Chegar às 22h30 junto do carro e perceber que nos fecharam num parque de estacionamento deserto, numa cidade que não é a nossa.
A acrescentar a isso o parque, deserto, é um adro de uma Igreja, aterrador, explorado por uma Paróquia.
A acrescentar a isso não há contactos nenhuns para onde se possa pedir “socorro, preciso sair daqui”, nem nsequer no ticket de pagamento do parque (porque se paga logo à entrada) - há um hiorário afixado num local que não se vê... a menos que nos apontem.
Encontro alguém que me dá o número de telemóvel do padre, a quem ligo, e que me diz, com todas as palavras, numa dicção perfeita, que eu bem que podia passar a noite dentro do carro porque o senhor não ia fazer 20Km para me abrir a corrente;
A acrescentar a estas declarações simpáticas e humanas, que ninguém tinha nada que me dar o número de telemóvel dele – “…e quem é que foi? Hein? Quem é que foi?”;
A acrescentar a isso, e depois de umas trocas amistosas de palavras, o padre manda-nos para uma morada onde não mora ninguém e onde era suposto morar quem nos fosse soltar…
Por fim, ligar à polícia…
Esta foi a única coisa que, surpreendentemente, salvou a noite, ou me livrou de passar a noite dentro do carro até a abertura do parque de manhã. Lá foram os agentes da PSP que, pacientemente e diligentemente, nos localizaram e foram buscar quem nos abrisse a corrente, e segundo os quais este episódio acontece amiúdas vezes…
Este é o exemplo de país que temos:
- Pagamos, e ainda somos achincalhados e desconsiderados;
- Pagamos, e em vez de olharem por nós, fazem-nos o pior;
- Pagamos, e quem, supostamente, deveria sentir um laivo de solidariedade e humanidade, soterra-nos de pedras e engana-nos;
- No fim, felizmente, vêem até nós duas almas caridosas que, cansadas de conhecer a situação e de perceber a injustiça, sem nada poder fazer, nos dão a mão e nos ajudam;
Caso para dizer que, naquela cidade, a PSP é amiga!
…e não. Não é mentira. É a mais pura verdade.