quinta-feira, 17 de maio de 2007

Frasco vazio

Desenho de Luis Soares, Vermelho.

Sinto-me mais só do que alguma vez senti, porque se pode estar só e ainda assim sentir que nos compreendem, e assim sentir que se vive uma solidão acompanhada. Mas não.
Também é disso que se trata o amor: compreender, acompanhar, amparar, partilhar, apoiar.
Não me sinto infeliz, nem amargurada. Na verdade não sinto nada… de bom ou mau. Estou num limbo quente de Primavera.
Sinto-me sozinha, como se estivesse dentro de um frasco de vidro transparente, cristalino, e à distância do meu braço e mão, mas não a suficiente, estivesse todo o doce que alguém alguma vez pudesse querer.

O frasco não existe. O doce também não. São imagens. Eles são apenas uma metáfora… que tu jamais compreenderás.

Essas paredes que impedem que mergulhemos são feitas da tua incompreensão pelo meu mundo. O vazio, este vácuo que se criou entre as paredes e a pele, os valores que simplesmente construí e interiorizei ao longo desta breve existência, que não se deixam corromper e apagar pelo contraditório, como desejas.

Sempre vivi um pouco dos outros, do contágio da felicidade dos outros, daqueles que amo, e sempre me conheci a abdicar de algumas coisas que queria, por sentir que outras fariam a diferença para alguém e que essa felicidade me contagiaria. Essa felicidade contagiante, que vem de fora é essencial à minha sobrevivência, porque a interior é-me insuficiente, um pouco como a tua felicidade me é importante, razão pela qual entendo que se não és feliz com o que sou, nos devemos deixar ir por caminhos diferentes.
Ter alguém ao lado cujo amor é exigente ao ponto de não partilhar, não me fará nunca inteira. Acho que se morre todos os dias um pouco mais do que seria normal quando se vive como um objecto de adoração e posse exclusiva, um objecto material.
Deus…
Eu só gostava de te chapar estas coisas na cara, abrir-te a cabeça e enfia-las lá dentro! Fazer-te compreender!

Um comentário:

Teresa Durães disse...

faz isso (diz). ninguém tem o direito de exigir o que não somos. demorei a aprender a dizer 'NÃO' mas aprendi.

quando souberes vais reparar que mais depressa sai a tristeza e melhor pensas de ti. porque é necessário ser-se inteira (também demorei uns anos a chegar a esta conclusão!)

bj