que coloca as questões frontalmente em vez de andar a falar pelos cantos e às escondidas, e como muita gente não gosta ou não lhe convem ouvir, cria-se "atrito".
Não se pense que sou super boa e maravilhosa em tudo o que faço. Não sou. Tenho defeitos, também erro, também crio inércia e ganho alergia a certas coisas, podia ser muito melhor.
Porém, não sei o que quer isto dizer, mas sou forçada a tirar elações, porque algo terá de mudar. Ou a favor do sistema ou contra o sistema. É a fase em que estou, daí a cara feia.

Depois disto também já não adianta entrar pela minha vida pessoal, que aí… a minha vida dava uma verdadeira comédia trágica, se é que isso existe.
Sou é de facto tentada a pensar que na volta sou eu que me estou a transformar numa cabra e não sei (perdoem-me a expressão, que agora nem me reconheço, mas esta é a melhor forma de exprimir o que vai cá por dentro).

domingo, 16 de março de 2008

Fred Williams, Riverbed, pormenor, 1978.

O dia nasceu lá fora, o sol, o calor, as flores dos pinheiros a rebentar em enormes bolhas de pó, os tojos pintam a paisagem de amarelo, as andorinhas chilreiam… inspiro profundamente, agora com os canais todos desobstruídos, o ar entra profundamente, fecho os olhos e tudo parece tão mais simples… o mar verde deixa-se tocar na borda da areia da praia, e o iodo espalha-se em volta.
Apeteciam-me férias, uns dias de descanso.
Calor e praia, tirar a roupa, deitar sobre a toalha e ficar a ouvir os silêncios da praia, ao sol. Levantar e mergulhar no mar, voltar depois…
Sentar na esplanada de uma praça histórica de uma cidade cosmopolita e bonita, a estalar de calor e brisa fresca, saciar a sede numa bebida fresca, e trocar palavras com desconhecidos.
Subir uma montanha, mochila às costas com o farnel para dois dias e perder-me na imensidão do mundo, no ventre da natureza.
Posto isto e depois de umas semanas frenéticas, chegar ao dia de hoje e levantar sem ter de fazer nada é um pequeno milagre (possa embora, se quisesse, fazer muita coisa que há para fazer).
Apetece-me vegetar, aqui à mão, frente ao mar, colocar os óculos de sol e ler mais umas páginas de um livro, deixar-me existir nestas horas vagas de tempo e de presenças até ao fim do dia.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Claire Hervey, Easily removable-people, 2007

Hoje compreendo que certos percursos também esgotam e desgastam, que certos caminhos não correspondem às expectativas, não levam onde queremos ir.
Compreendo que quando não conseguimos ou não sabemos que outro caminho tomar, inventamos conflitos que hão-de ser o derradeiro motivo para provocarmos uma ruptura e a partida para fora do trilho, para finalmente enveredar pelo meio do mato.

Como se não fosse possível partir sem quebrar todos os laços, sem sentir culpa… como se houvesse que sentir culpa ou remorso…

Assim inventamos uma série de queixumes e insatisfações para provocarmos a derradeira ruptura e partir sem culpa. Ou deixar partir. Ou provocar partidas…
Que outro motivo poderá haver para tantas amputações denunciadas, para tantas queixas e insatisfações, para tantos conflitos…?

Claro que pelo meio de silvados e tojos muita pele se rasga e sangra, muita dor… mas o caminho faz-se caminhando, faz-se abrindo veredas e procurando por clareiras e trilhos, renascendo.

Os dias são quase como viver numa selva na qual o mais pequeno insecto pode matar, mas uma fonte inesgotável de vida e possibilidades para além da sobrevivência, uma fonte inesgotável de caminhos e de lugares onde chegar.

Sempre vivi com o que me era dado, na plena consciência das possibilidades, e sempre me ofereci, tudo o que eu sou e tenho, sempre me dividi com todos os que me rodeiam. É nisto que acredito e é isto que me trás alguma felicidade pura: repartir-me e o pouco que tenho, qualquer caminho que tome, e a cada gota de sangue que os tojos e as silvas me roubam, eu deixo, não cobro, não me queixo e não peço de volta.
Temos a mesma capacidade que o corpo, o sangue e a pele: a de nos renovarmos e ganharmos mais para dar, para quem quiser receber, na justa medida e proporção que tivermos que repartir para dar…

… “quem semeia ventos colhe tempestades”… lamentavelmente.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Apenas vestígios, das carícias, das ondas que vieram e voltaram ao leito.
Vestígios inanimados que o vento há-de apagar.
E amanhã, a maré.
Efémero.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008


