sábado, 3 de janeiro de 2009


Paul Graham, Coins on Shelf


Agora, estou verdadeiramente só. Pensei.

E respirei fundo ao mesmo tempo que enfrentava a sinuosa auto-estrada e a tempestade que me acompanhou até casa.
É assustador estar só. É inevitável, mas é como escolhi estar. É como estarei.

O peso da noite abate-se sobre o carro. A chuva pesa toneladas de gelo. A viagem demoníaca.
Pesam-me as palavras, a raiva, o ódio apontados ao peito.

Poderia ser uma de duas pessoas:
Uma que mais uma vez se entrega, acreditando que tudo será diferente, mas igual, e daí não vem mal nenhum ao mundo, pois eu sou objecto de desejo, e enquanto ele for alimentado não vem mal nenhum ao mundo. Defeitos disfarçados por debaixo da pele. Objecto de arremesso, de quase auto-alienação só para agradar.
Uma com algum amor-próprio e amor ao outro, que por fim encara o inevitável, abrindo caminho a novas possibilidades e compatibilidades.

Escolhi-me.
E agora?
Agora repouso. Maturarei a espera necessária, até porque a carne está tão aturdida que precisa de descanso, de tempo, e um dia pode ser que surja uma grande paixão, uma cuidadosamente construída, uma que me conheça por dentro e por fora, e me compreenda, uma que eu consiga compreender e corresponder sempre com o necessário, pelo menos o necessário, e poderá ser que ela faça abalar as estruturas do meu corpo, até ao meu mais íntimo e curar-me deste amorfismo recorrente.
Este é então o tempo da reconciliação de todas as coisas que me restam, para tentar reinventar um novo mundo, o meu mundo, esquecendo as palavras que me magoaram mais que tudo o resto nestes últimos anos.

Consta porém, que não passo de uma covarde, e de tudo o que há de mau, pois pouco me apetece repetir aqui as palavras que tenho ouvido vezes e vezes sem conta em todos os momentos em que eu não faço o que deveria fazer…
Num esgar negam-me até a possibilidade temporal da amizade… E eu a pensar que tínhamos construído algo sólido e bonito…
Essa não vai passar, nem com a minha boa vontade cristã que tudo perdoa… mas também, de nada vale para quem não percebe nada disto, nem de amor, quanto mais de Fé e de Deus.

E quando penso nas palavras… recordo-me que deveria afinal ter completado a frase de Nietzsche:

E que nostalgia é essa que desperta a visão de beleza? A de seres belos: julgamos que a eles deverá estar ligada muita felicidade. Mas aí é que está o erro.

E assim, como Kundera, eu prefiro os momentos de rara e genuína beleza que encontramos de quando em vez por aí, aquela que nos surpreende onde menos se espera, e a imperfeição de todos os seres genuínos, por pior que ela seja, desde que verdadeira (já esta não sei se seria a ideia de Kundera).

E é isto, em jeito de conclusão, que eu não escrevo mais uma linha sobre o assunto.