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quinta-feira, 23 de abril de 2009
À Musa
Quando, à noite, espero a tua chegada, a vida parece-me suspensa por um fio.
Que importam juventude, glória, liberdade,
quando enfim aparece a hóspede querida
trazendo nas mãos a sua rústica flauta?
Ei-la que vem. Soergue o seu véu,
olha para mim atentamente.
E lhe pergunto: ‘Foste tu quem a Dante
ditou as páginas do Inferno?’. E ela: ‘Sim, fui eu’.”
Anna Akhmátova
segunda-feira, 19 de janeiro de 2009
Vinte e um. Segunda-feira. É noite.
No escuro uns contornos de cidade.
Algum vagabundo escreveu
Que na terra pode haver amor.
E por tédio ou preguiça,
Todos acreditaram e assim vivem:
Esperam encontros, temem adeus
E cantam canções de amor.
Mas a outros revela-se o enigma,
E o silêncio repousará sobre eles…
Descobri isto por acaso
E desde esse momento sinto-me mal.
Anna Akhmátova
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Silvia Levenson
It's Raining Knives
1996-2004, cast glass, artificial grass, nylon line.
Probably much still remains
To be celebrated by my voice:
That which, wordless, rubles around,
Or in darkness grinds stone underground,
Or makes its way through smoke.
I haven’t yet closed my accounts
With flame and wind and water…
Because of that, my drowsiness
Suddenly flings wide such gates to me
And leads beyond the morning star.
1942
Tashkent
Anna Akhmátova
domingo, 10 de fevereiro de 2008
terça-feira, 5 de fevereiro de 2008
Esta semana, numa das minhas deambulações e intermezzos à espera de um determinado tempo, então a fazer tempo e não querendo perder gota dele, entrei numa livraria.
É em locais como este que ultimamente, quando posso, me perco e invisto o meu tempo, que de outra forma sairia desperdiçado.
Agora pareço até ter tempo para me perder assim, porque o encontro com a literatura (como com a música – não tanto as artes plásticas, embora, por vezes, também aconteça) é mais intenso e verdadeiro quando só, com tempo, porque é preciso fazer um intervalo com um princípio e um fim para entrar numa livraria e pegar em livros, sem necessidade de dar atenção a mais nada senão às palavras e lá no subconsciente às horas que ainda hão-de vir, lá ao longe. Ou então não é preciso nada disto, mas apenas estar, inteira, e receptiva.
Encontrei num escaparate uma pequena antologia de poesia russa, editada pela Relógio d’Água.
Há já algum tempo que andava encantada com as obras de alguns poetas russos, nomeadamente o Maiakovski (a razão da minha procura por mais), o Pasternak e a Anna Akhmátova, razão pela qual trouxe o livro para casa.
No fim-de-semana calhou, por entreposta pessoa, conhecer alguém que também partilha do gosto pela poesia russa e que tem várias obras traduzidas para o Inglês e Francês. Foi assim que me vi com as obras completas de Anna Akhmátova nas mãos, numa edição em inglês, à qual me rendi e me entrego sem reserva.
Na verdade, tenho de confessar que não gostei da antologia que comprei, muito menos da tradução, razão pela qual vou partilhar alguns dos poemas que vou gostando, numa língua que não é a minha, mas que tomo de empréstimo sempre que necessário (não me atrevo a traduzir porque não sei. É preciso saber-se.).
I live like a cuckoo in a clock,
I’m not jealous of the forest birds.
They wind me up – and I cuckoo.
You know – such a fate
I could only wish
For someone I hate.
March 7, 1911
Tsarskoye Selo
I wept and repented.
If only thunder would burst from the skies!
My heavy heart was exhausted
In your inhospitable house.
I know the unendurable pain,
The shame of the road back…
Terrible, terrible, to return
To the unloved one, the silent one.
If I bend over him, beautifully dressed,
Necklaces ringing –
He’ll only ask: “My incomparable beauty!
Where were you praying for me?”
É em locais como este que ultimamente, quando posso, me perco e invisto o meu tempo, que de outra forma sairia desperdiçado.
Agora pareço até ter tempo para me perder assim, porque o encontro com a literatura (como com a música – não tanto as artes plásticas, embora, por vezes, também aconteça) é mais intenso e verdadeiro quando só, com tempo, porque é preciso fazer um intervalo com um princípio e um fim para entrar numa livraria e pegar em livros, sem necessidade de dar atenção a mais nada senão às palavras e lá no subconsciente às horas que ainda hão-de vir, lá ao longe. Ou então não é preciso nada disto, mas apenas estar, inteira, e receptiva.
Encontrei num escaparate uma pequena antologia de poesia russa, editada pela Relógio d’Água.
Há já algum tempo que andava encantada com as obras de alguns poetas russos, nomeadamente o Maiakovski (a razão da minha procura por mais), o Pasternak e a Anna Akhmátova, razão pela qual trouxe o livro para casa.
No fim-de-semana calhou, por entreposta pessoa, conhecer alguém que também partilha do gosto pela poesia russa e que tem várias obras traduzidas para o Inglês e Francês. Foi assim que me vi com as obras completas de Anna Akhmátova nas mãos, numa edição em inglês, à qual me rendi e me entrego sem reserva.
Na verdade, tenho de confessar que não gostei da antologia que comprei, muito menos da tradução, razão pela qual vou partilhar alguns dos poemas que vou gostando, numa língua que não é a minha, mas que tomo de empréstimo sempre que necessário (não me atrevo a traduzir porque não sei. É preciso saber-se.).
I live like a cuckoo in a clock,
I’m not jealous of the forest birds.
They wind me up – and I cuckoo.
You know – such a fate
I could only wish
For someone I hate.
March 7, 1911
Tsarskoye Selo
I wept and repented.
If only thunder would burst from the skies!
My heavy heart was exhausted
In your inhospitable house.
I know the unendurable pain,
The shame of the road back…
Terrible, terrible, to return
To the unloved one, the silent one.
If I bend over him, beautifully dressed,
Necklaces ringing –
He’ll only ask: “My incomparable beauty!
Where were you praying for me?”
1911
domingo, 3 de fevereiro de 2008
N.P.
And that heart no longer responds
To my voice, exulting and grieving.
Everything is over… And my song drifts
Into the empty night, where you no longer exist.
1953
Anna Akhmatova
.
So many stones have been thrown at me
That I’m not frightened of them anymore,
And the pit has become a solid tower,
Tall among tall towers.
I thank the builders,
May care and sadness pass them by.
From here I’ll see the sunrise earlier,
Here the sun’s last ray rejoices.
And into the windows of my room
The northern breezes often fly.
And form my hand a dove eats grains of wheat…
As for my unfinished page,
The Muse’s tawny hand, divinely calm
And delicate, will finish it.
June 6, 1914
Slkepnyovo
Anna Akhmatova
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