Turismo social e água benta...
Alguém dizia hoje durante o almoço que este ano iria dedicar 100% do tempo das suas férias à solidariedade.
Então era assim: viajar para um país africano para trabalhar gratuitamente a construir escolas, bairros sociais, hospitais, etc..
Para isso pagaria entre 1500 e 2000 euros para viajar, ficar instalado num hotel qualquer em regime de meia pensão e trabalhar no duro, todo o dia durante 15 dias, na construção de escolas para as criancinhas pretas pobrezinhas…

Não querendo roçar a indelicadeza, isto faz-me lembrar qualquer coisa: os profundos beatos e beatas que vão fervorosamente à missa de Domingo, passando primeiro pelo Sr. Padre para fazer a confissão dos pecados semanais, mostrar arrependimento, receber a penitência e alcançar a absolvição. Hora e meia depois voltam leves e descansados a casa, e na segunda-feira voltam à labuta dos pecados na que se hão-de acumular até ao Domingo seguinte.

Ora, eu não acho que não se deva ajudar os países africanos. Acho que toda a ajuda é pouca. Mas também acho que devemos ajudar da melhor forma que soubermos e formos úteis, com seriedade.
Tenho a certeza que, por metade desse dinheiro (ou menos, se considerarmos a diferença do valor do trabalho em Portugal/África) os pedreiros africanos fariam bem melhor e ainda estaríamos a contribuir para a melhoria das condições sociais e económicas naquele continente, gerando emprego e potenciando o desenvolvimento sustentado.
Acho ainda maior a hipocrisia quando se sabe que a uma boa metade destas pessoas bastava-lhes esticar o braço e dedicarem 3 horas da vida delas, semanalmente ou de quinze em quinze dias, a ajudar outras pessoas, nas suas áreas profissionais ou simplesmente com trabalho indiferenciado, para mudarem significativamente a vida de muitos portugueses.
Sim, porque Portugal também precisa de solidariedade, muitas vezes bastam duas ou três horas do nosso tempo, e de pequeno gesto em pequeno gesto vamos conseguindo mudar a cores da paisagem que nos rodeia.
Muitas vezes a necessidade mora ali ao nosso lado, mas nós vamos para África... Ora muito bem! que é como quem diz, "chica esperteza saloia"! (para não dizer outra coisa).

domingo, 20 de janeiro de 2008


Há pouca coisa que chegue a estes momentos de encontro, manhã dentro, ao longo da linha do mar. Há muito tempo que não o fazia.
Às vezes temos quase tudo dentro de nós. Só não passamos tempo suficiente connosco para o descobrir, até porque o processo é angustiante e penoso, e o sofrimento afasta-nos das questões cruciais.
Depois de nos reconciliarmos estamos prontos. Prontos para os dias, prontos para os outros. De resto, sempre foi aquilo que realmente senti que valia a pena. Os outros.
E a simplicidade dos dias de sol.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Há 74 anos atrás, na madrugada do dia 18 de Janeiro de 1934, iniciavam-se os preparativos daquele que foi o único movimento de revolta contra a Ditadura Nacional realizada exclusivamente pela massa operária, sem qualquer apoio da frente militar ou politica de então.
A jovem república, ao fim de 16 anos de vários governos e parlamentos, que mais não souberam senão esgotar-se e digladiar-se em ataques políticos e pura retórica, cedo foi esmagada por uma novo regime, matreiro e pragmático, que criaria condições à instauração do famigerado Estado Novo.

Portugal estava mergulhado numa crise económica grave motivada quer pelas várias crises europeias da última década, quer por um défice público muito acentuado. A indústria não ia bem, e os operários, que até aí tinha conseguido uma magra diminuição das horas de trabalho, alguns direitos sociais (providência) bem como o direito à greve e à livre associação, começavam a pagar a factura por todos os erros de governação do Estado, da crise Europeia e da diminuição do lucro dos seus patrões, entre outros.
É neste clima de instabilidade e de grande mau agoiro que surge o “salvador”: Oliveira Salazar, que milagrosamente e à custa de “muitos sacrifícios” e artimanhas orçamentais, legislativas e constitucionais, engendra um “pacote de medidas” para salvar o país do défice e da miséria.
Na altura valiam-lhe as colónias (hoje parece que nos vale a Europa).
Uma dessas medidas foi a corporativização dos sindicatos, a proibição do livre associativismo, promovendo uma outra forma de associação de classe que congregasse os interesses dos operários com os dos patrões sob a vigilância e orientação do Estado.
Houve outras: a censura, a policia politica, a nova constituição, o novo Estatuto Nacional do Trabalho, a Mocidade Portuguesa, as colónias penais (campos de concentração para presos políticos), etc, etc, etc.

