domingo, 25 de janeiro de 2009

Luciano Fabro


As noites de insónia são dilacerantes.

Chove, o céu a ferro e fogo, rugidos incomensuráveis como bombas implodidas dentro do peito. Anseio por um primeiro raio de sol, um que nos há-de resgatar às horas vazias e à noite.
Nesta espera, transição, metamorfose, as palavras fazem-me companhia. Não me embalam, mas também não me despertam ainda mais.
Estão, como por vezes precisamos, que estejam, apenas, até ao dia seguinte.



Há um comboio iluminado no meu cérebro cheio de túneis e noites
Uma ideia que passa cheia de janelas intermitentes como pirilampos transformados
Borboletas rápidas – há esta paisagem respirando

Pensativamente entro na viagem visível de uma intuição premeditada:
Que diferença faz à posição do meu corpo a rotação da terra? Vivo
Num único lugar

Às vezes ando descalço por uma linha encerrada
No corpo
Encostado ao ferro arrefecido pelas estações que passam. Pouca terra
Lhe é dada para poder germinar. Dentro da terra

Ou de uma veia cortada.
Faço às vezes o trajecto inverso do sangue
Medito encostado às pulsações mais amadas. Pouca terra me foi dada
Para calar sempre. E amo
Anónimo a luz transitória. O pulso interno de uma luz intermitente.

Daniel Faria – Do Sangue - Poesia, Lisboa, Quasi, 2003.



Agora, que o dia veio, abafando a escuridão, vou ver se encontro os meus passos marcados na areia, ver se vejo um caminho qualquer, um que a chuva não apague, ou as ondas a mergulhar na praia, um ponto de referência, ou o norte.

2 comentários:

S-Kelly disse...

Sempre o Norte como ponto principal numa bussúla, como ponto orientador para as nossas vidas... E porque não o Sul?

Boa escolha, a da música! ;-)

Um abraço

GRAFIS disse...

Porque é para norte que aponta a estrela, a norte no céu, mesmo quando todos os outros sistemas falham.
:)
A música é linda.
AB GR