terça-feira, 24 de março de 2009




Somos Homens árvores-pontes, e estendemo-nos a partir do centro, em equilíbrio, esperando alcançar.
Um dia, quando menos esperamos, porque não esperamos nada, ou esperamos apenas que nada interfira no nosso caminho e nos perturbe, porque queremos permanecer sem pontes ou braças, em pousio, apenas crescendo para cima, para o sol, nasce-nos um rebento no tronco, frágil, tenro e verde. Ele cresce. O coração floresce.
É isso.
Esperamos chegar, aprofundar raízes, crescer, partilhar, fortalecer, permanecer.
E é assim que um dia conhecemos um lugar próximo dos sonhos, um lugar familiar, aquele que sempre sentimos necessário, sem o qual nada faz sentido, aquele que sentimos nosso, onde queremos ir e ficar.
Nasce-nos uma ponte, cresce. Uma ponte onde chegar.
Nasce-nos uma braça que se estende além, ao lado, para captar ao comprido a energia da luz solar e deixar a seiva correr até às raízes.
E assim, um dia, todo o nosso centro de gravidade se altera e começa a deixar-nos pender.

Somos construtores de pontes. Sabemos pouco de engenharia do coração, mas sabemos que uma ponte liga duas margens, se lança e sustem a partir de um lado apenas até certo limite, o do equilíbrio.

E há um dia em que nos questionamos até onde conseguiremos crescer, suportar a pendente sem perder o equilíbrio. O dia em que precisamos de perceber se temos do outro lado onde pousar. Perceber se a braça comprida que estendemos aguentará o peso ou se vai rasgar junto ao peito, e dividir-nos em dois.

E por vezes num dia percebemos que não há onde chegar, que vamos cair, e sustemo-nos com toda a força. Cortamo-nos a partir de fora, diminuindo o peso, aumentando a distância.
Levantamos as braças, sustentamos as pontes.

Doemos e saramos. O centro de gravidade voltará ao lugar antigo.

Um dia eu hei-de construir uma ponte e encontra-te a meio do caminho. Nesse dia deitarei fora todos os projectos e cuidarei apenas.
É para isso que somos construtores de pontes, jardineiros de árvores: para, a partir de um certo dia, cuidar.

Um comentário:

Anônimo disse...

grafis, lindo, lindo.. e lindo! :))
Um coração a florescer insiste em fazer crescer pontes e isso... é bom :)