Ora, os operários, que assistiam à degradação das suas condições sociais e à diminuição da sua liberdade individual, verificaram logo que juntar patrões e operários no mesmo saco não era bom, e muito menos era não poderem associar-se e elegerem livremente os seus representantes, entre outras coisas.
Resolveram então levar a cabo a maior Greve-Geral que o pais já vira.

Para isso, de norte a sul deveriam organizar-se para tomar de assalto e controlar tudo quanto eram vias e meios de comunicação, assim como neutralizar policias e militares, para que no dia seguinte os operários tivessem condições para virem para a rua fazer a greve.
Em muitos locais chegaram a faze-lo, de forma mais ou menos pacifica, do Algarve até Braga, destacando-se alguns locais onde a revolta foi mais significativa: Silves, Barreiro, Almada, Lisboa e Marinha Grande.
Porém, sem o apoio das forças militares (que era para ter acontecido e não aconteceu) e feridos de morte devido à captura, dias antes e na véspera, de alguns sindicalistas cabecilhas do movimento, a revolta fracassou.
Salazar foi implacável na repressão desta revolta e a provar isso mesmo foram as penas pesadíssimas aplicadas aos revoltosos: vários anos de prisão, com degredo ou desterro, nos Açores, no Tarrafal (onde muitos perderam a vida mercê de condições de vida degradantes), e em Peniche, perda de direitos políticos, famílias na miséria, etc.
A grande maioria destes homens tinha entre 20 e 30 e poucos anos, e deixaram para trás pais, mães, mulheres e filhos...

74 anos depois há que fazer uma grande e justa homenagem aos milhares de operários que tiveram a audácia de se insurgirem contra a perda de direitos, contra a degradação das condições de vida e direitos laborais, contra a degradação do sistema social, contra a perda de liberdade, contra uma constituição autocrática que não servia a liberdade e a democracia, contra a censura, contra as assimetrias sociais, etc., etc., etc.

Muitos dstes operários eram analfabetos. Mesmo que soubessem ler, não tinham dinheiro para comprar o jornal. Estes operários tinham famílias numerosas que dependiam do seu trabalho e sabiam que uma insurreição desta natureza iria significar represálias, fossem ligeiras ou graves, dos patrões e do Estado. Estes operários, ainda “toldados” pelo medo e superstição, viviam debaixo da Igreja Católica Apostólica Romana que sempre jogou a favor destes regimes...

74 anos depois a história volta quase a repetir-se: O défice, o apertar o cinto, o fecho dos centros de saúde, maternidades e hospitais, e a privatização destes serviços fundamentais do estado; as perseguições aos professores e ao ensino público em particular, aos funcionários públicos e aos seus salários, a ascensão e grande influência do capital especulativo sobre o poder executivo e legislativo, e agora a tão falada (que hoje não se ouvia outra coisa) nova lei para eleição e representação politica local, a tão falada revisão constitucional para tornar a constituição mais permeável ao interesses económicos e políticos, o novo projecto europeu que agora não se chama constituição mas que na prática é a mesmíssima coisa, tirando um ponto ou outro…
Dá vontade de dizer (que pensar já eu penso) que 74 anos depois precisávamos cá dos homens do 18 de Janeiro de 1934 para nos dar um xuto no cú e nos porem a tratar de um novo rumo para o país, mais justo e mais social.
...e não nos esqueçamos, p.f., das raposas matreiras, paternalistas, patrióticas, de voz fininha e bem falantes, que nos tentam "atirar areia para os olhos".

domingo, 6 de janeiro de 2008




Eu até era capaz de vomitar o mundo num esgar, sem piedade, mas a verdade é que não me levo a sério, nem posso, e também sei que há três segundos atrás eu não era eu.





Os videos são da exposição de Xana O Falso Diário de A.B., patente na Central Tejo - Museu de Electricidade, de Julho a Setembro de 2007.

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Sombras . Junho. 2007


as pessoas que andam na rua são feias
não porque sejam feias, mas porque andam tristes

a infelicidade cava-lhes sulcos na cara
apaga-lhes a luz do sorriso
e os olhos andam murchos e secos

as pessoas andam feias na rua e não se percebe até onde vai a infelicidade
se lhes entrou nas casas
se se deitou nas suas camas
se se instalou no peito
e não há nada mais triste que um coração feio