domingo, 24 de maio de 2009

Václav Cigler
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Não tenho nada a dizer.
Custam-me as palavras de tanto que elas embatem contra. Um vidro transparente.
Tanto quanto eu embato e me magoo.
Magoa-me este vidro transparente que não sei se deturpa, se espelha, se me deixa ver, além. Que me separa do outro lado onde quero chegar, onde teimosamente, involuntariamente continuo a querer chegar.
Às vezes não tenho palavras, tanto quanto não tenho braços. Enterro-os.
Tanto quanto cavo o buraco fundo onde em vão enterro esta matéria do peito que revolve e se diminui a não ser.
Às vezes é difícil caminhar.
Sem ar.
Cega.
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2 comentários:

clic disse...

Queria falar de Tempo mas só me ocorre isto, que acho que é de Mia Couto: "A vida é infinita. Mas nada é tão enorme quanto a morte."

GRAFIS disse...

a vida pode ser quase tudo o que quisermos. é dessa forma que entendo a infinitude dela.
já a morte, sim. nada é tão definitivo e grande. a única certeza que nenhum vidro pode deturpar.
mas nem sempre a vida é como queremos, no momento que vivemos. o que não quer dizer que não venha a ser, porque será, creio que será. até lá o processo pode não ser fácil, mas todos os nãos nos fortalecem em Fé, assim como os sins nos consolidariam.
já na vida que vamos tentado construir, no tempo presente, às vezes o caminho que vemos é apenas um reflexo.
um que, não sendo caminho, o Tempo inevitavelmente apagará, para um dia nos deixar ser, noutro momento, noutro lugar, porque é urgente VIVER.